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Por O Globo, com agências internacionais — Kiev

O Exército da Ucrânia anunciou, na madrugada desta quarta-feira, que retirou seus soldados de duas vilas na região de Kharkiv, no nordeste do país, alvo de uma forte ofensiva russa desde a semana passada. O recuo para posições estratégicas defensivas, aponta o comando militar, não configura uma retirada definitiva dos arredores da região, que continua cenário de duros combates entre os dois lados, embora a situação seja considerada "extremamente difícil". Diante da situação desfavorável, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, cancelou agendas internacionais, incluindo uma viagem na sexta-feira à Espanha, onde assinaria um acordo de segurança, e anunciou o envio de reforços para o front.

"Em algumas áreas, perto de Lukyantsi e Vovchansk, em resposta ao fogo inimigo e a um ataque de infantaria, nossas unidades manobraram em direção de posições mais favoráveis para salvar as vidas de nossos soldados e evitar perdas. A batalha continua", informou o Estado-Maior nas redes sociais. As duas vilas ficam ao longo das duas linhas de ataque russo na região — uma delas imediatamente ao norte de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia e principal base de operações na parte Oriental do país, e outra a dezenas de quilômetros a leste.

Avanço russo no norte de Kharkiv — Foto: Arte/ O GLOBO
Avanço russo no norte de Kharkiv — Foto: Arte/ O GLOBO

Oleksiy Kharkivskiy, chefe de polícia em Vovchansk, confirmou nesta quarta que forças russas tomaram posições em várias ruas da aldeia. “Combates ativos estão em curso” e a situação “é extremamente difícil”, disse em um vídeo publicado no Facebook, no qual se ouviam tiros ao fundo. Em meio a fortes bombardeios desde sexta-feira, quase todos os residentes de Vovchansk, que tinha uma população pré-guerra de 17 mil pessoas, fugiram, disseram as autoridades locais.

Oleh Syniehubov, chefe da administração militar da região de Kharkiv, disse nesta quarta que quase 8 mil civis foram retirados de aldeias e assentamentos nos arredores imediatos de Kharkiv, que têm sido alvo de bombardeios crescentes. A maioria dos deslocados internos são crianças, mulheres, idosos, pessoas com mobilidade reduzida ou com deficiência física.

Krystyna Havran, membro do conselho da aldeia de Lyptsi, cerca de 16 quilômetros a norte da grande Kharkiv, disse que tem lutado para remover os moradores nos últimos dias, à medida que os combates se aproximam.

— Ninguém imaginava que haveria uma ofensiva — disse ela ao New York Times.

Avanço mais lento

Com superioridade militar em quantidade de equipamentos e homens, a Rússia cruzou na semana passada a fronteira na região de Kharkiv, mas parece estar se movendo de forma mais lenta, segundo funcionários ucranianos e analistas militares ouvidos pelo jornal americano New York Times.

Na linha de frente da guerra na Ucrânia

Na linha de frente da guerra na Ucrânia

A avaliação tem como base mapas do campo de batalha compilados por grupos independentes que analisam imagens de combate. Esses mapas indicam que os soldados russos obtiveram um ponto de apoio nas vilas de Lukyantsi e Vovchansk nas últimas 24 horas, um índice menor do que o avanço anterior, quando capturavam até cinco por dia.

Apesar da pressão no front, a avaliação das autoridades ucranianas é de que Kharkiv não está sob ameaça de um ataque terrestre no momento. Mykola Bielieskov, analista militar do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos da Ucrânia, administrado pelo governo, disse que os ataques russos objetivam “incutir medo e fazer as pessoas fugirem das áreas urbanas da linha de frente”. Mas acrescentou que, para forçar a fuga dos 1,2 milhão de residentes de Kharkiv, a Rússia teria “de atacar sistematicamente a cidade – semanas de ataques”.

Segundo analistas, isso poderia explicar por que a Rússia está avançando para o norte de Kharkiv. Se as forças russas assegurarem posições numa aldeia como Lyptsi, poderiam atingir a cidade com fogo de artilharia. A Rússia também tem como alvo centrais elétricas e subestações na região de Kharkiv e outras áreas da Ucrânia desde março, como parte de uma campanha para cortar a eletricidade e dificultar a vida dos civis.

Pouco depois da confirmação do recuo pelas autoridades ucranianas nesta quarta, o Ministério de Defesa russo disse ter tomado o controle de duas vilas no nordeste, além da aldeia de Robotyne, na região sul. O ministério disse que, "assim como na véspera", as forças russas conseguiram "avançar em profundidade entre as linhas de defesa inimigas". Como Robotyne foi uma das poucas áreas recapturadas por Kiev na contraofensiva do último verão (julho a agosto no Hemisfério Norte), poderia ser um duro golpe no moral do Exército do país se ela voltar para as mãos de Moscou.

Avanço russo no front da Ucrânia — Foto: Arte/ O GLOBO
Avanço russo no front da Ucrânia — Foto: Arte/ O GLOBO

Alguns analistas acreditam que, com sua ofensiva no nordeste, Moscou tenta forçar a Ucrânia a desviar tropas de outras áreas da linha da frente, particularmente no leste, como em torno da cidade de Chasiv Yar, na região de Donetsk, onde a Rússia também avança, para defender as novas áreas sob pressão.

O Estado-Maior ucraniano afirmou que unidades militares iniciaram contra-ataques em Kharkiv e que as tropas russas estão sob fogo constante de artilharia e drones. Zelensky, que também cancelou sua agenda em Portugal, anunciou o envio de reforços ao nordeste após uma reunião com o comandante das Forças Armadas, Oleksandr Sirski.

"Forças adicionais estão sendo mobilizadas [a Kharkiv], e reservistas estão disponíveis", disse o porta-voz de Zelensky, Serguii Nikiforov, em um comunicado nas redes sociais.

Antony Blinken e Dmytro Kuleba depositam flores em memorial a soldados caídos na guerra — Foto: Sergei Supinsky/AFP
Antony Blinken e Dmytro Kuleba depositam flores em memorial a soldados caídos na guerra — Foto: Sergei Supinsky/AFP

A ida de Zelensky à Península Ibérica fazia parte da tentativa de estreitar laços com a União Europeia em um momento em que o bloco europeu analisa aprovar uma ajuda prolongada a Kiev. A cúpula do governo ucraniano tem pressionado aliados ocidentais a enviar equipamentos militares com mais rapidez. Em visita a Kiev na terça, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, admitiu que a demora prejudicou as defesas ucranianas, mas tentou reafirmar o compromisso com o país.

Em meio a críticas após sua aparição em um bar na capital ucraniana, na noite de terça-feira, onde subiu ao palco e tocou a música "Rockin' in The Free World" ao lado de uma banda local, Blinken anunciou nesta quarta um envio de ajuda militar no valor de US$ 2 bilhões (R$ 10,3 bilhões) para fortalecer as capacidades de defesa da Ucrânia. A verba é parte do pacote mais amplo, de US$ 61 bilhões (R$ 314,6 bilhões), aprovado pelo Congresso dos EUA recentemente.

O anúncio foi feito ao lado do ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, que afirmou que o país precisa “urgentemente” de mais sete sistemas de defesa aérea, dois deles apenas para Kharkiv. Ele também voltou a afirmar que Kiev precisa que os países aliados entreguem as armas prometidas com mais rapidez.

Ainda nesta quarta-feira, o chefe da diplomacia norte-americana afirmou que cabe aos ucranianos decidir se atacam o território russo, depois de a Rússia ter alertado o Ocidente sobre qualquer ataque com armas ocidentais.

— Não encorajamos nem favorecemos ataques fora da Ucrânia, mas, em última análise, cabe à Ucrânia tomar as suas decisões sobre como conduzir esta guerra — disse Blinken.

Ataques contra a Rússia

O Ministério da Defesa russo afirmou, em um comunicado, que conseguiu bloquear um ataque ucraniano com 17 drones que visavam alvos, incluindo alguns na região de Rostov, onde fica o centro de comando militar da operação contra a Ucrânia.

"Da noite para o dia, várias tentativas do regime de Kiev de realizar ataques terroristas contra alvos em território russo foram evitadas", disse o ministério em um comunicado.

Além de destruir drones em várias regiões fronteiriças da Ucrânia, os sistemas de defesa aérea russos interceptaram dez mísseis ATACMS sobre a península anexada da Crimeia, segundo a mesma fonte.

Novos mísseis ATACMS são as mais novas armas usadas pela Ucrânia contra a Rússia — Foto: Reprodução
Novos mísseis ATACMS são as mais novas armas usadas pela Ucrânia contra a Rússia — Foto: Reprodução

Na região de Rostov, dois drones atacaram um depósito de combustível, causando explosões, disse o governador local, Vasily Golubev, no Telegram. O ataque não causou nenhum incêndio e “ninguém ficou ferido”, segundo ele. (Com AFP)

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