O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, alvo de uma tentativa de assassinato na tarde de quarta-feira, voltou a pronunciar algumas frases, mas seu quadro de saúde permanece "muito grave", anunciou o presidente eleito do país, Peter Pellegrini, nesta quinta-feira. Médicos passaram cinco horas na sala de cirurgia durante a noite operando o político de 59 anos, que está "lutando pela própria vida". O suspeito, um escritor de 71 anos, foi acusado de "tentativa de homicídio" e teria premeditado o ataque. Diante do cenário, a atual presidente, Zuzana Caputova, e o presidente eleito pediram calma e a suspensão da campanha eleitoral da União Europeia (UE), cuja eleição para o Parlamento europeu ocorrerá em junho.
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— Ele consegue falar, mas apenas algumas frases — disse Pellegrini, do lado de fora do hospital Roosvelt em Banska Bystrica, no centro do país, onde Fico está sendo tratado. — Ele está muito, muito cansado. A situação continua muito crítica (...). Horas e dias muito difíceis aguardam o primeiro-ministro.
A diretora do hospital, Miriam Lapunikova, disse que Fico foi submetido a uma cirurgia de cinco horas, e confirmou um quadro "realmente grave". O premier permanecerá na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O vice-primeiro-ministro Robert Kalinak deu detalhes sobre a cirurgia e alertou para a gravidade dos ferimentos.
— Os médicos conseguiram estabilizar o paciente durante a noite — afirmou Kalinak, que também é ministro da Defesa, em uma entrevista coletiva. — Infelizmente, o estado de saúde ainda é muito grave porque os ferimentos são complexos.
Robert Fico foi atingido por cinco tiros na tarde de quarta-feira, após sair de uma reunião de Gabinete em Handlova, no centro da Eslováquia. Um disparo atingiu seu abdômen e outro, uma articulação no braço. Ele foi levado para um hospital da cidade e depois transferido de helicóptero para outra unidade, onde foi submetido à cirurgia.
Aos repórteres, o ministro do Interior, Matus Sutaj Estok, disse que o suspeito foi acusado de "tentativa de homicídio", afirmando que a ação teria sido premeditada. Estok descreveu o autor dos disparos como um "lobo solitário" e afirmou que ele não pertencia a nenhum grupo político. O atirador participou de protestos contra o governo e teria ficado irritado com a vitória no mês passado de Pellegrini, aliado de Fico.
— A polícia eslovaca está trabalhando com uma única versão do ataque e o suspeito é acusado de tentativa de homicídio com premeditação — disse o ministro. — Trata-se de um lobo solitário cujas ações foram aceleradas após a eleição presidencial, pois ele estava insatisfeito com o resultado.
Gesto de conciliação
A política da Eslováquia está dividida há anos entre os campos pró-europeus e os nacionalistas. Mas as últimas eleições foram fortemente influenciadas pela desinformação, acusações mútuas e ataques nas redes sociais. Diante desse cenário, o ataque contra Fico alimentou os temores de uma polarização maior ou até mesmo de mais violência — a poucas semanas antes das eleições para o Parlamento Europeu, no início de junho, em que se espera que os partidos de extrema direita obtenham vitórias importantes.
— Estou pedindo a todos os partidos políticos da Eslováquia que suspendam temporariamente ou reduzam consideravelmente sua campanha eleitoral europeia — disse o presidente eleito nesta quinta-feira, acrescentando que o país deveria evitar "mais confrontos".
Aliado de Fico, que assumirá o cargo em junho, Pellegrini fez uma declaração conjunta com a presidente que está deixando o cargo, Zuzana Caputova. Os dois representam campos políticos rivais, mas Caputova disse que eles queriam “enviar um sinal de compreensão nessa situação tensa”, enquanto pediu o fim do “círculo vicioso do ódio”.
No momento em que Fico foi atingido, o Parlamento estava reunido e, segundo a BBC, um colega de partido do premier gritou com os deputados da oposição, acusando-os de alimentar o ataque.
— O que aconteceu ontem foi um ato individual, mas a atmosfera tensa de ódio tem sido nosso trabalho coletivo — observou a presidente, afirmando que o ataque foi um "choque" para o país.
O líder do maior partido de oposição, o centrista Eslováquia Progressista, Michal Simecka, anunciou nesta quinta que seu grupo suspendeu a campanha ao Parlamento europeu e disse que apreciou o "apelo à reconciliação e o forte gesto político" das autoridades eslovacas. Segundo a CBS News, o Eslováquia Progressista e o Liberdade e Solidariedade, principais partidos de oposição, também cancelaram um protesto planejado para a semana que vem contra uma medida para reformar a radiodifusão pública, que, segundo os partidos, daria ao governo o controle total da rádio e televisão públicas.
Após condenar o ataque a Fico, Simecka instou a todos os políticos "que se abstenham de quaisquer expressões e medidas que possam contribuir para aumentar ainda mais a tensão." Na visão do analista político Miroslav Radek, o ataque corre o risco de causar “mais radicalização de indivíduos e políticos na Eslováquia”.
— Temo que esse ataque possa não ter sido o último — disse Radek à AFP.
Além de seu atual mandato como primeiro-ministro, Fico também esteve à frente do governo em outros dois períodos, entre 2006 e 2010 e de 2012 a 2018. Nos últimos meses, Fico provocou protestos em massa devido às suas mudanças controversas, incluindo uma lei de Comunicação que, segundo os críticos, prejudicará a imparcialidade da rádio e da televisão públicas.
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