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Por AFP — Londres

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, anunciou nesta quarta-feira a antecipação das eleições legislativas para 4 de julho, depois de ter solicitado e recebido a aprovação do rei Charles III para dissolver o Parlamento — o que deverá ocorrer no dia 30. O pleito estava previsto para antes do fim de janeiro de 2025 e, até o momento, o premier havia se limitado a falar em eleições “no segundo semestre” deste ano.

As boas notícias recentes no campo da economia e um provável sucesso em uma política de deportação — criticada por ativistas, mas popular entre conservadores — parecem ter sido o principal impulso para a decisão de Sunak, embora as pesquisas apontem que, depois de mais de uma década do Partido Conservador no poder, o Partido Trabalhista surge como grande favorito.

— Agora é o momento do Reino Unido escolher o seu futuro — anunciou Sunak, debaixo de chuva, às portas de sua residência oficial em Downing Street.

As pesquisas dão aos Trabalhistas, de centro-esquerda, cerca de 45% dos votos, bem à frente dos conservadores, relegados a entre 20% e 25%, e do partido anti-imigração e anti-clímax Reform UK (12%). Em um sistema de votação por maioria simples em cada um dos 650 distritos eleitorais do Reino Unido, esses resultados se traduziriam em uma grande maioria para o partido da oposição.

Analistas políticos, líderes da oposição e membros do próprio partido conservador ouvidos pelo New York Times afirmam que a montanha eleitoral a qual o premier deverá escalar é a do "Himalaia", a mais alta do mundo. O professor de Política da Universidade de Kent, Matthew Goodwin, que aconselhou o ex-premier Boris Johnson e outros lideranças partidárias, afirmou que o Partido Conversador pode sofrer uma derrota "ainda maior do que a que sofreram com [o ex-primeiro-ministro] Tony Blair, em 1997.”

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak — Foto: AFP
O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak — Foto: AFP

Outros são mais cautelosos, e citaram que, em 1992, o governo conservador do primeiro-ministro John Major superou um profundo défice eleitoral para obter uma vitória estreita e permanecer no poder. Desde que o partido venceu por uma vitória esmagadora nas eleições de 2019 com o slogan “Get Brexit done” (Faça o Brexit, em tradução Livre), os conservadores perderam o apoio dos jovens, dos eleitores conservadores tradicionais do sul e sudoeste da Inglaterra e, fundamentalmente, dos eleitores da classe trabalhadora das Midlands industriais e do norte do país, cujo apoio naquele pleito foi a chave para a vitória histórica de Johnson.

Depois de 14 anos de poder conservador — marcados nos últimos anos pelo referendo do Brexit, a pandemia do coronavírus, a crise do custo de vida, e pela sucessão de cinco primeiros-ministros em oito anos — muitos britânicos parecem determinados a virar a página e enviar o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, para o número 10 da Downing Street. O ex-advogado de 61 anos, em sua primeira declaração após o anúncio de Sunak, afirmou que as eleições são uma "oportunidade de mudança".

— Juntos podemos parar o caos, virar a página e começar a reconstruir e mudar o Reino Unido — afirmou o líder trabalhista.

Starmer, que aproximou o Partido Trabalhista do centro, sucedeu Jeremy Corbyn há quatro anos na liderança do partido, um defensor de uma ideologia mais esquerdista que sofreu um grave revés nas eleições legislativas de 2019. Se os Trabalhistas vencerem as eleições, o Reino Unido, outrora conhecido por sua estabilidade política, terá seis primeiros-ministros em oito anos, pela primeira vez desde a década de 1830.

Aposta de Sunak

Os números desastrosos das pesquisas para os conservadores aumentaram a pressão sobre o chefe de governo para convocar os eleitores para as urnas. Sunak tem apostado em êxitos econômicos conquistados nas últimas semanas, como a contenção da inflação, que chegou a 2,3% nesta quarta, a mais baixa em três anos, e o novo crescimento econômico. Há também as medidas no campo social, como a adoção de medidas para implementar o plano de expulsão de imigrantes ilegais para Ruanda. O premier pode estar calculando colocar os primeiros voos para o país no próximo mês, o que lhe permitira reivindicar progresso na diminuição do fluxo dos barcos que transportam requerentes de asilo.

Essa política, que em sumo envolve a deportação de requerentes de asilo para Ruanda sem primeiro ouvir seus casos, foi condenada por defensores dos direitos humanos e enfrentou uma série de desafios legais. Ainda assim, Sunak, filho de pais indianos que migraram há seis décadas para o Reino Unido, tornou-a uma peça central da agenda do seu governo, já que é popular entre a base política do Partido Conservador.

Esses sinais teriam sido o impulso para o passo dado, e o premier prometeu que lutará "por cada voto".

— Ganharei a sua confiança. E demonstrei que apenas um governo conservador liderado por mim, que não ponha em risco nossa estabilidade econômica alcançada com tanto esforço pode restaurar o orgulho e a confiança em nosso país — disse em seu discurso, listando o que considera serem grandes destaques da sua passagem pelo governo.

Analistas apontam que o anúncio surpresa de Sunak, de 44 anos, também não é totalmente inesperado. Nomeado ministro das Finanças em 2019 no primeiro governo de Boris Johnson, Sunak rompeu com o então premier em julho de 2022, que desatou a perda de apoio do gabinete e que, em última instância, forçou Johnson a deixar o poder em setembro do mesmo ano. O premier montou então uma candidatura agressiva para líder do partido, mas perdeu para Liz Truss, que teve uma passagem breve pelo cargo. Sunak venceu então uma disputada realizada, assumindo em outubro.

À frente do cargo, assumiu diversos problemas como desemprego, uma economia estagnada e taxas de juros crescentes. O tempo de espera para os serviços do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla em inglês), esgotado após anos de austeridade fiscal, prolongavam-se por semanas e meses. Ainda assim, conquistou alguns sucessos iniciais, além da economia novamente dar sinais de melhora, com um crescimento de 0,6%. Mas a janela para boas notícias também pode ser estreita: espera-se que a inflação volte a subir no segundo semestre deste ano, e a leitura de abril não foi tão baixa como os economistas esperavam.

Privadamente, nem todos os conservadores estão confortáveis com a jogada de Sunak. Um parlamentar confessou, sob condição de anonimato à BBC, que "simplesmente" não entende a decisão do premier, e ponderou por qual motivo ele não poderia ter esperado um pouco mais já que a economia começava a melhorar. Um ministro sênior, por sua vez, teria ficado "irritado" até mesmo com o cenário para a declaração do chefe de governo. Um Sunak encharcado pela chuva, enquanto os deputados trabalhistas estão felizes e os conservadores não, segundo o dirigente à rede de notícias britânica, "conta uma história".

'Todos querem mudanças'

Os conservadores sofreram sua pior derrota nas eleições locais em 40 anos no início deste mês, culminando com a vitória dos trabalhistas em Londres (com a reeleição do prefeito Sadiq Khan) e em outras grandes cidades, como Manchester, Liverpool, Leeds e Sheffield. Dos 344 deputados, mais de 60 desistiram de se candidatar. Além disso, a posição de Sunak está ainda mais enfraquecida pelas brigas internas dos conservadores.

Na mesma linha dos Trabalhistas, o líder do Liberais Democratas, Ed Davey, e o primeiro-ministro da Escócia e líder do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês), John Swinney, afirmaram que as eleições gerais são uma "oportunidade" de remover Sunak do poder. Swinney também denunciou que o premier britânico convocou as eleições durante as férias escolares, o que mostraria, nas palavras do premier e líder partidário, "o desprezo" que os conservadores têm pela Escócia, cuja união política com a Inglaterra, que criou o Reino Unido da Grã-Bretanha, data do século XVIII. Os partidos da Irlanda do Norte também se preparam para a campanha, que perdurará seis semanas.

— Todos querem mudanças — resumiu Samuel Sackie, contador entrevistado pela AFP nas ruas de Londres, apesar do fato de que os trabalhistas “não propõem realmente uma política diferente da dos conservadores”. (Com NYT e AFP)

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