Brasil e China apresentaram nesta quinta-feira uma proposta conjunta para as negociações de paz com a participação de Rússia e Ucrânia. O entendimento foi assinado após reunião em Pequim do assessor especial Celso Amorim com o chanceler da China, Wang Yi. É a primeira vez que a China assina um documento desse tipo com um terceiro país sobre o tema.
O principal ponto acordado é que a Rússia não pode ficar de fora de negociações para resolver o conflito. Uma conferência será realizada no próximo mês na Suíça sobre a guerra, mas o Brasil indicou que não deve participar porque a Rússia não foi convidada. O texto da proposta sugere que a China também não estará presente, apesar dos apelos do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que o país asiático participe do encontro marcado para 15 e 16 de junho na localidade suíça de Bürgenstock.
"Brasil e China apoiam uma conferência internacional de paz realizada em um momento apropriado, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes, além de uma discussão justa de todos os planos de paz", diz o documento, que também defende que haja esforços para aumentar a assistência humanitária e evitar ataques a civis.
No documento assinado, Brasil e China apelam às partes em conflito que respeitem três princípios para permitir a abertura de negociações: "Não expansão do campo de batalha, não escalada dos combates e não inflamação da situação por qualquer parte."
Segundo comunicado divulgado pela assessoria de Amorim, "as duas partes tiveram uma troca de opiniões aprofundada sobre a defesa de uma solução política para a crise na Ucrânia", enfatizando que "o diálogo e a negociação são a única solução viável para a crise". Rejeitam ainda o uso de armas de destruição em massa e afirmam que todos os esforços devem ser feitos para evitar uma crise nuclear.
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, a China tem mantido uma postura de defesa do diálogo, sem condenar Moscou pela violação da soberania do país vizinho. Pela parceria intensa e crescente com o Kremlin, a política de Pequim foi definida por alguns analistas como "neutralidade pró-Rússia".
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O documento assinado nesta quinta conclui com uma referência implícita à crescente rivalidade geopolítica que envolve o Ocidente de um lado e China e Rússia de outro. "A divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados deveria ser evitada", diz a proposta sino-brasileira, que pede novos esforços para reforçar a cooperação internacional em áreas como energia, finanças, comércio e segurança alimentar, "a fim de proteger a estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais."
Amorim chegou na quarta a Pequim para uma visita oficial a convite do governo chinês. A viagem vai até o dia 29 e incluirá, além da capital, as cidades de Xian e Xangai. Nesta sexta-feira, ele visitará em Pequim a gigante de tecnologia Baidu, para conhecer seu projeto de inteligência artificial. Em Xian, Amorim irá a uma instalação da fabricante de carros elétricos BYD. E em Xangai está prevista uma visita ao Banco dos Brics, que é chefiado pela ex-presidente Dilma Rousseff.
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