O Exército de Israel entrou com tanques no centro da cidade de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, nesta terça-feira, em meio às cobranças internacionais por um cessar-fogo após um ataque aéreo provocar a morte de dezenas de civis. A Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos no Oriente Médio (UNRWA) estima que 1 milhão de pessoas fugiram da cidade nas últimas três semanas, diante do avanço militar israelense. Líderes internacionais cobram um cessar-fogo na área.
Os tanques israelenses foram avistados perto da Mesquita al-Awda, um marco central de Rafah, disseram testemunhas ouvidas pela agência de notícias Reuters. Os militares israelenses não comentaram imediatamente a questão, dizendo que emitiriam uma declaração sobre a operação posteriormente. As Forças Armadas do Estado judeu também realizaram novos bombardeios contra a cidade.
— Não dormimos a noite toda porque aconteceram bombardeios por todos os lados. Tiros de artilharia e bombardeios aéreos — disse Faten Juda, uma mulher de 30 anos que mora no bairro de Tal al-Sultan, no noroeste de Rafah, alvo do ataque no domingo. — Foi horrível. Vimos todo mundo fugindo de novo. Nós também vamos partir, tememos por nossas vidas.
O ataque aéreo lançado no último domingo elevou a pressão sobre Israel a um dos mais altos níveis desde o começo da guerra. Autoridades palestinas e organizações internacionais que realizam ações humanitárias no território palestino afirmaram que o bombardeio foi realizado contra uma área para onde os próprios militares mandaram os palestinos se deslocarem. Israel contesta a versão, e diz que o ataque foi fora da zona humanitária demarcada. Nas redes sociais, o Exército publicou um mapa, mostrando onde teria lançado o ataque, fora da demarcação.
Os militares também justificaram que o ataque mirou alvos lícitos — um complexo de operações do Hamas —, utilizou bombas de precisão e matou dois altos funcionários do grupo palestino, incluindo o chefe do Estado-maior do Hamas na Cisjordânia. Em uma declaração nesta terça-feira, o contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz do Exército, afirmou que investigações iniciais apontam que incêndio que vitimou 45 pessoas e deixou 219 feridos (segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas), foi provocado por uma explosão secundária.
Hagari afirmou que duas bombas de 17 quilos foram disparadas contra alvos do Hamas, e que a munição empregada seria insuficiente para provocar o incêndio que se seguiu. O porta-voz levantou a hipótese de que uma segunda detonação, talvez de um armazém de armas e explosivos no solo, tenha provocado o incêndio que atingiu as tendas.
![Fumaça sobe em áreas de Rafah após bombardeios israelenses — Foto: Eyad Baba/ AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/_DaYgVDbIF80oJV4CbJxheFJ-LE=/0x0:5226x3484/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/O/j/H5yRE7SPqMFDk3Ahit1Q/107090161-smoke-billows-following-israeli-strikes-in-rafah-city-in-the-southern-gaza-strip-on-may-28.jpg)
Nesta terça, a Defesa Civil de Gaza afirmou que um novo bombardeio israelense deixou 21 mortos em um campo de deslocados em Rafah, embora o Exército de Israel negue ter realizado o ataque. Segundo o grupo Hamas, que governa o enclave desde 2007 , o novo ataque teria deixado ainda 64 pessoas feridas.
Desde domingo, a comunidade internacional vem expressando indignação com o bombardeio. O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta terça-feira em caráter de urgência a pedido da Argélia, membro não permanente do organismo.
A Casa Branca afirmou que ficou "impactada" com o ataque e pediu a Israel para "adotar todas as precauções para proteger os civis". A China expressou "forte preocupação" com as operações israelenses em Rafah. A ONU pediu uma investigação "completa e transparente" do bombardeio. O secretário-geral da organização, António Guterres, condenou a ação que, afirmou, "matou vários civis inocentes que apenas procuravam refúgio em um conflito mortal". (Com AFP)
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