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Por — São Paulo

Um estudo feito por sociólogos e cientistas da computação nos Estados Unidos mostra que a circulação de desinformação eleitoral no Twitter (hoje rebatizado como X) caiu para menos da metade em um grupo de usuários depois da suspensão do perfil do ex-presidente Donald Trump e de outras 70 mil contas que o ajudavam a espalhar informações falsas.

O trabalho, publicado nesta quarta-feira pela revista Nature, concentra-se no contexto de divulgação de "fake news" antes e depois dos protestos de 6 de janeiro de 2021, que deixaram cinco mortos e danos no Capitólio (prédio do Congresso), em Washington, com a invasão de manifestantes que tentaram impedir a formalização da vitória de Joe Biden.

O grupo de pesquisadores, liderado por Stefan McCabe, da Universidade George Washington, analisou uma amostragem de mais de 500 mil usuários do Twitter baseados nos EUA que postaram pelo menos um link com fake news durante as eleições de 2020 no país. A equipe inclui ainda o cientista político brasileiro Diogo Ferrari, da Universidade da Califórnia em Riverside.

Os pesquisadores mediram a disseminação de tuítes com links para informações comprovadamente falsas durante o ciclo eleitoral, um período de 150 dias que envolve os meses críticos da campanha, o dia da eleição e segue até um pouco depois da posse do novo presidente, em 20 de janeiro de 2021.

No trabalho, os cientistas apontam que 1.361 das contas monitoradas (cerca de 0,25%) estavam entre aquelas banidas ("desplataformizadas", no jargão da indústria tecnológica) entre 8 e 12 de janeiro. Esse minúsculo subgrupo de usuários foi responsável por cerca de 4% do conteúdo e por 24% da desinformação compartilhada dentro da amostragem. Cerca de 26% das pessoas do grupo total seguiam ao menos uma dessas contas removidas, o que os tornava vulneráveis a receber e repassar desinformação.

Após a remoção de contas, cerca de 2 mil tuítes e retuítes que elas compartilhavam com links para informações falsas deixaram de circular diariamente no Twitter. Entre o restante de usuários que não tinha sido banido, o número caiu de um pico de quase 6 mil tuítes nocivos em 6 de janeiro para cerca de 4 mil uma semana depois. Ao longo de fevereiro, o número continuou diminuindo até ficar em cerca de 2 mil por dia, quando o estudo foi encerrado.

Os números reais da queda na desinformação devem ser muito maiores que esses, já que a amostragem de 500 mil contas que os pesquisadores conseguiram monitorar é muito menor do que os 65 milhões que o Twitter afirmava ter entre usuários americanos em 2021, atingindo um quarto da população adulta dos EUA. Trump tinha mais de 80 milhões de seguidores quando foi banido, não se sabe ao certo quantos eram contas repetidas, usuários de outros países ou robôs.

Uma das dificuldades que os cientistas tiveram no estudo foi saber o quanto a redução de circulação de desinformação se deveu à remoção dos usuários que estavam associados a links maliciosos ou se houve fatores externos incentivando isso, como a própria cobertura que a mídia tradicional fez do evento.

— Uma forma que a gente encontrou para fazer isso foi comparar as contas que seguiam os usuários removidos com aqueles que não seguiam — conta Ferrari.

Segundo o pesquisador, ao olhar o comportamento anterior ao incidente no Capitólio, os dois conjuntos de contas tinham comportamento muito semelhante ao postar conteúdo sobre eleições com uma parcela de desinformação.

— O que aconteceu em janeiro de 6 de janeiro, depois da remoção de alguns usuários, foi que os seguidores daqueles que foram removidos diminuíram de forma muito mais significativa a quantidade de desinformação que circulava, do que os grupos que não seguiam esses usuários removidos.

O estudo mostrou, ao fim, que a suspensão de contas em redes sociais foi uma medida impactante no controle de disseminação de uma categoria de desinformação que teve consequências graves naquele ano.

"Os resultados informam o registro histórico em torno da 'insurreição', um evento importante da História americana, e indicam a capacidade das plataformas de mídias sociais de controlar tanto a circulação de desinformação quanto, de forma mais geral, o discurso público", escreveram McCabe e Ferrari com seus coautores no trabalho.

Controle do discurso

Uma descoberta secundária do estudo é que a decisão do Twitter de suspender contas teve um efeito dissuasivo na rede, porque muitas das contas que ainda estavam ativas e continuavam a espalhar informação falsa foram voluntariamente desativadas após os eventos de 6 de janeiro.

"Nosso trabalho reforça a ideia de que a intervenção do Twitter baseada em seus termos de uso provavelmente resultou em uma redução substancial no tráfego geral de desinformação", e "indica que a empresa teve algum grau de controle sobre a qualidade do discurso em sua plataforma", escrevem os pesquisadores, notando que após o bilionário Elon Musk adquirir a empresa e mudar seu nome a moderação de conteúdo foi muito reduzida.

Os pesquisadores afirmam que a ideia do estudo é, entre outras coisas, informar empresas de mídias sociais, agências reguladores, políticos eleitos e o público geral sobre o debate em torno da regulação do setor. Segundo Ferrari, um aspecto quem recebido pouca atenção nessa discussão é a questão da transparência.

Quando fizeram o levantamento que deu origem ao estudo, em 2021, o Twitter ainda concedia acesso livre a pesquisadores para sua interface de tipo API, que permitia analisar vastas quantidades de dados do site. Musk revogou esse acesso mais tarde, o que torna mais difícil pesquisadores e autoridades entenderem a dinâmica da informação dentro do site.

— O debate sobre a regulação atravessa muitas questões, não só a da quantificação. Quando você aponta onde a desinformação está, como é que você remove? Como é que você fiscaliza? Quem fiscaliza e quem define quais são os conteúdos que são que são considerados desinformação? — diz Ferrari. — Mas para tudo isso é preciso ter acesso à informação que é postada. E o Twitter, agora como X, restringiu o acesso de pesquisadores à coleta de dados de posts.

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