Uma placa em uma academia na cidade de Incheon, na Coreia do Sul, chamou atenção pelo seu conteúdo um tanto controverso. O aviso advertia que o estabelecimento era "proibido para ajummas", termo coreano que pode ser traduzido como "tia", em referência às mulheres de meia idade, mas que também é usado de forma pejorativa ao indicar comportamentos vistos como rudes ou desagradáveis. A placa concluía com a frase "somente mulheres cultas e elegantes são permitidas". As restrições desataram uma série de críticas e reacenderam um debate sobre a discriminação contra mulheres mais velhas no país.
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O nome do local não foi divulgado pela mídia sul-coreana, informou a BBC. Apesar das críticas, o proprietário (que também não foi identificado) defendeu o conteúdo da placa, afirmando que seu estabelecimento vinha "sofrendo danos" devido à essas mulheres e o seu comportamento.
— [Algumas clientes] passavam uma ou duas horas no vestiário para lavar suas roupas, roubavam itens como toalhas, sabonetes ou secadores de cabelo — disse em uma entrevista televisionada à agência de notícias sul-coreana Yonhap, citado pela rede britânica. — Elas se sentavam em um corredor e ficavam comentando e julgando o corpo de outras pessoas.
Ainda segundo o proprietário, muitas mulheres mais jovens teriam ficado incomodadas e desconfortáveis com os comentários e deixado a academia. O proprietário também argumentou que listou uma série de características que distinguem as "ajummas" e mulheres, entre eles que as ajummas tendem a "gostar de coisas gratuitas independente da idade" e que são "mesquinhas com seu próprio dinheiro, mas não com o dinheiro de outras pessoas".
Debate antigo no país
Apesar da placa ter sido posta por uma única academia, e do proprietário ter apresentado a lista, a mensagem reacendeu um debate no país, cujas lojas têm sido criticadas por proibir a entrada de crianças, idosos e até estrangeiros em determinados locais públicos. Parte da críticas mencionavam a intolerância contra grupos etários específicos, embora outros tenham criticado a academia por associar mau comportamento a mulheres de determinada idade.
"Como o termo 'mau cliente' se tornou o mesmo que 'ajumma'?", questionou um comentário no site local da mídia social Instiz, acrescentando: "Se você já trabalhou no setor de serviços, sabe que não são apenas as mulheres mais velhas que se enquadram nessas categorias." Outro comentário descreveu o conteúdo da placa como ultrapassado, afirmando que passa a "sensação do início dos anos 2000."
Mas nem todos também foram contra, com algumas pessoas associando mau comportamento à idade. "As senhora são irritantes... Ficam levando suas crianças aos restaurantes e cafés. Elas são distraídas e abusivas", escreveu um comentário no YouTube, também citado pela BBC.
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O proprietário afirmou que outros donos de lojas compartilham do seu sentimento, mas não se manifestaram. À agência cul-coreana, citada pela BBC, disse ainda acreditar que "as pessoas que se enfureceram [com a notícia] são, na verdade, as pessoas que têm problemas."
Há muito tempo, as mulheres no país têm lutado para quebrar padrões, como usar cabelos mais curtos, em uma sociedade cada vez mais rígida — embora, para os homens, as críticas e julgamentos por comportamentos semelhantes sejam raros. Segundo o professor de psicologia Park Sang-hee, em entrevista à rede de televisão JTBC, o destaque às mulheres era desnecessário, já que "homens mais velhos se comportam da mesma forma".
— Os homens mais velhos também são obcecados por coisas gratuitas e se repetem várias vezes. Os comportamentos rudes não são exclusivos das mulheres mais velhas — explicou o professor.
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