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Pela primeira vez desde a criação do G7, grupo formado por sete das maiores economias do mundo (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido ), em 1975, um Papa estará presente em sua cúpula anual, que este ano será realizada na região de Apúlia, no sul da Itália. Francisco foi especialmente convidado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, uma das principais lideranças da extrema direita europeia, com a qual mantém, segundo comentam jornalistas que cobrem diariamente o Vaticano, uma relação não apenas cordial, mas de simpatia mútua. O discurso do Papa é um dos mais aguardados e trará recados sobre um dos temas centrais da cúpula: os desafios da Inteligência Artificial.

Francisco fará um bate e volta à Apúlia nesta sexta-feira, onde, além de falar para grandes lideranças globais — entre elas o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o francês, Emmanuel Macron — terá encontros bilaterais. Uma das conversas já confirmadas será com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem, afirmou o embaixador brasileiro na Santa Sé, Everton Vieira Vargas, “existe uma enorme convergência de visões”.

— Ambos compartilham uma grande preocupação com questões como pobreza, combate à fome e proteção do meio ambiente. Outro assunto que preocupa o Papa é a reforma do multilateralismo, que hoje, para ele, não responde às necessidades das sociedades — explica o embaixador, lembrando que todos esses temas fazem parte da agenda da presidência brasileira do G20, o grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo, cuja presidência este ano é do Brasil.

Além de colocar sobre a mesa os desafios que a IA representa para o mundo, como já tem feito em outros foros, o Papa também deverá aproveitar seu encontro com os líderes do G7 para falar sobre temas como a guerra entre Rússia e Ucrânia, o conflito entre Israel e Palestina, e as dívidas de países em desenvolvimento, comenta o jornalista Iacopo Scaramuzzi, que cobre Vaticano no jornal La Repubblica.

— Para a primeira-ministra é um sucesso ter o Papa em seu G7, e para o Papa, é uma oportunidade de falar diretamente com os líderes que tomam decisões no mundo — aponta Scaramuzzi.

Consensos distantes

O jornalista italiano acha difícil que Francisco consiga obter consensos no debate sobre IA, já que existem diferenças expressivas entre os países do grupo. Em maio, o Conselho da União Europeia (UE) aprovou uma lei sobre IA considerada uma das mais abrangentes iniciativas de regulação da nova tecnologia. Com uma abordagem baseada nos riscos — quanto maior o risco de que uma atividade cause danos à sociedade, mais duras são as regras — a legislação europeia poderá estabelecer um padrão de regulação da IA. Já nos EUA o debate é ainda muito embrionário.

— O Papa Francisco vê na IA um potencial de desenvolvimento para a Humanidade, mas também uma ameaça do ponto de vista ético. Como uma voz global da moralidade, ele é a pessoa que pode criar consciência entre os líderes globais sobre os riscos que a IA representa, por exemplo, em matéria de fake news, ou quando é usada por lideranças de extrema direita em campanhas eleitorais — explica o jornalista do La Repubblica.

No belíssimo resort Borgo Egnazia, a cerca de 60km da cidade de Bari, o Papa e os líderes do G7 terão uma discussão inédita sobre o avanço de uma nova tecnologia sobre a qual o Vaticano não esconde seus temores. Francisco será o orador principal da sessão dedicada à IA, e para os que conhecem o pensamento do Papa sobre o tema, não são esperadas surpresas.

— O Papa vem falando sobre essa preocupação de que o homem não se torne um algoritmo, essa é a questão principal. É uma grande revolução tecnológica e comportamental, e o Papa quer mais uma vez colocar o homem no centro dessa revolução. Que o homem seja sujeito e não objeto dessa revolução. Como se faz isso? Com ética, com valores do homem, da Humanidade — afirma Silvoney Protz, responsável pela edição em português da Radio do Vaticano.

E acrescenta:

— A partir do momento em que o homem deixa espaço para a máquina, e a máquina toma o espaço do homem, perdemos uma visão de futuro enorme. A tecnologia dever servir ao homem, e não o homem à tecnologia —.diz.

Segundo Protz, o Pontífice “fala em regulamentação não para proibir, mas para que as novas tecnologias sejam bem utilizadas”.

Em sua mensagem intitulada “Inteligência Artificial e Paz”, para celebrar o Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro deste ano, o Papa afirma que “a Inteligência Artificial deve ser entendida como uma galáxia de realidades diversas, e não podemos presumir a priori que o seu desenvolvimento traga um contributo benéfico para o futuro da Humanidade e para a paz entre os povos. O resultado positivo só será possível se nos demonstrarmos capazes de agir de maneira responsável e respeitar valores humanos fundamentais como ‘a inclusão, a transparência, a segurança, a equidade, a privacidade e a fiabilidade’”.

Líderes do G7 reunidos para cúpula na Itália — Foto: Mandel Ngan/AFP
Líderes do G7 reunidos para cúpula na Itália — Foto: Mandel Ngan/AFP

'Ética e responsabilidade'

Na mesma mensagem, o Pontífice afirma que “não é suficiente presumir, por parte de quem projeta algoritmos e tecnologias digitais, um empenho por agir de modo ético e responsável. É preciso reforçar ou, se necessário, instituir organismos encarregados de examinar as questões éticas emergentes e tutelar os direitos de quantos utilizam formas de Inteligência Artificial ou são influenciados por ela. Assim, a imensa expansão da tecnologia deve ser acompanhada por uma adequada formação da responsabilidade pelo seu desenvolvimento... A Inteligência Artificial se tornará cada vez mais importante. Os desafios que coloca não são apenas de ordem técnica, mas também antropológica, educacional, social e política”.

Os mesmos tom e conteúdo são esperados no discurso de Francisco no G7, onde também estarão, além dos líderes dos países que integram o grupo e convidados, o secretário-geral da ONU, António Guterres; a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; representantes do FMI, do Banco Mundial e do G20. Entre os principais temas, além da IA, estarão questões da agenda econômica global, como a concorrência com a China, o desafio da segurança alimentar e da imigração.

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