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Por O Globo — Puglia, Itália

Um racha violento numa máfia pouco conhecida — mas poderosa — do Sul da Itália forçou a elaboração de um esquema de segurança especial para a recepção dos líderes das sete maiores economias do mundo em Puglia. As forças antimáfia têm intensificado os esforços contra três grupos mafiosos, ramificações da organização criminosa Sacra Corona, que disputam espaço na região.

A Sacra Corona Unita (na tradução literal, "Sagrada Corona Unida") é considerada a "quarta máfia" da Itália. Seus integrantes operam majoritariamente no país natal (com foco em Brindisi, Lecce e Taranto) e nos Bálcãs, diferentemente de outras máfias italianas mais conhecidas, como a Cosa Nostra (na Sicília), Camorra (em Nápoles) e 'Ndrangheta (na Calábria), que têm amplas operações internacionais. Menos sofisticadas que os conglomerados mais famosos, não são menos violentas.

Polícia patrulha Castelo de Brindisi, que vai receber líderes internacionais — Foto: Piero CRUCIATTI / AFP
Polícia patrulha Castelo de Brindisi, que vai receber líderes internacionais — Foto: Piero CRUCIATTI / AFP

Aliás, enquanto as mais famosas adotaram uma postura mais "nas sombras" para sobreviver, os braços decorrentes da Sacra Corona ainda se impõem pela violência — em disputas entre os próprios "batalhões familiares" e em intimidações de autoridades (em fevereiro, por exemplo, uma cabeça de bode com uma faca foi colocada em frente à residência da juíza Francesca Mariano).

— Hoje as máfias 'evoluíram', então atiram menos, buscando uma estratégia de silêncio para passar despercebidas — disse Ludovico Vaccaro, promotor público de Foggia, à CBS News. — Mas esta ainda é uma máfia que, para mostrar seu poder sobre o território, atira e mata.

Formalizado da prisão, inspirado na 'Ndrangheta

De acordo com investigadores internacionais, a "quarta máfia" se financia a partir de atividades criminosas como o tráfico de drogas e armas, o contrabando de cigarros, assaltos à mão armada e extorsão (roubam carros, caminhões com carga e gado antes de pedirem "resgate"). Lava dinheiro por meio de diferentes mercados e, para garantir a continuidade dos negócios, corrompe políticos, policiais e outras autoridades. Em 2021, o conselho municipal de Foggia chegou a ser dissolvido por ter sido "infiltrado" pela máfia, e o prefeito foi preso.

Estima-se que mais de cinco mil pessoas integrem o grupo e haja mais de 30 ramificações. As máfias italianas, como a Sacra Corona, se guiam pelos conceitos de família, poder, respeito e território. De acordo com a Europol, agência europeia de inteligência, elas são capazes de manipular eleições e até mesmo infiltrar seus membros em cargos administrativos fora dos territórios que controlam (investigações apontam que, embora atue mais localmente, a quarta máfia tenha presença na Albânia e alguma operação na Alemanha, nos Estados Unidos e no Reino Unido, por exemplo).

Há anos, conflitos sobre a divisão dos lucros ilícitos geram atrito entre "os batalhões familiares".

Embora menos conhecido que os demais, a Sacra Corona tem seus primeiros registros datados do fim dos anos 1970. No entanto, só se estabeleceu formalmente como tal em 1983, conforme um documento encontrado na cela de um dos fundadores, Pino Rogoli (preso por assalto à banco e assassinato). Era o estatuto da nova máfia. A ideia dos criminosos era fazer frente a outros mafiosos na região de Apúlia. Foi na cadeia que ele teria tido contato com chefes da 'Ndrangheta, cujos moldes serviram de base para o novo grupo criminoso.

Nos anos que se seguiram, a Sacra Corona nunca conseguiu conter rachas internos e operar em unidade, como o fizeram outros grupos mafiosos. Vários líderes "desertaram" e formaram seus próprios grupos (emboram tenham prosperado sobretudo nos anos 1990, muitos deles foram presos no início dos anos 2000).

Em fevereiro deste ano, a Sacra Corona esteve sob os holofotes da mídia internacional depois que Marco Raduano, uma das pessoas mais procuradas da Europa, foi preso na ilha francesa da Córsega. Ele Líder da "Società Foggiana", grupo ativo na província italiana de Foggia, em Apúlia, ele fugira da prisão um ano antes da recaptura.

Apontado como um dos chefes do grupo mafioso e descrito como "perigoso" pelas autoridades europeias, ele cumpria pena de 18 anos por tráfico de drogas quando protagonizou uma fuga cinematográfica de um presídio da ilha da Sardenha, na Itália. O mafioso escapou da penitenciária de Badu'e Carros, à luz do dia, após descer dois andares de muro por uma corda feita com lençóis.

Escalada de violência

Baseados nas cidades costeiras de Bari e Brindisi, onde os líderes do G7 se reunirão de 13 a 15 de junho, esses clãs decorrentes da Sacra Corona têm realizado ataques à luz do dia e em ritmo alarmante, criando um ambiente de violência crescente na região, segundo a Digos (Divisão de Investigações Gerais e Operações Especiais), a principal unidade antiterrorismo e antimáfia da Itália.

Além do roubo de carros e invasões, também houve casos de mutilações e assassinatos com base em vingança entre os clãs nos últimos meses, segundo relatos da mídia italiana, com ameaças de bombas em estações de trens.

Um relatório semestral do Ministério do Interior da Itália, divulgado em janeiro de 2024, revelou que há preocupantes sinais de conflitos crescentes não só entre clãs rivais, mas também dentro dos próprios grupos. Diante dos números, o órgão sugeriu a implantação das Forças Armadas para restaurar a ordem na região, sobretudo com a aproximação da reunião do G7.

Segundo a CNN, investigações também estão em andamento sobre a possível infiltração mafiosa em projetos de construção relacionados ao evento. A reportagem cita obras viárias, a construção de helipontos para que os líderes possam se deslocar com segurança e até mesmo o centro de imprensa como parte das investigações.

— Ninguém poderia ter previsto que, nas vésperas do G7, agendado de 13 a 15 de junho, Puglia, onde os encontros entre os líderes mundiais serão realizados, seria afetada por eventos criminosos que, embora não relacionados entre si, tornam a gestão da segurança ainda mais complexa — disse o prefeito de Brindisi, Luigi Carnevale, em uma coletiva de imprensa transmitida pela televisão.

Para proteger a cúpula do G7, as autoridades italianas criaram uma "zona vermelha" de 10 quilômetros ao redor de Borgo Egnazia, resort de luxo onde se encontrarão os líderes, e uma "zona amarela" de 30 quilômetros adicionais, que serão rigidamente patrulhados.

Segundo a CNN, mais de 5 mil soldados foram enviados à região, navios de cruzeiro estão ancorados no litoral para proteger as delegações e um porta-aviões dos EUA chegará em breve. A política de fronteiras abertas do espaço Schengen — área composta por 27 países europeus que aboliram o controle de fronteira entre si — foi suspensa de 5 a 18 de junho para reforçar o controle de passaportes.

Participarão da cúpula os líderes do Grupo dos Sete — Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos —, além de outros líderes globais, como os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Javier Milei, assim como o Papa Francisco — todos a convite da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

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