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Por O Globo e agências internacionais — Genebra

RESUMO

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GERADO EM: 02/08/2024 - 10:42

Tensão nuclear global: investimentos e desafios.

Guerras na Ucrânia e em Gaza aumentam risco de armas nucleares. Investimento de R$ 487 bilhões em 2023 para modernizar arsenais. China lidera crescimento de ogivas. Tensão global entre potências nucleares reflete aumento de gastos e falta de transparência. Preocupações com escalada bélica no Oriente Médio e possível retorno de Trump ao poder.

Há pouco mais de dois anos, em janeiro de 2022, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China concordaram que “uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada”, conforme expressaram num comunicado conjunto. Um mês depois, o Exército russo invadiu a Ucrânia e quebrou qualquer tipo de consenso sobre o uso desse tipo de armas. Desde então, o perigo de que algum líder recorra ao botão nuclear em algum dos conflitos ativos — aos quais em outubro do ano passado se somou a guerra em Gaza — fez com que as potências nucleares modernizassem seu arsenal num contexto global em que cada vez mais se exibe o inventário, mas no qual o sigilo se tornou a norma.

Esse é o panorama descrito no relatório anual do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri), publicado nesta segunda-feira, que analisa as tendências dos nove países com arsenal atômico. O número total de ogivas nucleares prontas para uso no mundo continua subindo, em parte por causa do impulso da China. Enquanto Estados Unidos e Rússia mantiveram seus arsenais nucleares relativamente estáveis (com 3,7 mil e 4,3 mil ogivas, respectivamente) em 2023, Pequim aumentou seu depósito em um ano de 410 para 500 ogivas, acima do crescimento de potências como Índia ou a Coreia do Norte.

— Tivemos um tabu sobre as armas nucleares durante 75 anos [após os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki], mas agora elas estão tão normalizadas no debate que, numa crise, os líderes podem se sentir obrigados a recorrer a elas — alertou Matt Korda, pesquisador de armas atômicas do Sipri, ao El País.

O crescimento se explica principalmente pela probabilidade de que a China considere que seu arsenal já não tem o peso suficiente em comparação com outras potências, segundo a análise de Korda. Para ele, há algumas décadas, Pequim podia até estar satisfeita com “apenas 200 ogivas nucleares”, mas agora vê que Washington e Moscou construíram defesas avançadas contra mísseis e que têm capacidades cada vez mais efetivas, com potencial inclusive para eliminar as suas armas.

Potências internacionais aumentam gastos em armas nucleares; investimento em todo o mundo aumentou US$ 10,8 bilhões em 2023 em relação ao ano anterior — Foto: SIPRI/Editoria de Arte
Potências internacionais aumentam gastos em armas nucleares; investimento em todo o mundo aumentou US$ 10,8 bilhões em 2023 em relação ao ano anterior — Foto: SIPRI/Editoria de Arte

As falas do presidente chinês,Xi Jinping, publicadas pelo New York Times revelam que o medo e a ambição impulsionaram o desenvolvimento do arsenal de armas atômicas da China na última década.

Apenas 19 dias após assumir o poder, em 2012, Xi reuniu os generais que supervisionavam os mísseis nucleares do país e disse que força desse arsenal era um “pilar de nosso status como grande potência”. Já naquela época afirmou, em discurso a portas fechadas, que os generais deveriam ter “planos estratégicos para responder sob as condições mais complicadas e difíceis à intervenção militar de um inimigo poderoso”, e refletiu o temor de que o “modesto” armamento nuclear da China pudesse ser vulnerável contra os EUA.

O caso chinês é um bom exemplo para mostrar o alto grau de tensão entre as potências atômicas nos últimos meses. Segundo o relatório, as armas nucleares não desempenhavam um papel “tão destacado nas relações internacionais” desde a Guerra Fria. A situação tem se refletido nas declarações de inúmeros líderes nos últimos meses, que usam seu poderio nuclear como método de dissuasão.

O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou em diversas ocasiões utilizar armas capazes de “destruir a civilização” e afirmou que a Rússia está “preparada para uma guerra nuclear”. Há apenas uma semana, Moscou realizou manobras nucleares ao lado da Bielorrússia. Na mesma linha, um dos ministros do Gabinete de guerra de Israel no governo de Benjamin Netanyahu assegurou, em novembro, que lançar uma bomba atômica sobre a Faixa de Gaza era “uma possibilidade”.

Líderes de países como a Coreia do Norte ou o Paquistão também fizeram afirmações intimidantes. E o papel do Ocidente também não pode ser deixado de lado.

— A Otan deu sinais firmes de que tem poder nuclear — disse Korda. — A organização é muito cuidadosa e não faz declarações porque não quer soar tão beligerante quanto a Rússia. Mas se olharmos para seus exercícios militares, muitos são perto da fronteira russa.

Mais sigilo

E apesar dessas demonstrações de força, o Sipri argumenta que a cada ano há menos transparência em relação às armas atômicas. Em fevereiro de 2023 a Rússia suspendeu, de maneira unilateral, o Tratado sobre Redução de Armas Estratégicas (Novo Start), criado em 2010 para trocar dados com os Estados Unidos sobre suas forças nucleares duas vezes ao ano. Washington manteve sua parte do acordo ao revelar as cifras no primeiro semestre de 2023, mas desde então deixou de fazê-lo. O mesmo fez Londres, um dos maiores aliados dos americanos.

— Há três anos não sabemos muito sobre o tamanho do arsenal britânico, apesar de ser até então um dos países mais transparentes nesse aspecto. Ironicamente, alguns dos Estados mais autoritários são alguns dos menos opacos — acrescentou o especialista, citando a Coreia do Norte, que, embora seja um dos países mais fechados em quase todos os aspectos, é um dos que mais exibe sua capacidade atômica. — Eles fazem desfiles de mísseis e tudo é uma mensagem de sua força.

O Sipri registra que o regime de Kim Jong-un montou pelo menos 50 ogivas nucleares, cerca de 20 a mais do que no ano anterior (é o país que mais cresce depois da China). Além disso, desde setembro, a Constituição consagra o status da Coreia do Norte como um “Estado com armas nucleares”. Seu arsenal, segundo uma nova lei, deve estar “pronto para a ação” e pode ser utilizado de forma preventiva, em contradição com a doutrina generalizada de "no first use", ou seja, de contenção, em que os países se comprometem a responder, mas não atacar.

O retorno de Trump

A cúpula do G7 terminou na semana passada com críticas à Coreia do Norte e ao Irã por seu apoio à Rússia na guerra com a Ucrânia e com um elefante na sala: o possível retorno de Donald Trump à Casa Branca nas eleições de novembro. Para Korda, com o republicano, sempre há um elemento de imprevisibilidade. Apesar disso, em seu mandato (2017-2021) Trump enviou mensagens a seus aliados para que não deixassem sua segurança apenas nas mãos dos EUA.

Em fevereiro, afirmou que Washington não defenderá os parceiros da Otan que não cumprirem com o objetivo de investir 2% do PIB em defesa coletiva.

De acordo com a Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican, sua sigla em inglês), vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2017, os nove Estados com armas nucleares — Rússia, EUA, França, Índia, China, Israel, Reino Unido, Paquistão e Coreia do Norte — gastaram um total de US$ 91 bilhões (R$ 487 bilhões), em 2023. Embora “o número total de ogivas nucleares continue a diminuir à medida que as armas da era da Guerra Fria são desmanteladas”, há um aumento anual no “número de ogivas nucleares operacionais” pelas potências nucleares, segundo Dan Smith, diretor do Sipri.

De acordo com a Ican, os gastos com armas nucleares em todo o mundo aumentaram US$ 10,8 bilhões em 2023 (R$ 55 bilhões) em relação ao ano anterior. Os Estados Unidos foram responsáveis ​​por 80% desse aumento: a participação dos EUA nos gastos totais, de US$ 51,5 bilhões (R$ 278 bil~hoes), “é maior do que a de todos os outros Estados com armas nucleares combinados”, afirmou a Ican.

Washington é seguido por Pequim (US$ 11,8 bilhões, o equivalente a R$ 64 bilhões) e Moscou (US$ 8,3 bilhões, cerca de R$ 45 bilhões). As potências nucleares gastaram no total US$ 2.898 por segundo (R$ 15,5 mil) no ano passado para financiar estas armas, de acordo com o relatório. Os montantes atribuídos às armas nucleares aumentaram 33% desde 2018.

Korda, o especialista do Sipri, destaca também o caso da Coreia do Sul, um país que conta com os meios técnicos para forjar seu próprio arsenal nuclear e que, além disso, tem o apoio de grande parte da população no tema, diante da ameaça do Norte. Em sua avaliação, a mensagem que Trump envia é que outros países devem desenvolver armas nucleares para sua própria segurança, algo que faria com que mais líderes tivessem acesso [ao botão nuclear]. Nesse cenário, todas essas nações “estariam sujeitas a seus próprios caprichos e irracionalidade”.

De olho no futuro, preocupa também como se desenvolverá a tensão bélica no Oriente Médio. O Irã continua enriquecendo urânio e está muito perto da linha de desenvolvimento nuclear, como aponta o relatório. Segundo Korda, o fato de Teerã cruzar ou não esse limite dependerá de um cálculo político, mais do que estratégico. Contra os apelos à contenção, Israel lançou em abril um ataque limitado sobre a província iraniana de Isfahan (onde há o complexo de pesquisa nuclear mais importante do país) em resposta à inédita barragem de mísseis e drones que o Irã dirigiu contra o território israelense.

O relatório destaca dois avanços em segurança nuclear. Em junho do ano passado, a visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, à China abriu caminho para o diálogo sobre controle de armamentos. No mesmo mês, Washington e Teerã chegaram a um acordo informal para diminuir as tensões entre ambos. No entanto, lamenta o Sipri, os ataques de milícias apoiadas pelo Irã a forças americanas na Síria e no Iraque puseram fim aos esforços diplomáticos. (Com AFP, El País e NYT)

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