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Por e , Em The New York Times

Um enorme avião de transporte militar entrou na pista do principal campo de pouso de Grozny, capital da República Chechênia, no sudeste da Rússia, e um grupo de 120 combatentes voluntários com destino à Ucrânia subiu a bordo.

Vestidas com camuflagem, as tropas recém-formadas tinham acabado de concluir pelo menos 10 dias de treinamento em Gudermes, perto de Grozny, na Universidade das Forças Especiais, que aceita homens de toda a Rússia para instrução militar geral.

Alguns voluntários não tinham experiência em combate. Outros eram veteranos que retornavam à Ucrânia para sua segunda ou terceira missão — incluindo ex-mercenários do grupo Wagner, dissolvido em 2023 após um breve motim contra o Kremlin.

Parte dos combatentes do Wagner, incomodados com a ideia de trabalhar para o Ministério da Defesa russo, transferiram unidades inteiras da milícia para as forças treinadas pelos chechenos, conhecidas como batalhões Akhmat, destinados a absorver homens de fora do Exército russo. Muitos dos veteranos do Wagner foram recrutados pela primeira vez na prisão — incluindo um homem magro com um dente de ouro na frente, identificado apenas por seu codinome militar, "Jedi", por temer uma possível retaliação. Entrando e saindo da prisão desde os 14 anos, faltavam seis meses para ele terminar de cumprir uma sentença de seis anos quando se inscreveu no grupo.

— Ir [para a guerra] por sua pátria? Que tipo de pátria? Ela [a Rússia] me manteve na prisão durante toda a minha vida — disse Jedi, 39 anos, um trabalhador da construção civil que foi condenado por roubo e fraude. — Os voluntários vão pelo dinheiro. Ainda não encontrei ninguém aqui por causa da ideologia — afirmou, destacando que também queria um passado limpo.

Bônus generosos e pagamentos de cerca de US$ 2 mil por mês — pelo menos o dobro do salário médio na Rússia — estimularam o recrutamento.

Combatentes russos, incluindo ex-mercenários do grupo Wagner, em treinamento na Chechênia — Foto: NANNA HEITMANN/NYT
Combatentes russos, incluindo ex-mercenários do grupo Wagner, em treinamento na Chechênia — Foto: NANNA HEITMANN/NYT

O treinamento perto de Grozny destaca a evolução das lealdades étnicas que se manifesta em períodos de guerra. Alguns dos que agora estão treinando lá estiveram na Chechênia pela última vez como jovens recrutas do Exército russo, lutando contra chechenos que faziam parte do movimento separatista.

A participação de alguns chechenos representa outra inversão da história: depois de centenas de anos de inimizade com a Rússia, os chechenos estão sendo enviados para a Ucrânia para lutar na guerra de Moscou.

O movimento separatista dos anos 1990 culminou em duas guerras brutais contra Moscou que duraram intermitentemente por mais de uma década. A cidade de Grozny foi arrasada e dezenas de milhares de chechenos morreram.

Ramzan Kadyrov, o líder autoritário da Chechênia, adotou uma postura agressiva em relação à Ucrânia desde que a Rússia invadiu o país em fevereiro de 2022. As forças chechenas reivindicaram um papel fundamental em algumas batalhas importantes, incluindo o cerco de Mariupol no início da guerra.

Mas Kadyrov tem enfrentado acusações de que se absteve de enviar toda a sua força para a luta, com os chechenos morrendo em menor número do que os soldados de outras regiões minoritárias. Ao poupar seus combatentes, ele mantém intacta sua milícia privada — núcleo das forças de segurança que garantem seu domínio na Chechênia.

Em vez disso, Kadyrov tentou enfatizar sua lealdade ao presidente russo Vladimir Putin, investindo recursos nesse centro de treinamento militar. O regime consiste em exercícios de fogo real com artilharia, algumas instruções de mineração e desminagem e primeiros socorros.

Treinamento de artilharia na Chechênia para combatentes russos — Foto: NANNA HEITMANN/NYT
Treinamento de artilharia na Chechênia para combatentes russos — Foto: NANNA HEITMANN/NYT

Os vários batalhões Akhmat foram batizados, como muitos outros na Chechênia, em homenagem ao pai de Kadyrov, Akhmat Kadyrov, que mudou de lado para se juntar a Moscou na luta separatista e foi assassinado em 2004.

A Rússia recrutou tropas para seu esforço de guerra onde quer que pudesse encontrá-las, buscando minimizar a necessidade de um recrutamento. Em 2022, o país suspendeu uma proibição quase geral de que os chechenos servissem nas Forças Armadas russas, resultado do movimento separatista.

Do grupo que foi enviado para a Ucrânia a partir da pista de pouso em Grozny, muitos estavam na faixa dos 30 e 40 anos, e menos de 10 eram chechenos. Apesar das alegações de Jedi, o dinheiro não é a única motivação.

Alguns fugiram de vidas domésticas problemáticas. Outros queriam escapar do trabalho cotidiano. Alguns, é claro, afirmam estar lutando por patriotismo. Muitos dos homens concordaram em falar sob a condição de serem identificados apenas por seus primeiros nomes ou apelidos militares por medo de represálias.

Anatoly, 24 anos, estava entre os 10 homens que se voluntariaram juntos em um pequeno vilarejo agrícola no alto das montanhas, na pitoresca região centro-sul de Altai.

— Meu pai me obrigava a limpar a neve, a trabalhar, a retirar o esterco das vacas — disse ele, admitindo que o dinheiro também serviu de incentivo. — Eu fugi desse trabalho para fazer outra coisa. Todo ano é a mesma coisa.

Outro trabalhador rural, um pastor de 45 anos que usa o codinome "Masyanya", viajou cerca de 4.500 quilômetros da República de Khakassia para o treinamento:

— Vou defender minha pátria, para que a guerra não chegue aqui — disse ele.

O contrato com o batalhão Akhmat dura apenas quatro meses, o que é um grande incentivo quando comparado com os destacamentos por tempo indeterminado dos soldados regulares.

No outono (primavera no Brasil), Ramzan Kadyrov formou uma nova unidade, o batalhão Sheikh Mansour, que leva o nome de um imã do século XVIII que lutou contra o Império Russo. Os soldados são todos chechenos ou das pequenas repúblicas vizinhas na região montanhosa do Cáucaso, e a maioria está na faixa dos 20 anos. Os chechenos que lutam pela Ucrânia contra a Rússia batizaram seu batalhão com o nome do xeque Mansour, e agora Kadyrov está tentando recuperar o nome.

Turpal, 20 anos, trabalhava como segurança de uma grande rede de supermercados em Moscou quando obteve permissão do pai para se alistar na nova unidade, dizendo que queria lutar contra "aqueles demônios que estão na Ucrânia e querem trazer suas ideias pervertidas para cá".

Antes de retornar ao centro de treinamento depois de um fim de semana visitando seus pais, ele abraçou sua mãe e apertou a mão de seu pai, Mayrali, que disse:

—A Rússia tem lutado por toda a sua existência. Não se pode vencê-la. É melhor para a Chechênia estar com a Rússia do que contra a Rússia.

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