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Por — Moscou

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GERADO EM: 24/06/2024 - 07:33

Ataques terroristas no Daguestão: 19 mortos

Ataques terroristas em igrejas ortodoxas e sinagoga no Daguestão deixam 19 mortos, incluindo policiais e civis. Autoridades encerram confrontos armados, mas motivação dos ataques ainda é desconhecida. Três dias de luto decretados e temor de retomada da rebelião islamista no país.

Ao menos 20 pessoas — 15 policiais e 5 civis, incluindo um padre — foram mortas e 46 ficaram feridas em dois ataques aparentemente coordenados contra igrejas ortodoxas, sinagogas e forças policiais na República do Daguestão, no Cáucaso, situado no sudoeste da Rússia. O ataque mais mortal na região em 14 anos acendeu um alerta para os crescentes desafios de segurança enfrentados pelo Kremlin, em meio às demandas da guerra na Ucrânia, que já dura mais de dois anos.

A operação "antiterrorista" iniciada no domingo só terminou na manhã desta segunda-feira. Durante horas, os terroristas trocaram tiros com as forças de segurança, que confirmaram a morte de ao menos cinco supostos atiradores. Não está claro, porém, se alguns conseguiram escapar, nem se sabe qual grupo e quais motivações estariam por trás dos ataques — o Instituto para o Estudo da Guerra, sediado em Washington, afirmou que uma célula do Estado Islâmico no norte do Cáucaso estaria por trás deste ataque, descrito como "complexo e coordenado".

Com fuzis e coquetéis molotov, os agressores atacaram no domingo à noite os locais de culto na cidade costeira de Derbent e em Makhachkala, capital do Daguestão, uma região de maioria muçulmana que fica ao lado da Chechênia e faz fronteira com a Geórgia e o Azerbaijão. Um dos civis mortos foi Nikolai Kotelnikov, um padre ortodoxo em Derbent, onde uma sinagoga também foi incendiada. O grão-rabino da Rússia, Berl Lazar, denunciou um "crime espantoso", guiado pela vontade de "matar o maior número possível de inocentes".

Autoridades locais anunciaram que as famílias das vítimas receberão indenizações especiais e declararam um período de três dias de luto no Daguestão, região de cerca de 3,2 milhões de moradores, multirreligiosa e etnicamente diversa que, na década de 2000, foi cenário de uma rebelião islâmica motivada pela segunda guerra da Chechênia — esmagada pelas forças russas após anos de confrontos.

Embora os moradores da região sejam predominantemente muçulmanos, o Daguestão também abriga uma minoria cristã significativa, bem como uma pequena comunidade judaica, uma das mais antigas da Rússia.

Os ataques são os mais recentes de uma série de atos de violência extrema na Rússia nos últimos meses, que expõem os desafios de segurança complexos do país enquanto trava sua guerra na Ucrânia. Em 22 de março, quatro atiradores mataram 145 pessoas na casa de shows Crocus City Hall, perto de Moscou, em um atentado reivindicado pelo Estado Islâmico Khorasan (ISIS-K) — o mais mortal na Rússia em mais de uma década.

Atentados no Daguestão — Foto: Editoria de Arte
Atentados no Daguestão — Foto: Editoria de Arte

Em outubro, uma multidão, aparentemente procurando por passageiros judeus, invadiu um avião que chegava de Tel Aviv no Daguestão. No início deste mês, vários homens detidos por acusações de terrorismo lideraram um motim de curta duração na prisão na cidade de Rostov-sobre-o-Don, no sul da Rússia. Os amotinados fizeram guardas reféns e publicaram vídeos, alegando afinidade com o Estado Islâmico, antes de serem mortos a tiros pelas forças de segurança.

Nesta segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que o presidente Vladimir Putin não planejava se pronunciar sobre o mais recente atentado. Questionado se Moscou teme o retorno de uma rebelião islâmica, Peskov respondeu que "não", afirmando que a Rússia "mudou".

— A sociedade se consolidou, e esse tipo de manifestação terrorista não conta com o apoio da sociedade, nem na Rússia, nem no Daguestão — disse.

Veja imagens após ataque a igrejas e sinagogas no Daguestão

Veja imagens após ataque a igrejas e sinagogas no Daguestão

O Comitê Antiterrorismo da Rússia, órgão que coordena a luta contra o terrorismo no país, abriu um inquérito sobre o caso, afirmando que dois atiradores foram mortos em Derbent e outros três em Makhachkala, e que as forças de segurança buscam cúmplices. Os investigadores, no entanto, não revelaram as identidades dos atiradores mortos.

Mas a escassez de detalhes sobre os ataques de domingo contribuíram para a sensação de incapacidade do Kremlin de manter sob controle as tensões étnicas e religiosas no norte do Cáucaso. Para Tanya Lokshina, diretora associada para Europa e Ásia Central da Human Rights Watch, o ataque de domingo representa "um fracasso gigante das agências de inteligência".

— A região está lotada de agentes de segurança, mas eles não conseguiram controlar a situação, porque os recursos e a atenção das autoridades russas estão predominantemente concentrados na guerra na Ucrânia — afirmou ao New York Times.

Para Grigory Shvedov, editor-chefe do site caucasianknot.info, classificado pelo Kremlim como um "agente estrangeiro", é "perigoso subestimar uma versão da ameaça islâmica".

— A disfunção das autoridades é evidente. Em vez de se concentrarem nos terroristas locais no Daguestão, as forças de segurança têm se dedicado à “operação militar especial” na Ucrânia e ao Ocidente — disse à AFP.

Em março, autoridades russas já haviam tentado mascarar falhas de inteligência em relação ao atentado à casa de shows, responsabilizando o Ocidente e a Ucrânia, sem apresentar provas. Declarações iniciais de funcionários após os ataques de domingo sugerem uma tática similar no Daguestão.

— Sabemos quem está por trás desses atos de terror e qual objetivo perseguem — disse Sergei Melikov, a principal autoridade da região, em discurso à população local, dizendo que as vítimas do ataque e os soldados russos que lutam na Ucrânia enfrentam o mesmo inimigo: — Temos de entender que essa guerra chega à nossa casa. Nós sentimos, mas hoje vivemos a guerra.

Peskov, por sua vez, também tentou fazer uma conexão entre a violência no Daguestão e um ataque separado da Ucrânia no domingo na Crimeia. Ele, no entanto, não culpou diretamente Kiev ou o Ocidente pelas ações de violência do fim de semana.

Ataques na Rússia — Foto: Handout / RIA NOVOSTI / AFP
Ataques na Rússia — Foto: Handout / RIA NOVOSTI / AFP

Histórico extremista

Mas a história de violência extremista no Daguestão e na região mais ampla do norte do Cáucaso torna mais difícil para as autoridades atribuir a culpa dos ataques de domingo a um inimigo externo vago e unificado, disse Aleksandr Baunov, analista político do Carnegie Russia Eurasia Center.

“O que estamos vendo é o último episódio de perda de controle do regime russo nos mais diversos lugares — lugares que são muitas vezes inesperados para o próprio governo”, escreveu Baunov no aplicativo de mensagens Telegram nesta segunda-feira.

Para Andrei Soldatov, analista de segurança russo e especialista no norte do Cáucaso, o ataque de domingo tem algumas características de violência do início dos anos 2000. À época, as forças de segurança eram atacadas quase diariamente, e terroristas islâmicos invadiam reuniões públicas em lugares tão distantes quanto Moscou e São Petersburgo.

Viatura policial russa parcialmente destruída durante operação antiterrorismo no Daguestão — Foto: Comitê Nacional Antiterrorismo da Rússia/AFP
Viatura policial russa parcialmente destruída durante operação antiterrorismo no Daguestão — Foto: Comitê Nacional Antiterrorismo da Rússia/AFP

— O trauma das guerras chechenas e os ataques terroristas em grandes cidades estão sempre presentes na Rússia e são facilmente despertados — disse ao New York Times. (Com AFP e New York Times)

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