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Por — São Paulo

RESUMO

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GERADO EM: 24/06/2024 - 08:23

Riscos da autocracia e instabilidade global

Historiador britânico alerta para a ameaça à diplomacia causada por autocratas e a perda de fé na democracia. Conflitos entre democracias e autocracias geram instabilidade global, com líderes ocidentais fragilizados e instituições enfraquecidas. Eleições nos EUA são chave para o futuro geopolítico.

O cenário conflituoso e polarizado nas relações internacionais deve permanecer como uma constante no futuro próximo, na avaliação do historiador britânico Antony Beevor. Formado na academia militar de Sandhurst, uma das mais renomadas do Reino Unido, Beevor acredita que a arena internacional está pautada pela oposição entre democracias e autocracias, mas com um grau de desconfiança entre os lados da disputa que supera a Guerra Fria. Autor do recém-publicado "Rússia - Revolução e Guerra Civil" (Crítica), Beevor conversou com exclusividade com O GLOBO, comentando sobre a crise das democracias e o avanço da extrema direita e das autocracias.

Líderes mundiais têm apelado cada vez mais a paralelos históricos para justificar suas políticas, de Biden a Putin. O que isso diz sobre o cenário atual?

Paralelos históricos são coisas muito perigosas para todos, mas o caso de Putin é diferente. A ideologia de Putin põe em foco é o Império Russo. Ele é influenciado por ideólogos como [Alexander] Dugin e [Vladimir] Medinsky, que retomam os “Brancos” russos, que perderam a Guerra Civil, e desenvolvem essa ideia de superioridade de um espírito russo, oposto ao Ocidente corrupto, destinado a ocupar a Eurásia como um todo. Não vemos algo assim desde que Hitler acreditou que tinha o direito de ocupar países vizinhos por causa de uma ideologia superior.

E com relação aos líderes ocidentais, que também têm feito essas menções à Segunda Guerra, por exemplo?

No Ocidente, vemos um sinal de fraqueza. Os líderes não têm o controle real sobre os seus países. Eles falharam em entender como a revolução do fim dos anos 1980 para o começo dos anos 1990, com a ascensão da internet, da globalização, as mudanças comerciais, o 'boom' dos bancos, afetou a soberania dos países, que passaram a não controlar mais suas próprias existências como antes. Como historiador, perguntam-me sempre: ‘onde estão os Churchill de hoje em dia? Onde estão os De Gaulle?' Bom, eles não estão mais no controle. Dividem poder com a mídia, que ganhou muito poder, e olham constantemente para sondagens de opinião, em vez de terem a confiança necessária para olhar para o futuro e tomar decisões a longo prazo. Estamos assistindo a uma visão de curto prazo da pior espécie. É uma questão relativa apenas a tentar sobreviver até à próxima semana.

Mas dividir o poder com a mídia não é uma coisa positiva? Uma característica dos regimes democráticos?

É claro que os meios de comunicação acreditarão que são uma força democrática para o bem, ao responsabilizar os políticos. É claro que isso é verdade até certo ponto. Uma imprensa livre é um elemento essencial para uma democracia saudável. Mas se a mídia atingir um tal grau de domínio que os políticos tenham medo de tomar uma decisão impopular porque temem o poder dos meios de comunicação, então a democracia torna-se fraca e vulnerável.

Como seria possível superar isso? Na França, Macron convocou eleições antecipadas usando a ascensão da extrema direita como motivo para tentar aproximar moderados, conservadores e socialistas...

Este é o problema. No caso de Macron e a sua decisão súbita, motivada pelo mau desempenho do seu centro nas eleições europeias, penso que ele tenta deixar todo mundo em pânico, criando uma reação de medo, dizendo: 'Ouçam, se não me apoiarem agora, então vão ter a extrema direita'. Estamos vendo a mesma coisa no Reino Unido, por um ângulo diferente, em um momento em que os Conservadores, que estão completamente desmoronando, dizem 'você, eleitor, não deve permitir um poder tão grande aos socialistas'. Isso me parece um tipo de desespero.

Entre todos os paralelos históricos, algum nos ajuda a compreender o mundo hoje?

Quando olhamos para a Guerra Civil Russa, vemos o quanto ela influenciou a forma como a geopolítica se desenvolveu. Ela criou um ciclo vicioso de medo, em que a classe média e a burguesia russa temiam a ameaça vinda da classe trabalhadora, e a classe trabalhadora temia ser esmagada por quem estava acima. É a mesma estrutura polarizada que se viu na Guerra Civil espanhola e na Segunda Guerra Mundial, entre direita e esquerda, fascismo e comunismo. No Pós-Guerra, tivemos uma extensão desse pensamento, embora se tratasse de comunismo versus capitalismo. Agora, estamos diante do que é continuamente descrito como uma ‘Segunda Guerra Fria’, mas na qual vemos uma mudança de eixo, com uma disputa entre autoritarismo e democracia.

Como essa disputa entre democracias e autocracias afeta o resto do mundo?

Estamos vendo uma aliança crescente entre Estados autoritários, não apenas de China e a Rússia, com intuito de enfrentar o chamado mundo livre. O perigo atual é que, ao contrário da Guerra Fria original, onde o Ocidente podia confiar nas garantias dos líderes comunistas russos e chineses, que apesar de rivais, costumavam manter suas palavras e garantias, o cenário atual impõe um risco ao futuro da diplomacia. Como confiar em qualquer trato com Putin ou Xi Jinping? No que diz respeito a eles, os dois farão qualquer concessão e darão qualquer garantia, mas poderão quebrá-las imediatamente depois. É por isso que é muito difícil pensar em uma paz negociada na Ucrânia. Estamos em um mundo muito perigoso, e muito instável.

Dentro desta perspectiva de uma diplomacia mais desconfiada, você acha que veremos as estruturas internacionais sendo palco deste conflito entre modelos?

O que temos visto são instituições, tanto internacionais quando nacionais, sendo minadas e enfraquecidas. Nos EUA, por exemplo, Trump demonstrou uma total falta de respeito, seja pelo FBI, seja por qualquer outra entidade. Quando as instituições baseadas no Estado e as instituições internacionais começam a ser minadas desta forma específica, entramos em uma situação muito difícil.

Você considera que a ascensão da extrema direita nas sociedades ocidentais pode ser entendida como algum tipo de demonstração social ou popular de que talvez essas pessoas entendam que as autocracias lidam melhor com alguns assuntos do que as democracias ?

Existem várias razões pelas quais as populações dos países ocidentais estão perdendo a fé na democracia. Os políticos são encorajados pela pressão dos meios de comunicação a prometer cada vez mais aos seus eleitorados, o que sabem que não podem cumprir. Este é o imediatismo criado pela pressão de tentar sobreviver para além das próximas eleições. Além disso, tanto os políticos como a mídia não podem admitir abertamente que a maior parte dos países de hoje, num mundo globalizado, têm muito pouco controle sobre os acontecimentos e o fluxo econômico internacional. Finalmente, as pessoas estão assustadas com a velocidade e a extensão das mudanças sociais, econômicas e tecnológicas. Os empregos são cada vez menos seguros. A sociedade e os seus valores estão mudando mais rapidamente do que nunca. É muito perturbador, e a maioria das pessoas precisa saber onde estão e em que acreditar. Os autocratas oferecem isso, embora as suas promessas sejam ainda mais desonestas do que as dos políticos democráticos. Churchill estava certo. Pode não ser muito, mas: ‘A democracia é o menos pior de todos os sistemas políticos.’

O ano ainda guarda eleições importantes, como é o caso das eleições americanas. Qual será o cenário após elas: de mais conflito ou crise?

Sempre achei muito irônico que os historiadores, que estudam o passado, sejam sempre aqueles de quem se espera uma previsão do futuro. Acho que qualquer pessoa que tente prever o futuro em um momento em que há tantas bolas diferentes em jogo, como uma máquina de pinball, não consegue calcular todas as consequências. Uma das principais questões, claro, é se Trump chegará à presidência dos Estados Unidos, porque isso pode ter enormes efeitos sobre se a Otan e todo o resto do mundo. Porém, com Trump, muitas vezes as coisas serão muito piores do que se espera, e em outras ele se mostrará mais realista do que se teme. Certamente essa eleição terá um impacto em várias questões, da Otan ao Mar do Sul da China.

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