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Por O Globo e agências internacionais — Cidade de Gaza

RESUMO

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GERADO EM: 25/06/2024 - 12:32

Crise humanitária em Gaza: fome, amputações e colapso da saúde

Milhares de palestinos sofrem com fome extrema em Gaza, enquanto 10 crianças perdem membros diariamente devido à guerra. O sistema de saúde está em colapso, falta de suprimentos e amputações sem anestesia levam a graves infecções. A situação humanitária é crítica, com a UNRWA alertando que a ajuda só dura até agosto. A crise alimentar se agrava, com famílias trocando roupas por comida e recorrendo a coletar lixo para sobreviver.

Quase meio milhão de pessoas enfrentam os níveis mais altos de insegurança alimentar na Faixa de Gaza devido à falta de alimentos, anunciou um grupo de especialistas globais nesta terça-feira. Isso significa, segundo o estudo, que esta parcela lida com a privação extrema de alimentos — e ao menos 30% das crianças estão gravemente desnutridas. Somado a esse cenário, o chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, disse nesta terça-feira que em média dez crianças perdem uma ou ambas as pernas todos os dias no enclave.

Embora a análise do grupo, chamado Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (ou IPC, na sigla em inglês), reconheça que a quantidade de suprimentos que chega ao norte do enclave tenha aumentado no último mês, também revela que quase toda a população palestina no território, de cerca de 2,2 milhões de pessoas, enfrenta a fome.

A avaliação tem um peso considerável. A organização é uma parceria de órgãos da ONU e grandes agências de ajuda internacionais — e líderes globais recorrem a ela para avaliar a gravidade das crises de fome e alocar ajuda humanitária. Ao todo, o sistema tem cinco fases, mas Gaza só contempla as duas últimas: emergência humanitária (fase 4), e fome ou catástrofe humanitária (fase 5), quando “os lares experimentam uma extrema falta de alimentos, fome e exaustão das capacidades de enfrentamento”, diz o relatório.

Fome ou catástrofe humanitária — Foto: Editoria de Arte
Fome ou catástrofe humanitária — Foto: Editoria de Arte

Lazzarini por sua vez disse, em declaração durante uma entrevista coletiva em Genebra, na Suíça, que o número alarmante de crianças amputadas não inclui menores que perdem um braço ou uma mão, e indicou que se baseia em dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

— São dez por dia, ou seja, cerca de 2 mil crianças após mais de 260 dias dessa guerra brutal — enfatizou Lazzarini. — Também sabemos que a maioria das amputações é realizada em condições horríveis e, às vezes, sem anestesia. Isso também se aplica às crianças.

O chefe da UNRWA ainda citou um relatório, publicado na segunda-feira pela ONG Save the Children, que estima que 21 mil crianças estão desaparecidas por causa do conflito — seja porque estão enterradas sob escombros ou em sepulturas não identificadas, porque estão presas ou porque perderam contato com a família e entes queridos.

Ainda que os números sejam difíceis de coletar e verificar, há pelo menos 17 mil crianças desacompanhadas, e 4 mil provavelmente desaparecidas sob os escombros, de acordo com a organização.

Segundo ele, o órgão só tem o dinheiro necessário para suas operações até o final de agosto. A agência das Nações Unidas — que desempenha um papel crucial na ajuda às pessoas em Gaza — sofreu um corte significativo no financiamento depois que Israel acusou alguns de seus 13 mil funcionários de envolvimento no ataque sem precedentes do grupo terrorista Hamas ao território israelense em 7 de outubro, quando cerca de 1,2 mil pessoas morreram, a maioria civis, e 250 foram sequestradas.

Multidão de amputados

A guerra de Israel contra o Hamas em Gaza matou mais de 37 mil pessoas no enclave, segundo as autoridades de saúde do território palestino, que não distinguem os óbitos entre civis e combatentes. A guerra também deixou um número ainda maior de feridos: são mais de 85 mil, de acordo com as autoridades locais, incluindo uma quantidade desproporcional de amputados. O sistema de saúde de Gaza está mal preparado para lidar com isso, e muitos dos hospitais da região foram completamente desativados. Outros se mantêm com faltas de suprimentos como anestésicos e antibióticos.

Cirurgiões dizem que a falta de suprimentos e a escala de feridos os forçam a amputar membros que, em outros lugares, poderiam ser salvos. Mas é uma situação sem solução, dizem, porque amputações requerem cuidados contínuos e, frequentemente, mais cirurgias. A esterilização completa é difícil, e as bandagens e bolsas de sangue acabam rapidamente. Os pacientes ficam em camas sujas — uma realidade que Ana Jeelani, uma cirurgiã ortopédica do Reino Unido, que em março passou duas semanas no Hospital al-Aqsa, no centro de Gaza, disse ser como “uma tempestade perfeita para infecções”.

Isso leva a “um inferno cheio de cenas de pesadelo” disse Seema Jilani, que atuou como conselheira sênior de saúde de emergência para o Comitê Internacional de Resgate, um grupo de ajuda humanitária. Ela trabalhou em várias zonas de conflito, mas disse que não conseguia tirar as imagens de suas duas semanas em Gaza da mente.

Dias e noites sem comida

Em março, a IPC previu que a fome provavelmente chegaria ao norte do enclave até o final de maio. Nesta terça-feira, contudo, o grupo anunciou que a quantidade de alimentos entregues no território aumentou em março e abril, o que “parece ter aliviado temporariamente as condições”. Nesse contexto, afirma, “as evidências disponíveis não indicam que a fome esteja ocorrendo atualmente” na região. Já em Rafah, no sul de Gaza e onde mais de um milhão de pessoas foram deslocadas após Israel ordenar a evacuação da cidade, a situação se deteriorou.

Autoridades israelenses afirmaram por meses que “não há limite” para a quantidade de alimentos e outras ajudas que podem entrar na Faixa de Gaza. E, nas últimas semanas, o governo de Israel abriu passagens para ajuda no norte do enclave, aumentando o número de veículos comerciais que transportam alimentos e outros bens pela fronteira. A operação militar em Rafah, porém, provocou o fechamento da passagem fronteiriça com o Egito e interrompeu as entregas humanitárias. Palestinos na região fugiram para uma área costeira que carece de infraestrutura básica, o que os deixou em situação extremamente vulnerável.

Desde outubro, quando a guerra teve início, até o começo de maio, o número diário de caminhões de ajuda que entraram no território pelos pontos de passagem no sul de Gaza caiu cerca de 75%, de acordo com dados da ONU, e relatos de fome e desnutrição tornaram-se generalizados.

A IPC disse que, para poder comprar comida, mais de metade das famílias em Gaza “tiveram que trocar suas roupas por dinheiro, e um terço cata lixo para vender”. Mais da metade dos lares não tinha alimentos, e mais de 20% passavam dias e noites inteiros sem comida.

Desde que a IPC foi estabelecida, em 2004, sua abordagem foi usada para identificar apenas duas situações de fome: na Somália, em 2011, e no Sudão do Sul, em 2017. Na Somália, mais de 100 mil pessoas morreram antes que a fome fosse oficialmente declarada. Em Gaza, autoridades de Israel reconhecem que há fome, mas acusam o grupo terrorista Hamas de roubar ou desviar ajuda —acusação que Ismael Thawabteh, vice-chefe do escritório de imprensa do Hamas no enclave, classificou como “falsa e incorreta”. (Com AFP e New York Times)

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