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Por , Em The New York Times — Paris

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GERADO EM: 01/07/2024 - 09:45

Eleições na França: Extrema direita lidera e mercado reage com cautela

Eleições legislativas na França têm liderança da extrema direita, alta participação e resultados imprevisíveis, podendo alterar curso da presidência de Macron. Mercado reage com cautela diante do cenário político incerto.

Uma nova semana de campanha frenética começa na França nesta segunda-feira, um dia após o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) ter dominado a primeira rodada das eleições legislativas – que atraíram um número incomumente alto de eleitores e deu um duro golpe ao presidente francês, Emmanuel Macron. Os franceses estão sendo convidados a escolher seus representantes na Assembleia Nacional, que, com 577 assentos, é a câmara baixa e mais proeminente do Parlamento no país. O segundo turno será no domingo.

Se uma nova maioria de legisladores contrários a Macron for formada, o mandatário francês será forçado a nomear um adversário como primeiro-ministro, mudando drasticamente a política interna da França e complicando sua política externa. A preocupação para Macron é ainda maior se ele for obrigado a governar ao lado de Jordan Bardella, o jovem presidente de 28 anos do Reagrupamento Nacional. Caso não haja uma maioria clara, o país pode enfrentar meses de impasse ou turbulência política. Macron, que descartou a possibilidade de renúncia, não pode convocar novas eleições legislativas por mais um ano.

Os resultados oficiais publicados pelo Ministério do Interior mostraram que o RN, partido anti-imigrante de ultradireita, e seus aliados, tiveram cerca de 33% dos votos. Na sequência, a Nova Frente Popular, uma aliança de partidos de esquerda, obteve cerca de 28%. Depois, o partido centrista de Macron conseguiu 20%, e os conservadores tradicionais obtiveram apenas 6,7%. Veja, abaixo, cinco conclusões da primeira rodada das eleições que podem ajudar a entender o pleito até agora.

Participação expressiva

As eleições legislativas na França normalmente ocorrem apenas semanas após a corrida presidencial – e costumam favorecer o partido que ganhou a Presidência. Por isso, elas não costumam atrair tanto os eleitores, que sentem que o resultado já está predeterminado. Esta votação, porém, convocada inesperadamente por Macron, foi diferente. A taxa de participação registrada no domingo foi de quase 67%, muito mais do que os 47,5% registrados na primeira rodada das últimas eleições de 2022.

Esse salto refletiu o intenso interesse em uma corrida de alto risco e a crença entre os eleitores de que seu voto poderia alterar fundamentalmente o curso da presidência de Macron.

Resultados finais imprevisíveis

Para obter uma maioria absoluta, um partido precisa de 289 assentos, e os principais institutos de pesquisa da França divulgaram projeções cautelosas. Eles sugerem que o Reagrupamento Nacional poderia ganhar algo entre 240 e 310 no próximo turno. A Nova Frente Popular, por sua vez, pode garantir entre 150 e 200 assentos, enquanto o partido de Macron e seus aliados poderão ter entre 70 e 120.

Usar os resultados do primeiro turno para prever o resultado do segundo, porém, sempre foi complicado por causa da natureza do sistema eleitoral francês. As eleições legislativas são 577 corridas separadas. Em algumas condições, um candidato que obtém mais de 50% dos votos na primeira rodada vence diretamente. No domingo, 76 candidatos foram eleitos diretamente dessa forma. A maior parte dos assentos, porém, é decidida apenas após um segundo turno de desempate entre os dois mais votados.

O RN e seus aliados chegaram ao segundo turno ou foram diretamente eleitos em 485 distritos, de acordo com uma análise dos resultados feita pela Franceinfo. A Nova Frente Popular estava a caminho do segundo turno ou havia sido diretamente eleita em 446. A coalizão centrista de Macron estava prestes a perder muitos dos assentos que havia mantido desde 2022, tendo garantido uma vaga no segundo turno ou sido diretamente eleita em apenas 319 deles.

Para complicar ainda mais as coisas, os segundos turnos em alguns distritos podem ter três ou até quatro candidatos, se conseguirem pelo menos 12,5% dos votos dos eleitores registrados. Normalmente, isso é raro. Mas no domingo, devido ao aumento da participação, não foi. Em 2022, houve apenas oito disputas entre três candidatos. Desta vez, os institutos de pesquisa projetaram que haveria mais de 200.

Muitos partidos, especialmente à esquerda, disseram que retirariam um candidato que estivesse em terceiro lugar para ajudar a impedir a vitória da extrema direita. Alguns aliados de Macron, no entanto, sugeriram que seu partido ou aliados não deveriam retirar um candidato em casos onde isso ajudaria um candidato do partido de extrema-esquerda França Insubmissa, que foi acusado de antissemitismo. Outros disseram que a extrema direita tinha que ser impedida a todo custo.

Extrema direita ou um impasse

Dois resultados parecem mais prováveis. Apenas o RN parece em posição de garantir assentos suficientes para uma maioria absoluta. Se isso acontecer, Macron não terá outra escolha a não ser nomear Bardella como primeiro-ministro. Ele então formaria um gabinete e controlaria a política interna. Nesses cenários, os presidentes tradicionalmente mantêm o controle sobre a política externa e questões de defesa, mas a Constituição nem sempre oferece diretrizes claras.

Isso colocaria um partido de extrema direita, anti-imigração e eurocético governando um país que está no coração do projeto europeu. Bardella poderia entrar em confronto com Macron sobre questões como a contribuição da França para o orçamento da União Europeia (UE) ou o apoio à Ucrânia na guerra com a Rússia.

Vários milhares de manifestantes, principalmente de esquerda, reuniram-se no centro de Paris na noite de domingo para protestar contra o RN. Se a sigla não conseguir uma maioria absoluta – e Bardella disse que não governaria sem uma – Macron poderá enfrentar uma câmara baixa ingovernável, com dois grandes blocos à direita e à esquerda se opondo a ele. Sua coalizão centrista, muito reduzida, espremida entre os extremos, ficaria relativamente impotente.

O governo já anunciou que vai suspender os planos de endurecer as regras sobre os benefícios de desemprego que tinham irritado os sindicatos. Gabriel Attal, o primeiro-ministro de Macron, praticamente reconheceu num discurso que seu partido em breve terá menos influência. Ele afirmou que “as apostas para este segundo turno são privar a extrema direita de uma maioria absoluta”, e que o objetivo de seu partido é ter “peso suficiente” para trabalhar com as outras siglas.

Ainda não se sabe quem Macron poderá nomear como primeiro-ministro se houver um Parlamento suspenso. O presidente poderia tentar construir uma coalizão, mas a França, ao contrário da Alemanha, não está acostumada a fazer isso. Também não está habituada à ideia de um governo provisório que cuida da gestão cotidiana do país até que haja um avanço político, como aconteceu na Bélgica.

Mercado ‘tranquilo’

Os investidores têm estado preocupados com a perspectiva de que o RN, com sua visão eurocética, ou a Nova Frente Popular, com seus pesados programas de impostos, ganhem o poder. A França, que está fortemente endividada devido aos gastos para apoiar empresas e famílias durante os bloqueios da pandemia – e posteriormente em resposta à inflação –, enfrentou custos de empréstimos mais elevados e um mercado de ações em queda depois que Macron convocou novas eleições, há três semanas.

No entanto, nesta segunda-feira, o euro e os títulos franceses subiram devido ao otimismo de que, embora o RN tenha obtido a maioria dos votos, ele poderá ter dificuldades para conseguir a maioria dos assentos na Assembleia Nacional. Os investidores apostam que o resultado mais provável no próximo domingo é um Parlamento suspenso, em que nem a ultradireita e nem a esquerda unida têm maioria, criando um impasse.

O otimismo, contudo, pode ter curta duração: a França foi repreendida no mês passado pela União Europeia por violar as regras que exigem que os países mantenham uma disciplina orçamentária rigorosa. Economistas estão alertando sobre o risco de uma crise da dívida se um governo paralisado não conseguir controlar as finanças francesas – ou se o RN vencer e começar a gastar para cumprir promessas de campanha.

Avanço da ultradireita no país

A vitória do Reagrupamento Nacional foi mais um sinal de que a longa jornada do partido, desde as margens da política francesa até os salões dourados da República, está quase completa. A sigla quase dobrou sua parcela de votos em relação a 2022, quando obteve 18,68% no primeiro turno das eleições parlamentares.

Segundo estudo do instituto de pesquisa Ipsos, conduzido entre uma amostra representativa de 10 mil eleitores registrados antes das eleições, o eleitorado do Reagrupamento Nacional “cresceu e se diversificou” – ainda que o melhor desempenho do partido continue sendo entre a classe trabalhadora, com 57% dos votos.

Mas a base eleitoral do RN “se ampliou consideravelmente” para além dessas categorias, disse o Ipsos, observando que o partido aumentou seus resultados em 15 a 20 pontos entre aposentados, mulheres, pessoas com menos de 35 anos, eleitores com rendas mais altas e moradores das grandes cidades. “No final”, afirmou o instituto, “o voto no RN se espalhou, criando um eleitorado mais homogêneo do que antes, e que está bastante sintonizado com a população francesa como um todo”.

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