A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência das Nações Unidas, alertou que a atividade de furacões está acima da média há oito anos em todo o Oceano Atlântico. A temporada de furacões no Atlântico dura de junho a novembro e a última abaixo do normal foi em 2015. Nesta terça-feira, a instituição também informou que a evolução do furacão Beryl, primeiro da temporada atlântica de 2024, sinaliza uma temporada de furacões "muito perigosa" no mar do Caribe. O fenômeno começou a se formar no último dia 25, ficou ainda mais potente e foi elevado nesta segunda-feira à noite à categoria 5. Após passar por várias ilhas no sudeste do Caribe, provocou fortes chuvas e ventos devastadores.
A OMM destacou que “é preciso considerar que basta um furacão atingir a terra para atrasar décadas de desenvolvimento” nesses territórios. Além disso, apontou potenciais riscos para comunidades costeiras, como subida do nível do mar, agravados pelas tempestades. Nos últimos anos houve uma rápida ativação de ciclones tropicais que “são um desafio significativo” quando ocorrem perto da terra.
Entre os anos de 1970 e 2021, os ciclones tropicais foram a principal causa de perdas humanas e econômicas em todo o mundo, ao totalizar mais de 2 mil desastres.
A previsão da National Hurricane Center (NHC, autoridade americana que monitora esses fenômenos) é de que a passagem do furacão Beryl ainda dure até o sábado, quando pode chegar ao litoral norte do México, mas já com menor intensidade. A agência da ONU também pontou que apesar das previsões apontando para uma possível flutuação na força da tempestade, o Beryl pode continuar como "um furacão extremamente perigoso" à medida que seu núcleo se mova para o Caribe oriental.
![Veja locais que podem ser atingidos pelo furacão Beryl e em quais horários — Foto: Editoria de Arte/O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/zbQC8fxZleHX4hAZvEx9ykNHFwM=/0x0:648x586/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/f/o/upApqsTguHSc4PEPXdMg/furacao-beryl-mexico-site.jpg)
Ainda segundo a entidade, já nesta quarta o Baryl pode atingir as ilhas da Jamica e de Cuba, também chegando a Nicaragua e Honduras, na parte continental da América Central. Na quinta-feira, a expectativa da NHC é a de que o furacão chegue a Belize e ao sul do México.
Na sexta, ele seguirá no Caribe, com a possibilidade de uma aproximação com parte do litoral leste do México, antes de, já no sábado pela manhã, chegar ao Texas, nos Estados Unidos, onde deverá perder força completamente.
De acordo com os relatos das autoridades na região, o fenômeno deixou pelo menos três mortos em Granada, um em São Vicente e Granadinas e um no litoral da Venezuela.
Crise climática
Depois de perder um pouco de intensidade no fim de semana, Beryl se fortaleceu novamente na segunda-feira, atingindo a categoria mais alta na escala Saffir-Simpson ao chegar à ilha de Carriacou, em Granada, de 9.000 habitantes.
"Em meia hora, Carriacou foi devastada", disse o primeiro-ministro de Granada, Dickon Mitchell. "Virtualmente não temos comunicação com Carriacou há 12 horas", disse.
Sob estado de emergência, Carriacou teve sua telecomunicação e eletricidade cortadas, com casas e postos de combustível destruídos. Duas pessoas morreram nesse local e uma terceira faleceu na ilha principal de Granada, com a queda de uma árvore sobre uma casa.
![Dezenas de embarcações danificadas em Barbados — Foto: Randy Brooks / AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/H1IkI3d75I1aZhpzuL1rR_9JxyE=/0x0:3000x2000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/F/0/bSnaHhTrGv6nWEggBedQ/afp-20240702-36246ux-v1-highres-barbadoscaribbeanweatherhurricaneberylenvironme.jpg)
Uma reunião do bloco regional caribenho Caricom prevista esta semana em Granada foi adiada. Outro homem morreu no nordeste da Venezuela, no estado de Sucre, destruído pelo transbordamento de um rio.
"Está claro que a crise climática está levando os desastres naturais a novos níveis recorde de destruição", disse Simon Stiell, secretário executivo do fundo de mudanças climáticas da ONU (UNFCCC).
"A crise climática está indo de mal a pior e mais rápido do que o esperado", disse ele à AFP na noite de segunda-feira, enfatizando que isso exige "ações climáticas muito mais ambiciosas por parte dos governos e das empresas" em resposta.
São Vicente e Granadinas também sofreu "ventos catastróficos e tempestades potencialmente mortais", causando devastação, desolação e pelo menos uma morte, de acordo com o primeiro-ministro Ralph Gonsalves, que esclareceu que "pode haver mais vítimas".
O NHC previu ondas de tempestade nas costas sul de Porto Rico e na Ilha A Espanhola, onde estão localizados a República Dominicana e o Haiti.
O governo da República Dominicana emitiu um alerta vermelho para as províncias de Barahona e Pedernales.
A agência americana pediu que as Ilhas Cayman e partes da Península de Yucatán e do Golfo do México tomassem precauções extremas antes da chegada do Beryl.
Em Barbados, a mais oriental das Ilhas Windward (arquipélago das Pequenas Antilhas), se salvou do pior e apenas foram registrados ventos fortes e chuvas torrenciais. Casas ficaram inundadas e barcos de pesca foram danificados em Bridgetown, embora não tenha havido registro de feridos.
Na ilha francesa da Martinica, um alerta de tempestade tropical está em vigor e cerca de 10 mil casas ficaram sem energia em várias áreas.
Fenômeno incomum
Beryl é o primeiro furacão da temporada 2024 no Atlântico, que vai do início de junho até o final de novembro.
Os cientistas destacam que é incomum que um ciclone tão poderoso seja formado de maneira tão precoce na temporada.
"Apenas cinco grandes furacões (categoria 3+) foram registrados no Atlântico antes da primeira semana de julho", escreveu na rede X o especialista em furacões Michael Lowry.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos também prevê uma temporada extraordinária, com a possibilidade de entre quatro a sete furacões de categoria 3 ou mais.
A agência citou as temperaturas quentes do oceano Atlântico e as condições relacionadas com o fenômeno climático La Niña no Pacífico para explicar o aumento das tempestades.
Nos últimos anos, os fenômenos meteorológicos extremos, incluindo furacões, tornaram-se mais frequentes e devastadores como resultado da mudança climática.
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