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Por O Globo e agências internacionais — Jerusalém

Autoridades de Israel autorizaram, no final do mês passado, a maior anexação de terras na Cisjordânia em três décadas, afirmou uma ONG israelense que monitora o avanço das colônias judaicas nas terras palestinas. O movimento ocorre em meio a um avanço dos assentamentos no território, incentivado por elementos extremistas dentro do Gabinete do premier, Benjamin Netanyahu.

Segundo a ONG PeaceNow, uma ordem do departamento de Administração Civil, emitida no dia 25 de junho mas publicada apenas na quarta-feira, abriu caminho para que uma área de 12,7 km² de terras no Vale do Jordão fossem consideradas “propriedade do Estado” de Israel. A medida, afirma a organização, efetivamente elimina o reconhecimento dessas terras como propriedades privadas de palestinos, e segue um argumento usado no passado para justificar anexações territoriais similares.

“A extensão da área designada nesta declaração é a maior desde os Acordos de Oslo”, escreveu a PeaceNow em comunicado, se referindo aos acordos firmados em 1993 que estabeleciam, dentre outros pontos, como partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza seriam administradas pela Autoridade Nacional Palestina até o estabelecimento de um Estado.

Palestino ferido é transportado amarrado a veículo ​​israelense na Cisjordânia

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A ONG aponta que as novas anexações permitem uma continuidade territorial dentro da Cisjordânia, em uma área stratégica perto da fronteira com a Jordânia. No passado, elas tinham sido designadas como locais de treinamento militar israelense ou como reservas naturais.

Durante os quase 9 meses de guerra na Faixa de Gaza, autoridades israelenses intensificaram a repressão à população palestina na Cisjordânia, e deram força a grupos de colonos favoráveis à expansão dos assentamentos, considerados ilegais pelas leis internacionais. Segundo a PeaceNow, em 2024 foram anexados 23,7 km² de terras palestinas, o maior número já registrado em um só ano.

“Netanyahu e [Bezalel] Smotrich [ministro das finanças] estão determinados a lutar contra o mundo inteiro e contra os interesses do povo de Israel em benefício de um punhado de colonos que recebem milhares de dunams (unidade de área usada na região) como se não houvesse conflito político para resolver ou guerra para acabar”, escreveu a PeaceNow, em comunicado.

Números da PeaceNow mostram que, hoje, há 146 assentamentos judaicos na Cisjordânia, onde vivem 478,6 mil pessoas, mas estimativas apontam que há mais de 300 colônias, incluindo muitas consideradas ilegais até pelo governo israelense, e uma população de 700 mil pessoas. A população palestina é de cerca de 2,8 milhões de pessoas.

Embora seja considerada ilegal pela lei internacional, e frequentemente criticada por governos e organizações internacionais, a política dos assentamentos é defendida publicamente pelas autoridades israelenses, incluindo por Netanyahu: em 2022, na véspera de ser empossado para mais um mandato, ele disse que expansão de assentamentos na Cisjordânia seria prioridade.

Citado pela PeaceNow, Bezalel Smotrich, que também defende o retorno dos assentamentos judaicos a Gaza, celebrou a decisão confirmada nesta quinta-feira, e disse no X (antigo Twitter) que ela permitia “construir um bom país e impedir o estabelecimento de um Estado palestino”. Além das terras anexadas, o governo israelense confirmou a construção de 6 mil unidades residenciais em território palestino, e anunciou a legalização de três postos avançados, Mahane Gadi, Givat Han e Kedem Arava, que são uma espécie de "vizinhanças" de assentamentos já existentes.

"No meio de uma guerra exaustiva e destrutiva, com milhares de israelenses ainda longe das suas casas e 120 reféns ainda em Gaza, a construção de assentamentos, juntamente com a decisão de estabelecer novas colônias na Cisjordânia, e a transferência do planejamento de ações do Exército aos funcionários de Smotrich, levará Israel e a região a um desastre", disse a PeaceNow.

Os assentamentos judaicos na Cisjordânia são um dos principais entraves para as negociações de paz entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina — hoje completamente congeladas — e para o estabelecimento de um futuro Estado palestino. A expansão da presença de colonos é vista como uma forma do Estado israelense ampliar o controle sobre o território, e o empoderamento a grupos paramilitares, muitas vezes envolvidos em ataques à população árabe, permite o estabelecimento de milícias que não raro atuam lado a lado com as forças regulares.

Desde o início da guerra em Gaza, mais de 500 palestinos morreram na Cisjordânia, em confrontos com militares, milícias locais e ataques de colonos. EUA e União Europeia chegaram a aplicar sanções a lideranças locais,, mas o efeito, afirmam analistas, foi praticamente nulo.

“Hoje, está claro para todos que este conflito não pode ser resolvido sem um acordo político que estabeleça um Estado palestino ao lado de Israel. Ainda assim, o governo israelense opta por realmente dificultar as coisas e distanciar-nos da possibilidade de paz e de parar o derramamento de sangue”, disse a PeaceNow, em comunicado.

Em declarações à imprensa, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse que as novas anexações eram “um passo na direção errada”, e que “a direção que queremos seguir agora é de encontrar uma solução negociada de dois Estados”. Ao Wall Street Journal, um representante da Autoridade Nacional Palestina, Muayyad Shaaban, disse que a decisão de Israel “era parte de um plano mais amplo, destinado a controlar toda a parte Ocidental da Cisjordânia”.

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