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Por , Em AFP — San Salvador

RESUMO

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GERADO EM: 05/07/2024 - 15:38

Resistência LGBTQIAP+ em El Salvador

O presidente Bukele adota política conservadora, fechando espaços para a comunidade LGBTQIAP+ em El Salvador. Organizações religiosas não tradicionais se tornam refúgio para a população discriminada. Ativistas lutam por direitos e respeito à diversidade sexual, apesar dos retrocessos do governo.

De mãos dadas, Andrea e Fiorella assistem a uma missa improvisada na garagem de uma casa em San Salvador. Lá elas não temem ser discriminadas, dizem, por uma sociedade que fecha cada vez mais espaços para a comunidade LGBTQIAP+. Diante de um crucifixo pendurado em uma coluna sob uma fileira de bandeiras multicoloridas, cerca de 15 membros da comunidade LGBTQIAP+ cantam canções, comungam e ouvem trechos da Bíblia.

— É um espaço seguro onde posso estar com minha parceira, ser acolhida sem ser julgada — disse Fiorella Turchkeim, psicóloga de 30 anos, à AFP.

Para ela e Andrea Ordóñez, uma farmacêutica de 30 anos, a chamada Comunidade Santa María Magdalena, uma organização de inspiração anglicana que se define como “radicalmente inclusiva”, é “uma trégua” em meio a um clima de “ intolerância."

Depois de ter sido reeleito por mais cinco anos em fevereiro passado, graças à sua guerra anti-gangues, o presidente Nayib Bukele adotou uma política conservadora, apesar de antes de chegar ao poder ter afirmado apoiar as reivindicações das pessoas LGBTQIAP+.

Há uma semana, Bukele anunciou a demissão de 300 funcionários do Ministério da Cultura por promoverem “agendas” incompatíveis com a visão de seu governo, que vários governantes celebraram como uma defesa da “família tradicional”, da “fé” e “da vida”. Dias antes, o Ministério da Cultura havia aprovado a apresentação de uma peça LGBTQIAP+ no Teatro Nacional, que foi abruptamente cancelada após a sua primeira apresentação.

As pessoas da comunidade ficam "numa situação vulnerável" quando ouvem o presidente defini-las como "antinaturais, anti-deus, anti-família", disse Luis Chávez, um homem gay que serve como pastor na organização religiosa que se reúne há cerca de dois anos na cidade, disse à AFP a sede de uma ONG.

Fiorella Turchkeim (E) e Andrea Ordoñez se beijam na Parada do Orgulho em San Salvador em 29 de junho de 2024 — Foto: MARVIN RECINOS / AFP
Fiorella Turchkeim (E) e Andrea Ordoñez se beijam na Parada do Orgulho em San Salvador em 29 de junho de 2024 — Foto: MARVIN RECINOS / AFP

Retrocessos?

Pouco depois de vencer as eleições, Bukele participou, em fevereiro, tal como o seu homólogo argentino Javier Milei, na maior convenção conservadora dos Estados Unidos, que aplaudiu de pé o ex-presidente Donald Trump.

Nesse mesmo mês, o Ministério da Educação anunciou que tinha removido "todos os vestígios" de uma perspectiva de gênero dos manuais escolares, uma decisão aplaudida por grupos conservadores e criticada por ativistas dos direitos humanos.

Bukele está entrando “neste pequeno clube de políticos mega-reacionários de extrema direita”, disse o antropólogo Juan Martínez.

Também em fevereiro, o Ministério da Saúde eliminou um protocolo com o qual pessoas da comunidade recebiam cuidados “livres de estigma e discriminação” num programa de prevenção do VIH/SIDA, disse à AFP Aranza Santos, do Coletivo Alejandría LGBTQI+.

A AFP pediu ao governo comentários sobre o assunto, mas até agora não obteve resposta.

Com a bandeira do arco-íris nas costas, Turckheim foi com sua companheira à marcha do Orgulho no último sábado em San Salvador para exigir respeito à diversidade sexual.

— [A posição oficial] é preocupante por causa da perseguição midiática à população LGBTQIAP+ — expressou ela em meio à agitação da música e dos slogans dos manifestantes.

Segundo a Organização das Mulheres Salvadorenhas pela Paz, em El Salvador “8 em cada 10 pessoas LGBTQIAP+” sofrem “discriminação com base na sua orientação sexual” ou identidade de gênero.

Luis Chavez lidera um culto em uma organização de inspiração anglicana, um dos poucos espaços abertos a devotos LGBTQIAP+ em San Salvador, em 23 de junho de 2024 — Foto: MARVIN RECINOS / AFP
Luis Chavez lidera um culto em uma organização de inspiração anglicana, um dos poucos espaços abertos a devotos LGBTQIAP+ em San Salvador, em 23 de junho de 2024 — Foto: MARVIN RECINOS / AFP

'Não para o armário'

Turckheim e Ordóñez são um casal há dois anos, mas suas famílias não aceitam o relacionamento. “Para evitar problemas”, diz a jovem farmacêutica, elas não demonstram carinho em público.

Ordóñez conta que há alguns anos ingressou em um coral católico, mas o diretor do grupo a excluiu durante a Semana Santa porque lhe disse, se referindo à sua orientação sexual, que era “uma aberração”.

— Foi um choque saber que não havia espaço para mim — lembrou.

— As pessoas de diversidade sexual são prejudicadas pelas igrejas tradicionais — disse Chávez, depois de explicar que embora os membros de Santa María Magdalena frequentassem a igreja anglicana, no templo improvisado se sentiam mais livres.

O governo e parte da sociedade “querem negar a nossa existência e diante disso temos que levantar a voz, exigir e lutar pelos nossos direitos”, disse Grecia Villalobos, ativista da Concavis Trans, organização que defende os direitos das pessoas trans, disse à AFP.

— Não vamos nos permitir ser estigmatizados, discriminados e trancados no armário novamente — acrescenta Santos.

A luta será longa. Turchkeim e Ordóñez planejam casar-se em agosto de 2025, mas terão de viajar para a Costa Rica, onde as uniões para casais do mesmo gênero são legais desde maio de 2020.

— Gostaríamos que fosse aqui, mas é claro... aqui é muito difícil — demite Turchkeim.

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