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Por , Em The New York Times — Londres

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GERADO EM: 05/07/2024 - 00:00

Keir Starmer: Futuro Primeiro-Ministro do Reino Unido?

O líder trabalhista Keir Starmer pode se tornar primeiro-ministro do Reino Unido, alinhando-se com o rei Charles III em questões sociais e ambientais. A monarquia busca estabilidade após Brexit, evitando conflitos constitucionais. Starmer supera passado antimonárquico e promete união.

Há quase 20 anos, um jovem e irônico advogado de direitos humanos, Keir Starmer, disse em um documentário que tinha lhe parecido "estranho" receber o título de conselheiro da rainha, já que "costumava propor frequentemente a abolição da monarquia". Agora líder do Partido Trabalhista, Starmer classificou suas declarações antimonarquia como indiscrições juvenis. Em 2014, ele se ajoelhou perante o então príncipe de Gales, Charles, que bateu seu ombro com uma espada e lhe concedeu o título de cavaleiro.

Se "sir" Keir Starmer confirmar o favoritismo e for conduzido ao nº 10 de Downing Street como novo primeiro-ministro nas eleições desta quinta-feira, como apontam a boca de urna e os primeiros resultados oficiais, o agora rei Charles III pode acabar recebendo o chefe de governo mais alinhado com suas preferências políticas, em comparação aos conservadores Liz Truss e Rishi Sunak, que serviram após a morte de Elizabeth II.

Em agendas como mudanças climáticas, política de habitação, imigração e relações do Reino Unido com a União Europeia, especialistas afirmam Charles e Starmer provavelmente encontrarão uma área comum — sobre as quais o rei mantém opiniões de longa data, muitas vezes fervorosas, embora seja constitucionalmente impedido de exercer interferência direta na política.

— Um governo trabalhista sob Keir Starmer estará mais sintonizado com a situação das pessoas como uma questão social — disse Ed Owens, historiador que estuda a família real. — Esse tipo de questão está há muito tempo no radar do rei. Há uma convergência de mentes em termos de questões sociais.

Eleito primeiro-ministro, Starmer teria uma reunião semanal com Charles, cujo conteúdo ficaria estritamente entre eles. Mas pessoas que conhecem o Palácio de Buckingham e Downing Street disseram que podem prever uma relação frutífera entre o monarca de 75 anos e o advogado de 61 anos, que foi nomeado cavaleiro pelos seus serviços prestados à justiça criminal como chefe do Ministério Público.

Para além da política progressista de Starmer, os acadêmicos disseram que Charles apreciaria a estabilidade que um governo trabalhista poderia trazer e restaurar após as divisões, a agitação política e a troca constante de líderes conservadores após o Brexit. Afinal, em menos de dois anos no trono, Charles poderá em breve estar diante de seu 3º primeiro-ministro.

— A monarquia procura ser uma força unificadora, mantendo o país unido, por isso favorece o consenso em vez da divisão — disse Vernon Bogdanor, professor do Kings College de Londres e autoridade em monarquia constitucional. — É assim que o rei vê o seu papel.

A política climática é outra área onde o rei poderá encontrar um governo trabalhista mais alinhado com os seus pontos de vista. Truss pediu a Charles que não participasse de uma conferência da ONU sobre mudanças climáticas no Egito, em 2022, privando-o de uma plataforma para falar sobre talvez a sua questão mais querida. Posteriormente, Sunak recuou sobre algumas metas de redução de emissões do Reino Unido, citando o seu custo oneroso durante uma crise de custo de vida.

Os trabalhistas, pelo contrário, anunciaram um plano para o investimento verde no valor de 28 bilhões de libras (R$ 195,2 bilhões) por ano, embora desde então tenham suspendido as metas de gastos até que as finanças públicas melhorem.

— Parece que um novo governo trabalhista e Charles estariam em sintonia com essas questões — disse o historiador Owens. — Mas o Partido Trabalhista tem muitas palavras bonitas sobre a importância de uma agenda verde. Eles podem combinar essas belas palavras com ação?

Evitando constrangimentos

Como soberano, Charles não vota. Mas em suas décadas como herdeiro, ele falou abertamente sobre questões que lhe interessavam, de agricultura orgânica a arquitetura. Ocasionalmente, suas opiniões sobre questões mais politicamente carregadas vazavam. Em 2022, Charles teria criticado o plano do governo conservador de colocar solicitantes de asilo em voos só de ida para Ruanda, classificando-o como “terrível”.

Os seus comentários, feitos numa reunião privada, apareceram nos jornais The Times of Londres e Daily Mail, semanas antes dele substituir a rainha Elizabeth II em uma reunião dos países da Commonwealth em Kigali, capital do Ruanda. A Clarence House, onde Charles tinha então seu escritório, recusou-se a comentar as publicações, mas não as negou.

Isso levou Boris Johnson, que era então o primeiro-ministro e propôs o "plano Ruanda", a queixar-se a Charles, segundo o chefe de comunicações do governo na época, Guto Harri. Ao Mail, ele descreveu o encontro como Johnson “enfrentando o príncipe e confrontando-o sobre o que ele – um membro da realeza não eleito – havia dito sobre as ações de um governo democraticamente escolhido”.

Charles não disse mais nada sobre Ruanda depois disso. Em abril, depois do Parlamento ter aprovado uma versão revista da lei com Sunak, o rei deu-lhe o seu consentimento real, como é seu dever. Mas Starmer prometeu que um governo trabalhista abandonaria o plano, considerando-o dispendioso e impraticável.

A devoção de Starmer à lei também pode poupar o rei do tipo de dilema que a sua mãe enfrentou em 2019, quando Johnson pediu para que ela declarasse a suspensão ou prorrogação do Parlamento, em um momento em que deputados manobravam para atrasar o plano de retirada do Reino Unido da União Europeia.

A rainha concordou, mas a Suprema Corte britânica decidiu posteriormente que a decisão era ilegal. Os críticos atacaram Johnson por colocar Elizabeth II numa posição insustentável, uma vez que ela não poderia desafiar um governo eleito. Truss levantou questões semelhantes de governança quando propôs cortes abrangentes de impostos em 2022, o que desencadeou uma reação nos mercados financeiros que afundou o seu mandato.

Protesto em Londres, em 2019, contra a prorrogração do Parlamento britânico, a pedido de Boris Johnson — Foto: Luke MacGregor/Bloomberg
Protesto em Londres, em 2019, contra a prorrogração do Parlamento britânico, a pedido de Boris Johnson — Foto: Luke MacGregor/Bloomberg

— Esses primeiros-ministros foram capazes de ignorar as regras — disse Owens. — De um modo geral, a monarquia não gosta quando chama demasiada atenção [em questões constitucionais] — acrescentou.

Superando desconfianças

Por mais contraintuitivo que possa parecer, os historiadores dizem que Elizabeth II tinha relações mais cordiais com os primeiros-ministros trabalhistas do que com os conservadores. Ela era vista como particularmente confortável com Harold Wilson, enquanto suas trocas com Margaret Thatcher, um ícone conservador, eram consideradas ocasionalmente espinhosas.

Keir Starmer faz comício em Glasgow no último dia de campanha — Foto: Andy Buchanan/AFP
Keir Starmer faz comício em Glasgow no último dia de campanha — Foto: Andy Buchanan/AFP

É certo que o antigo Partido Trabalhista tinha uma tendência antimonarquia. O seu primeiro líder parlamentar, Keir Hardie, escreveu certa vez: “O despotismo e a monarquia são compatíveis; democracia e monarquia são uma conexão impensável.”

Agentes políticos conservadores tiraram o vídeo do jovem Starmer, com a declaração para o documentário, dos acervos e colocaram-no em anúncios, sugerindo que os trabalhistas odiavam a monarquia. Mas mesmo antes de Starmer assumir o poder, o trabalhismo evoluiu para um partido constitucional confiável. E os analistas dizem que os sentimentos antimonarquistas residuais foram varridos após Starmer afastar a sigla da extrema esquerda, depois de se tornar líder em 2020.

Na conferência do Partido Trabalhista em 2022, após a morte da rainha, o hino nacional foi tocado pela primeira vez. Starmer, o homem que certa vez falou em abolir a monarquia, ergueu a voz e cantou “God Save the King”.

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