Derrotado por uma margem arrasadora nas eleições de quinta-feira — no pior desempenho do Partido Conservador desde o fim da Segunda Guerra Mundial —, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, entregou o cargo de líder do partido e se desculpou, em seu primeiro discurso após o começo da apuração das urnas, nesta sexta-feira. Sunak reconheceu a vitória de seu adversário, Keir Starmer.
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— Em breve, estarei com sua majestade, o rei, para apresentar a minha demissão como primeiro-ministro do país. Gostaria de dizer, em primeiro lugar, que sinto muito. Dei tudo de mim a este trabalho, mas vocês enviaram um sinal claro de que o governo do Reino Unido deve mudar, e o julgamento de vocês é o único que importa. Eu ouvi sua raiva, sua decepção e assumo a responsabilidade por essa derrota — afirmou Sunak.
A escala da derrota para os conservadores tornou inevitável que Sunak – o quinto líder do partido conservador desde 2010 – tivesse que renunciar ao cargo. Sob sua liderança, o partido perdeu 241 assentos no Parlamento, deixando de fora da Câmara dos Comuns alguns de seus aliados mais próximos, incluindo o secretário de defesa Grant Shapps e a atual líder da Câmara, Penny Mordaunt. A ex-premier Liz Truss, sua antecessora imediata, também ficou de fora.
Premier mais jovem a assumir o poder — tinha 42 anos em 2022 — e primeiro filho de imigrantes no cargo, Sunak usou sua trajetória pessoal para enaltecer a democracia britânica. O conservador chamou de "notável" o fato do sistema político do país permitir que ele chegasse ao poder duas gerações após sua família chegar às ilhas britânicas.
— Uma das coisas mais notáveis sobre o Reino Unido é o quão comum é que duas gerações depois de meus avós terem chegado aqui com pouco, eu pudesse me tornar primeiro-ministro — disse Sunak, de família de origem indiana e praticante do hinduísmo. — E que eu pudesse ver minhas duas filhas acendendo velas de Diwali [tradição do festival das luzes hindu] nos degraus de Downing Street. Devemos nos manter fiéis a essa ideia de quem somos.
![Sunak deixa púlpito após discurso em frente a Downing Street — Foto: Henry Nicholls/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/x4APWxO0JToKRAHd2JT9HwH8WI0=/0x0:5093x3395/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/M/P/qe94mtQTSH2odUaSKqng/107583189-topshot-britains-outgoing-prime-minister-and-leader-of-the-conservative-party-risihi-su.jpg)
Após uma campanha feroz, marcada por uma estratégia final de apelar ao medo sobre o impacto de uma super maioria trabalhista no Parlamento, Sunak fez um gesto ao líder rival, Keir Starmer, desejando-lhe sorte na condução do país.
— Embora tenha sido o meu adversário político, Keir Starmer, em breve se tornará nosso primeiro-ministro. Neste trabalho, os sucessos dele serão todos os nossos sucessos, e desejo felicidades a ele e à sua família. Quaisquer que sejam as nossas divergências nesta campanha, Ele é um homem decente e de espírito público que respeito — disse Sunak. — Ele e a sua família merecem a nossa melhor compreensão enquanto fazem a enorme transição para as suas novas vidas atrás desta porta. E enquanto ele luta com este trabalho tão exigente num mundo cada vez mais instável.
Pouco depois de encerrar o discurso, Sunak foi visto entrando no Palácio de Buckingham, residência oficial do rei Charles III. Porta-vozes da família real britânica informaram que o monarca acolheu o pedido de Sunak de entregar o cargo e a liderança do partido.
O próximo a visitar Charles será Keir Starmer. Seguindo as formalidades da política britânica, o vencedor da eleição receberá do rei a missão de formar um novo governo. (Com AFP)