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Por O Globo e agências internacionais — Kiev

A Rússia lançou dezenas de mísseis em cidades de toda a Ucrânia nesta segunda-feira, uma grande ofensiva que matou 37 pessoas e atingiu um hospital infantil em Kiev, considerado a principal instituição pediátrica do país. Ao todo, 170 pessoas ficaram feridas. Após o bombardeio, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu uma reunião de emergência no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que está sob presidência temporária da Rússia.

O Exército russo alvejou cinco regiões ucranianas com mísseis de diferentes tipos, afirmou Zelensky nas redes sociais. Ele anunciou que, "no momento, todos estão ajudando a remover os escombros, tanto médicos quanto pessoas comuns". Mais tarde, o presidente confirmou 37 mortos, incluindo três crianças, e que mais de 100 locais foram danificados, incluindo "um hospital infantil, casas comuns, creches, maternidade, faculdade e um centro comercial".

"Os terroristas russos devem responder por isso. A mera preocupação não impede o terror. A compaixão não é uma arma. É necessário abater os mísseis russos. É necessário destruir os aviões de combate russos onde eles estão baseados. É necessário tomar medidas fortes que não deixem qualquer défice de segurança", escreveu Zelensky. "O mundo tem o poder necessário para isso. Os aliados são capazes de fazer isso. E soluções são necessárias o mais rápido possível."

Em Kiev, pelo menos 22 pessoas morreram e 72 ficaram feridas — no Hospital Infantil Okhmatdyt, foram dois mortos e 16 feridos, de acordo com as autoridades locais, incluindo sete crianças. Ainda não está claro quantas pessoas estavam no prédio no momento do ataque. Incêndios foram reportados em outros pontos da capital ucraniana.

"As autoridades da cidade [Kiev] declaram o dia 9 de julho como o Dia de Luto na capital em conexão com o ataque terrorista russo a instalações civis em Kiev. Neste dia, bandeiras serão hasteadas a meio mastro em todos os prédios municipais da cidade. Também é recomendado baixar bandeiras estaduais em edifícios estatais e privados", escreveu no Telegram o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko.

Bombardeio russo atinge maior hospital infantil da Ucrânia e deixa 31 mortos

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O Ministério da Defesa da Rússia disse que os ataques tiveram como alvo postos de defesa ucranianas e bases aéreas militares e foram bem-sucedidos. O órgão negou ter como alvo quaisquer instalações civis e alegou, sem provas, que fotos de Kiev indicavam que o dano foi causado por um míssil de defesa aérea ucraniano. Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, autoridades russas têm afirmado regularmente que as forças de Moscou nunca atacam infraestrutura civil na Ucrânia, apesar do que autoridades ucranianas dizem.

— Um ataque contra um hospital onde crianças gravemente doentes estão sendo tratadas. Que cinismo os malucos do Kremlin estão demonstrando novamente — disse Zelensky durante uma entrevista coletiva na Polônia, ao ser questionado sobre o ataque e sobre a versão de que o prédio havia sido atingido por foguetes dos sistemas de defesa aérea ucranianos.

Do lado de fora do hospital infantil, civis formaram uma corrente humana para ajudar a limpar os escombros, e mais de 100 socorristas foram enviados para a área, disse Vitali Klitschko. Médicos e outras pessoas que estavam dentro do centro médico – que funciona desde 1921 e atende 20 mil crianças anualmente – compartilharam imagens de corredores manchados de sangue, tetos desabados e salas de cirurgia destruídas. Segundo o ministro da Saúde, Viktor Lyashko, unidades de terapia intensiva, de diálise e o departamento de oncologia foram danificados.

"É muito importante que o mundo não permaneça em silêncio sobre isso agora, e que todos vejam o que a Rússia é e o que ela está fazendo", continuou em publicação no X (antigo Twitter).

O Serviço de Segurança da Ucrânia disse que encontrou destroços de um míssil de cruzeiro russo Kh-101 no hospital pediátrico e abriu processos criminais por acusações de crime de guerra. O Kh-101 é um míssil lançado do ar que voa baixo para evitar a detecção por sistemas de radar. A Ucrânia disse que abateu 11 dos 13 mísseis do tipo lançados pela Rússia nesta segunda-feira. Os ataques à luz do dia também incluíram mísseis hipersônicos Kinzhal, uma das armas russas mais avançadas.

Cerca de três horas após os primeiros ataques, mais mísseis atingiram Kiev e destruíram parcialmente um centro médico privado. Quatro pessoas foram mortas lá, disse o Serviço de Emergência da Ucrânia. O chefe da administração presidencial na capital, Andriy Yermak, classificou a ofensiva como "genocídio" e disse que o bombardeio "teve como alvo civis" e que "o mundo inteiro deve ver hoje as consequências do terror, que só pode ser respondido com força".

O ataque ocorreu enquanto Zelensky visitava Varsóvia antes de se dirigir à cúpula da Otan em Washington, nos Estados Unidos, que discutirá como reafirmar o apoio à Ucrânia, e onde se espera que o ucraniano peça mais ajuda militar. Horas depois do ataque, o Conselho de Segurança da ONU — que será presidido pela Rússia em julho —anunciou que se reunirá em caráter de emergência na terça-feira, mas não há qualquer expectativa, além de discursos, de uma condenação contundente dos russos, que têm poder de veto no órgão.

Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, classificou o ataque como "particularmente chocante". O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, fez eco a Guterres, qualificando os ataques de "abomináveis", especificando que "danificaram gravemente" as enfermarias de cuidados intensivos, cirurgia e oncologia do hospital.

— Eles destruíram o departamento de toxicologia infantil, onde as crianças recebem diálise. Entre as vítimas estavam as crianças mais doentes da Ucrânia — disse Turk.

O governo dos EUA também condenou o ataque: em declarações à imprensa, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse que "infelizmente, isto é normal para o senhor Putin, atingir infra-estruturas civis, e ele não se importa se está atingindo hospitais ou edifícios residenciais". Contudo, ele disse que não haverá mudanças na política da Casa Branca que proíbe o uso de armas americanas em ataques dentro do território russo.

O novo chanceler britânico, David Lammy, chamou o bombardeio de "duro ataque aos civis ucranianos", e reiterou o apoio do governo, agora liderado pelo premier Keir Starmer, a Kiev. A Chancelaria francesa descreveu o ataque como "bárbaro", e que deveria "ser incluído na lista de crimes de guerra pelos quais a Rússia terá que responder". Na Alemanha, o Ministério das Relações Exteriores ironizou o fato do bombardeio ocorrer em meio a declarações do presidente russo, Vladimir Putin, defendendo o início de negociações de paz:

"Estas são as ações brutais de Putin quando diz que está disposto a negociar e quer paz", escreveu o ministério no X, o antigo Twitter.

Denise Brown, principal representante humanitária da ONU na Ucrânia, também condenou o ataque.

"É injusto que crianças sejam mortas e feridas nesta guerra. Ao abrigo do Direito Internacional Humanitário, os hospitais têm de proteção especial. Os civis devem ser protegidos", escreveu Brown em comunicado.

'Todos ficaram assustados'

Repórteres da AFP que estavam na capital ouviram sirenes de ataque aéreo e explosões quando os mísseis atingiram Kiev e destroços de projéteis derrubados caíram sobre a cidade. Natalia Syidler, de 40 anos, estava no hospital com seu filho de 2 anos, que deveria ser operado nesta semana, quando os alertas soaram. Ela contou que enfermeiras orientaram a ida dos presentes para o porão, e que "todos ficaram muito assustados e começaram a gritar e correr após o estrondo".

Tymofii Dvorovyi, cirurgião do hospital, disse ao New York Times que conseguiu levar seus pacientes para o abrigo antiaéreo pouco antes do ataque, mas que "havia cirurgiões que estavam realizando operações quando o míssil atingiu" a unidade. Ele disse ter visto dezenas de pessoas "gravemente feridas cambaleando pelos corredores, e que agora os pacientes estão sendo enviados para outro centro hospitalar.

Funcionários da cidade disseram que o ataque também danificou vários prédios residenciais e um edifício comercial em Kiev, onde repórteres da AFP viram carros em chamas e árvores destroçadas em pátios queimados. O operador de energia ucraniano DTEK afirmou que três subestações elétricas foram destruídas ou danificadas em decorrência da ofensiva, a mais recente de uma série de ataques que reduziram pela metade a capacidade de geração de energia do país nos últimos meses.

Na cidade natal de Zelensky, Kryvyi Rig, que tem sido repetidamente alvo de bombardeios russos, os ataques mataram pelo menos 10 pessoas e feriram mais de 47. Em Dnipro, uma cidade de cerca de um milhão de habitantes na mesma região, uma pessoa foi morta e mais seis ficaram feridas, disse o governador da região, quando um prédio residencial de grande altura e um posto de gasolina foram atingidos.

Na região de Kharkiv, nordeste do país, cenário de uma ofensiva russa desde 10 de maio, cinco civis morreram na explosão de uma mina em uma rodovia durante a passagem de um veículo, informou o comandante do distrito militar, Oleg Synegoubov. A explosão aconteceu "perto do cemitério número 17, em uma estrada florestal não asfaltada, na direção da localidade de Tsyrkuny", ao norte de Kharkiv, escreveu o comandante no Telegram. As vítimas eram um homem de 53 anos, duas mulheres de 64 e 25 anos, uma criança de cinco anos e um bebê de três meses.

(Com AFP e New York Times)

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