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Por O Globo com agências internacionais — Jerusalém

Um ataque israelense contra o campo de refugiados al-Mawasi, em Khan Younis, no sul de Gaza, deixou pelo menos 90 mortos e mais de 300 feridos, informou o Ministério da Saúde de Gaza neste sábado. A região havia sido designada por Israel em maio como uma zona humanitária. As Forças Armadas israelenses confirmaram que ação tinha como alvo o líder da ala militar do Hamas, Mohammad Deif, e Rafa Salameh, "mentores do massacre de 7 de outubro", que desencadeou a guerra em Gaza. O Hamas, por sua vez, emitiu um comunicado afirmando que as alegações são "falsas", e, horas depois, Israel disse "não tem certeza" se a ação foi bem sucedida.

Israel alegou que o ataque "ocorreu em uma área fechada administrada pelo Hamas e onde, segundo nossas informações, apenas terroristas do Hamas estavam presentes e nenhum civil", na mesma linha do comunicado publicado nas redes sociais momentos antes da confirmação. Al-Mawasi, uma ampla faixa de terra na costa de Gaza, recebeu muitos palestinos fugidos do conflito à medida que as tropas israelenses se deslocavam para a cidade de Rafah, no extremo sul do enclave, próximo à fronteira egípcia.

— O que fizemos? — gritou uma mulher na rua, em imagens divulgadas pela AFPTV. — O que fizemos? Estávamos apenas sentados perto da praia.

O nome de Deif havia sido apresentado apenas durante entrevistas com autoridades israelenses em condição de anonimato pela imprensa internacional. Em uma publicação pouco antes no X, as Forças Armadas israelenses afirmaram que a ação, "baseada em informações precisas", tinha como alvo "dois terrorista seniores do Hamas e outros terroristas se esconderam entre civis", mas sem dar detalhes.

Dois oficiais israelenses disseram inicialmente ao New York Times que Mohammed Deif foi alvejado enquanto estava na superfície, após deixar a rede de túneis do grupo que se estende sob o enclave. O jornal americano, que conversou ao todo com três oficiais em condição de anonimato, informou que todos afirmaram que o líder estava com Rafah Salameh, o principal comandante do Hamas em Khan Younis, no momento do ataque.

Porém, mais tarde, as Forças Armadas de Israel admitiram que não há certeza sobre o sucesso da ação que mirava Deif, sequer se ele estava no local do ataque.

— Israel atacou Gaza hoje em uma tentativa de eliminar Mohammed Deif e seu vice, Rafa Salameh. Não há certeza de que os dois foram eliminados — disse Netanyahu em uma entrevista coletiva horas após o ataque.

Uma fonte de segurança israelense disse que "a operação foi aprovada na noite passada (sexta-feira)" depois que a inteligência sugeriu que Deif estaria presente e "não havia reféns com ele".

Deif, que deu voz ao anúncio do ataque terrorista de 7 de outubro contra o sul de Israel, tornou-se comandante militar supremo das Brigadas al-Qassam em julho de 2002. Conhecido como “fantasma”, é um dos homens mais procurado por Israel desde 1995. Sobreviveu a pelo menos cinco tentativas de assassinato nas últimas duas décadas. Em maio deste ano, o procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, solicitou um mandado de prisão contra Deif e outros membros do Hamas por crimes de guerra e contra a Humanidade cometidos durante a guerra em Gaza.

Em uma declaração, o Hamas rejeitou as alegações de que líderes do grupo estariam no campo de refugiados, afirmando que "são meramente uma maneira de encobrir a grande escala do horrível massacre" cometido contra "uma área que está lotada com mais de 80 mil pessoas deslocadas."

— Todos os mártires são civis e o que aconteceu foi uma grave escalada da guerra de genocídio, apoiada pelo apoio americano e pelo silêncio mundial — afirmou o alto funcionário do grupo Abu Zhuri à agência de notícias Reuters, destacando que a ação demonstrava que o governo israelense não estava interessado em chegar a um acordo de cessar-fogo.

As mortes foram criticadas por governos regionais, incluindo Jordânia, Irã e Egito. O Ministério das Relações Exteriores do Cairo afirmou que tais "crimes... não podem ser aceitos sob nenhuma justificativa".

Ataque a campo de refugiados no sul de Gaza deixa pelo menos 90 mortos

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Os militares de Israel disseram que estão "investigando" o caso.

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que ele havia "dado uma ordem permanente para eliminar oficiais seniores do Hamas no início da guerra", acrescentando que o premier se reuniria com autoridades militares e de segurança "para discutir os próximos desenvolvimentos e medidas". O gabinete do ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse mais cedo que o ministro estava realizando consultas especiais à luz dos "desenvolvimentos em Gaza", informou a Reuters.

'Despedaçados'

Mais cedo, as autoridades de saúde do enclave palestino afirmaram que pelo menos 20 pessoas tinham sido mortas no ataque. Esse número, atualizado posteriormente, chega a cem na contagem do escritório de imprensa do Hamas, citado pela Reuters, incluindo membros do Serviço de Emergência Civil. Mohammed al-Mughair, membro da equipe de resgate do enclave palestino, afirmou à rede catari al-Jazeera que o Exército israelense atacou equipes que estavam a caminho para prestar socorro às vítimas.

— Enquanto nos movíamos para a cena do incidente, [nós] fomos alvejados; dois veículos foram alvejados diretamente e isso levou à morte de dois de nossos colegas. Outros seis ficaram feridos, três deles gravemente feridos — afirmou, acrescentando que a Defesa Civil recuperou até agora 360 mortos e feridos: — A maioria deles são crianças.

O Crescente Vermelho afirmou que suas equipes atenderam 102 pessoas feridas e recolheram 23 corpos. Desse total, 70 feridos e 21 corpos foram transferidos para o Hospital de Campanha al-Quds do Crescente Vermelho e 22 para o Hospital al-Amal em Khan Younis.

O médico Mohammed Abu Rayya que atende em um hospital que está recebendo as vítimas contou a BBC que este é "um dos dias sombrios". Ele descreveu que era como estar no "inferno", e destacou que muitas vítimas eram civis, a maior parte mulheres e menores. A instituição Medical Aid for Palestinian (MAP), também procurada pela rede britânica, disse que o complexo hospitalar Nasser, em Khan Younis, está "sobrecarregado" e não tem mais condições de funcionar.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram grandes colunas de fumaça subindo, além de vítimas ensanguentadas sendo socorridas em macas. Também é possível ver pessoas tentando vasculhar os escombros com as mãos. Sirenes soavam e fumaça subia ao longe enquanto homens usavam cobertores para recolher as vítimas. Algumas estavam nitidamente além de qualquer ajuda e jaziam mortas na estrada.

Uma testemunha descreveu à rede BBC que o campo de refugiado parecia ter sido atingido por um "terremoto". Outros palestinos disseram à Reuters que o ataque foi uma surpresa, já que a região estava tranquila.

— Eles se foram, minha família inteira se foi... onde estão meus irmãos? Eles se foram, eles se foram. Não sobrou ninguém — disse uma mulher, que não quis se identificar, à agência de notícias britânica. — Nossos filhos estão em pedaços, eles estão em pedaços. Que vergonha (de vocês).

Este é o mais recente ataque contra o campo de refugiados que deixa um grande número de mortos. No fim de maio, um incêndio matou 45 pessoas em um acampamento na região . As Forças Armadas de Israel disseram que tinham como alvo e mataram dois militantes seniores do Hamas no noroeste de Rafah, mas acrescentaram que suas munições sozinhas não poderiam ter causado o incêndio.

Em outro incidente na mesma época, um funcionário da Defesa Civil de Gaza disse que um ataque israelense matou 21 pessoas no campo de refugiados. O Exército israelense rejeitou as alegações, dizendo que "não atingiu" a área humanitária designada em al-Mawasi.

No fim do mês passado, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) disse que 22 pessoas foram mortas em um bombardeio que danificou seu escritório em Gaza, que é cercado por centenas de pessoas deslocadas que buscaram abrigo no local. Um porta-voz militar israelense disse que não havia "nenhuma indicação" de um ataque israelense na área humanitária de al-Mawasi naquele momento.

Neste sábado, outros ataques também foram registrados no norte de Gaza. O Hospital Árabe al-Ahli, na Cidade de Gaza, afirmou que 17 pessoas foram mortas e várias ficaram feridas em um ataque ao campo de refugiados de al-Shati, nas proximidades.

A guerra começou com o ataque do Hamas em 7 de outubro ao sul de Israel, que resultou na morte de 1,2 mil pessoas, a maioria civis, e no sequestro de cerca de 250 pessoas. Desse total, 116 permanecem em Gaza, incluindo 42 que, segundo os militares, estão mortas. Em resposta, Israel respondeu com uma ofensiva militar que matou pelo menos 38.443 palestinos, também em sua maioria civis, de acordo com um balanço do Ministério da Saúde de Gaza, divulgado neste sábado.(Com AFP e NYT)

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