Vídeo mostra momento de ataque de drone Houthi contra prédio residencial em Tel Aviv; assista

• Recrutamento: Convocação de homens ultraortodoxos começará domingo em Israel, mas jovens são instruídos a não responder
• 'Pressão não vai funcionar': Premier de Israel ignora apelo internacional por acordo com o Hamas antes de viagem aos EUA

Atingido por estilhados, um homem de 50 anos foi encontrado morto em seu apartamento, informou a polícia. Além disso, o serviço de emergência israelense comunicou que prestou atendimento para ferimentos "relativamente leves" de um homem e uma mulher atingidos em casa e outros dois, na rua. As quatro pessoas foram levadas a um hospital.

"Um edifício residencial no centro de Tel Aviv foi atingido por um UAV [Veículo Aéreo Não-Tripulado] iraniano lançado do Iêmen, causando pelo menos uma vítima civil e muitos feridos. Continuaremos a operar para proteger melhor os israelenses contra o terrorismo em todas as frentes", afirmaram os militares do Estado judeu.

O Exército israelense informou que no ataque foi utilizado "um drone muito grande", capaz de "percorrer longas distâncias". O porta-voz do Exército, o contra-almirante Daniel Hagari, afirmou que o drone era um Samad-3, modelo iraniano. A informação contrasta com a dada pelo porta-voz Houthi Nasuddin Amer de que o drone era chamado Yaffa e foi totalmente fabricado no Iêmen. Ele também informou que o drone tinha tecnologias que o permitiam escapar da vigilância, o que foi negado por Hagari.

O dispositivo foi detectado pelos sistemas de defesa israelense, informou o porta-voz do Exército, mas eles falharam em registrá-lo como ameaça. Uma fonte militar disse à imprensa que teria sido "uma falha humana". Nenhuma sirene de ataque aéreo foi acionada para alertar os civis sobre o ataque. Hagari disse que "investigam o motivo pelo qual não o identificamos, atacamos e interceptamos", e a Força Aérea afirmou que ampliou as operações para "proteger o espaço aéreo israelense".

Em junho, o movimento xiita libanês Hezbollah — também apoiado pelo Irã e que vem trocando ataques com o Exército israelense na fronteira — divulgou imagens que supostamente teria gravado com drones de vigilância mostrando alguns locais de Israel, incluindo pontos da cidade portuária de Haifa. O Guardian, que divulgou a informação na época, afirmou que as imagens não foram verificadas, mas destacou que, se forem, acendiam um alerta quanto ao sistema de segurança israelenese ao sugerir uma vulnerabilidade maior à incursão de drones em seu território do que se sabia até então.

O ministro da Defesa israelense informou em uma publicação no X que ordenou o "fortalecimento dos sistemas de defesa aérea” em uma reunião de chefes militares e prometeu que “o sistema de segurança acertará as contas com todos que tentarem prejudicar o Estado de Israel, ou enviar terrorismo contra ele, de forma decisiva e surpreendente”. Questionado se iria responder ao ataque, Hagari afirmou que primeiro trabalharia para avaliar completamente a situação.

Em um vídeo publicado no perfil das Forças Armadas, o porta-voz do Exército afirmou que está "travando uma guerra em várias frentes": "O Hamas em Gaza, o Hezbollah no Líbano, as milícias no Iraque e na Síria, bem como os Houthis no Iêmen, todos os representantes iranianos e o próprio Irã", responsável por financiar e armar o chamado Eixo da Resistência.

O ataque foi condenado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres. Segundo o porta-voz Farhan Haq, Guterres continua "profundamente preocupado" que a agressão represente riscos para "uma nova escalada na região", apelando à "máxima contenção". A União Europeia também condenou "firmemente" o ataque, que classificou como "indiscriminado". "O Direito Internacional Humanitário proíbe estritamente o bombardeio indiscriminado de centros populacionais civis e se aplica a todos os atores em todos os momentos, sem exceção", afirmou a porta-voz Nabila Massrali.

Os houthis reivindicaram a agressão, apresentando como "uma operação militar qualitativa" direcionada contra "alvos importantes na área ocupada de Jaffa, conhecida em Israel com o nome de Tel Aviv", afirmou o porta-voz militar do grupo rebelde, Yahya Saree, em um comunicado. O grupo já reivindicou ataques contra a cidade israelense de Eilat, perto do Mar Vermelho, mas o ataque desta sexta-feira é a primeira operação confirmada contra a megalópole de Tel Aviv.

O ataque desta sexta aconteceu nove meses após o início do conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. Os Houthis, que controla parte do Iêmen, executou vários ataques contra navios no Mar Vermelho e no Golfo de Áden nos últimos meses. O grupo afirma que atua em solidariedade com os palestinos de Gaza. No último ataque, os rebeldes alertaram que "não hesitariam em ampliar suas operações militares (...) até o fim da agressão" no território cercado por Israel.

A polícia israelense disse que recebeu centenas de alertas durante a madrugada sobre uma "forte explosão" em Tel Aviv. O ataque atingiu um prédio próximo a um anexo da Embaixada dos EUA, segundo um correspondente da AFP. O embaixador dos EUA em Israel, Jack Lew, escreveu no X que está "chocado com o descarado ataque de drone Houthi em Tel Aviv nesta manhã". Ele também prestou condolências aos familiares do homem que morreu.

Segundo um morador do centro da cidade, a explosão foi tão forte que o acordou no meio da noite.

— Tudo tremeu — disse à AFP.

Yoachi Afek, de 35 anos, contou ao New York Times que acordou assustado pouco depois das 3h (horário local) com um barulho. Ao olhar pela janela do quarto, viu, a poucos metros de distância, que seu carro estava em chamas. De imediato, pensou que um aparelho de ar-condicionado tivesse caído sobre ele, então saiu correndo com a esposa com um extintor de incêndio e uma mangueira. Porém, ficaram assustados com a quantidade de pessoas no local.

— Não entendíamos por que toda a vizinhança saiu às ruas por causa de uma unidade de ar-condicionado caída — disse, acrescentando: — Mas, lentamente, começamos a ouvir rumores sobre um ataque de drone.

Já Shahar Dubb, de 20 anos, afirmou ao jornal americano não entender a reação das pessoas. A jovem foi deslocada de Kiryat Shmona, cidade perto da fronteira norte de Israel com o Líbano, onde soldados israelenses e membros do Hezbollah trocam ataques diários.

— Vejo as pessoas em alvoroço, mas me pergunto: qual é o alvoroço? — afirmou Dubb, que mora com a mãe em uma quarto de hotel. — Isso acontece todos os dias.

A jovem afirmou que as pessoas em Tel Aviv "vivem em uma bolha".

— Elas não percebem o que está acontecendo no norte — afirmou.

No fim da manhã, a maior parte dos cacos de vidro e detritos já haviam sido limpos das ruas.

Enquanto investigam a falha de segurança em seus sistema que levou ao ataque desta sexta, o Exército israelense afirmou que há "cada vez mais sinais" que sugerem que o chefe do braço armado do Hamas, Mohamed Deif, foi morto em um ataque no último sábado contra o campo de refugiados al-Mawasi, em Khan Younis, declarado há alguns meses como uma zona humanitária por Israel.

O ataque causou a morte de 92 palestinos e deixou mais de 300 feridos, segundo autoridades da Saúde do enclave, governado pelo Hamas desde 2007. Na operação, Israel alegou ter atacado Deif, chefe das Brigadas Ezzedine al-Qasam (braço armado do Hamas), e Rafa Salama, comandante do braço armado do Hamas em Khan Younis, no sul de Gaza. Israel os considera os “mentores” do ataque do Hamas em solo israelense que desencadeou a guerra em 7 de outubro.

Desde então, os militares israelenses têm sido cautelosos com a situação de Mohamed Deif.

— Há cada vez mais sinais que sugerem uma eliminação bem-sucedida de (Mohamed) Deif — disse Hagari, em uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira.