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Por O Globo com agências internacionais — Tel Aviv

'O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, realizou nesta segunda-feira sua primeira viagem desde o início da guerra em Gaza aos Estados Unidos, dia seguinte à desistência do presidente Joe Biden, para discursar no Congresso. A visita ocorre poucos dias após uma escalada nas tensões entre Tel Aviv e os rebeldes Houthis e em meio ao conflito no enclave palestino, cujas negociações para uma trégua seguem paralisadas — inércia criticada pelos israelenses e seguida de perto pela comunidade internacional. No mesmo dia do embarque, o Fórum de Famílias dos Reféns e Desaparecidos anunciou que dois reféns morreram. Seus restos mortais, afirmou a organização, representam uma "cruel lembrança da urgência" de conseguir que os cativos sejam libertados e voltem para casa.

Nenhuma informação sobre a causa das mortes de Yagev Buchstab, de 35 anos, e Alex Dancyg, de 76, foi fornecida. O fórum destacou que as mortes dos reféns em cativeiro são "um reflexo trágico das consequências dos atrasos nas negociações". O Exército israelense afirmou por sua vez que os corpos dos homens "estão nas mãos" do grupo, e que as circunstâncias das mortes "estão sendo examinadas por todas as autoridades profissionais".

Ao deixar Israel, o premier classificou a visita desta segunda como uma “viagem muito importante” que ocorre em um momento de “grande incerteza política”, em referência à decisão de Biden de desistir da campanha à reeleição. Netanyahu, que não viaja a convite da Casa Branca, mas de líderes republicanos e democratas do Capitólio, tenta com a viagem recuperar sua imagem entre os israelenses e, com o discurso, apresentar-se "como o único líder capaz de se dirigir ao Congresso dos EUA", segundo o especialista em geopolítica da consultoria de segurança Le Beck Michael Horowitz. Os planos, porém, podem ser ofuscadas pelo último revés na política americana.

O premier deverá se reunir com o presidente de 81 anos na terça-feira para discutir os objetivos de Israel na guerra em curso. Também é esperada uma reunião com a vice-presidente Kamala Harris. A expectativa é de que as conversas se concentrem em um novo acordo para uma trégua, da qual os EUA fazem parte da mediação, e a libertação dos reféns, segundo afirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, durante um fórum de segurança em Aspen, nos EUA, na última sexta-feira. A viagem também deverá focar no pós-guerra, ponto de desacordo entre os aliados.

Biden tem deixado transparecer cada vez mais sua insatisfação com a resposta israelense ao ataque do Hamas, insistindo que os civis devem ser protegidos — 39 mil palestinos já morreram desde o início do conflito — e a ajuda humanitária permitida em Gaza. O presidente, que chegou a afirmar que Netanyahu estava "perdendo apoio internacional" por sua condução do conflito e falta de planos para o pós-guerra, afirmou em entrevista à revista americana Time no início de junho que "há todas as razões para as pessoas" concluírem que o premier estaria prolongando o conflito para se manter no poder. Depois da repercussão, Biden voltou atrás, e afirmou que o premier "está tentando resolver um problema sério".

A tensão não é por acaso: para além da questão humanitária e a entrada de ajuda no território palestino, a condução da guerra por Israel tem reflexos importantes na política interna americana, principalmente em ano de eleição — com a pressão maior vindo por parte da esquerda. Pesquisas do New York Times, Siena College e Philadelphia Inquirer mostraram que 13% dos eleitores que votaram em Biden na eleição passada, não planejavam fazê-lo novamente devido à sua política externa ou por conta do conflito no Oriente Médio. Apesar de Biden ter desistido da campanha, não se sabe como a questão poderá impactar o seu substituto ou substituta (sua vice, Kamala, recebeu seu endosso).

Segundo o site americano Político, citando pessoas familiarizadas com o assunto, Netanyahu solicitou uma reunião pessoal com o ex-presidente e atual candidato republicando para concorrer à Presidência, Donald Trump. Ainda de acordo com a reportagem, as equipes do premier e do republicano se reuniram nos últimos dias para explorar a ideia de uma reunião, mas Trump ainda não respondeu. Segundo a Axios, o magnata guarda rancor do premier há anos por ter parabenizado Biden em sua vitória nas urnas em 2020.

— A atmosfera nunca esteve tão tensa — Disse Steven Cook, especialista em Oriente Médio do Conselho de Relações Exteriores.

Netanyahu, deverá fazer um discurso ao Congresso no dia seguinte à reunião com Biden. Em seu convite, os quatro líderes da Câmara e do Senado disseram apoiar "o Estado de Israel em sua luta contra o terrorismo, especialmente neste momento em que o Hamas continua a manter cidadãos americanos e israelenses em cativeiro e quando seus líderes colocam em risco a estabilidade regional". O premier explicou que seu discurso procurará "ancorar o apoio bipartidário que é tão importante para Israel".

“Direi aos meus amigos de ambos os lados do Congresso que, independentemente de quem o povo americano escolher como seu próximo presidente, Israel continua sendo o aliado forte e indispensável dos Estados Unidos no Oriente Médio”, afirmou em um comunicado publicado minutos antes de seu embarque do aeroporto de Ben Gurion. Dezenas de legisladores democratas afirmaram que irão boicotar o pronunciamento por sua ações em Gaza, segundo a Axios.

A última viagem do premier a Washington ocorreu em setembro de 2020.

'Deveriam ter retornado vivos'

Alguns parentes dos reféns planejam viajar até Washington para protestar contra o discurso do premier. O fórum israelense destacou nesta segunda que os reféns mortos foram "capturados vivos" durante o ataque do Hamas em outubro e que, por isso, "deveriam ter retornado vivos às suas famílias". Durante o ataque, combatentes do Hamas sequestraram 251 reféns, dos quais 116 ainda estão em Gaza, incluindo 44 que teriam morrido.

Buchstab foi sequestrado em sua casa no kibbutz Nirim junto com sua esposa Rimon Kirsht, libertada após 50 dias em cativeiro, segundo o fórum. Dancyg, filho de sobreviventes do Holocausto, trabalhou no Yad Vashem, o Instituto Internacional para a Memória do Holocausto, e treinou milhares de guias. Reféns mantidos em cativeiro com ele relataram que o idoso dava palestras de história para outros cativos, de acordo com o fórum.

A população israelense e os familiares de reféns têm tomado as ruas e até acampado na frente da casa do premier para exigir um acordo que permita a libertação dos cativos remanescente em Gaza, apelo semelhante ao da comunidade internacional — incluindo os EUA. Netanyahu, que já foi acusado pelo Catar de tentar obstruir as conversas, anunciou dias antes da viagem que "pressão não vai funcionar".

Na quarta-feira, manifestantes se reuniram em Tel Aviv para protestar contra a visita. "Nada de viagens [a Washington] sem um acordo prévio", gritaram os israelenses.

Mortos no sul de Gaza

Enquanto Netanyahu busca melhorar sua imagem entre os israelenses e projetar uma liderança, os bombardeios seguem intensos em Gaza. Nesta segunda-feira, pelo menos 70 pessoas e mais de 200 ficaram feridas em Khan Younis, no sul do enclave após Tel Aviv pedir mais cedo à população para que deixasse a área.

O exército afirmou que estava prestes a lançar "uma operação intensiva contra organizações terroristas" e pediu para que os palestinos se deslocassem para o oeste, em direção à zona costeira conhecida pelas forças israelenses como "zona humanitária" de al-Mawasi, designada como zona humanitária, mas onde semanas antes uma operação israelense que mirava o líder do braço armado do Hamas, Mohammed Deif, deixou 90 mortos.

— Saímos em pânico. Gaza acabou. Gaza está morta. Não resta mais nada. Basta! — exclamou Hasan Qudayh à AFP.

(Com AFP e NYT)

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