Com chancela da China, lideranças de 14 organizações palestinas anunciaram nesta terça-feira que concordaram em formar um "governo provisório de reconciliação nacional" ao fim da guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza. Chamado de "Declaração de Pequim", o acordo tem a participação dos rivais Hamas, grupo terrorista que controla Gaza, e o Fatah, partido laico que lidera a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que governa parcialmente a ocupada Cisjordânia. Os dois grupos, que se distanciaram desde que o Hamas expulsou o Fatah de Gaza em 2007, divergem em uma série de questões, incluindo o reconhecimento da existência do Estado de Israel.
Entre os emissários dos 14 signatários, estiveram presentes na capital chinesa Mahmud al-Alul, enviado do Fatah, e Musa Abu Marzuk, um alto funcionário do Hamas, grupo que deixou quase 1,2 mil mortos ao invadir o sul israelense em 7 de outubro de 2023 — travando, desde então, a guerra contra Israel em Gaza.
— Hoje assinamos um acordo de unidade nacional e afirmamos que o caminho para completar essa jornada é a unidade nacional. Estamos comprometidos com essa unidade nacional e apelamos à sua realização — disse Abu Marzuk, representante do Hamas.
O Ministério das Relações Exteriores da China classificou o acordo como o "ponto mais alto" da reunião em Pequim. Além dos grupos palestinos e dos chineses, estiveram presentes na região representantes de Rússia, Egito e Argélia.
— A reconciliação é uma questão interna das facções palestinas, mas ao mesmo tempo não pode ser alcançada sem o apoio da comunidade internacional — disse Wang Yi, chanceler chinês. — [Pequim quer] desempenhar um papel construtivo na salvaguarda da paz e da estabilidade no Oriente Médio.
Plano em três etapas
O chanceler chinês também delineou um plano de três etapas para a guerra em Gaza: promover um cessar-fogo duradouro; defender o “princípio dos palestinos governando a Palestina”; e reconhecer o Estado da Palestina como parte de uma solução de dois Estados, com adesão plena à ONU.
Mahmud al-Alul, do Fatah, agradeceu à China pelo seu apoio à causa palestina.
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— Vocês têm o carinho e a amizade de todo o povo palestino — disse al-Alul, que não comentou o acordo.
Israel foi rápido a atacar o acordo e, em particular, o grupo liderado por Abbas, que mantém diálogo direto com o país.
"O Hamas e o Fatah assinaram um acordo na China para o controle conjunto de Gaza depois da guerra. Em vez de rejeitar o terrorismo, (o presidente da ANP) Mahmoud Abbas abraça os assassinos e violadores do Hamas, revelando assim a sua verdadeira face”, escreveu o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, em um comentário na rede X. " Isto não vai acontecer, porque o poder do Hamas será esmagado e Abbas vigiará Gaza de longe."
Mediação chinesa
Historicamente, a China tem demonstrado simpatia pela causa palestina e defende a criação de um Estado palestino, mantendo ao mesmo tempo boas relações com o Estado de Israel. O gigante asiático quer posicionar-se como um ator mais neutro do que os EUA, um aliado próximo de Israel.
Durante anos, a China demonstrou um firme desejo de desempenhar um papel relevante no Oriente Médio. No ano passado, Pequim surpreendeu ao promover uma aproximação entre a Arábia Saudita e o Irã, as duas grandes potências rivais na região. (Com AFP)
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