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Por O Globo e agências internacionais — Washington, D.C.

RESUMO

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GERADO EM: 24/07/2024 - 11:35

Protestos em Washington contra Netanyahu: tensões e divisões políticas

Capital dos EUA em alerta para protestos contra Netanyahu, com segurança reforçada. Tensões durante discurso no Congresso por manifestantes pró-Palestina. Divisões políticas evidenciadas; democratas boicotam evento. Visita polêmica em meio a críticas e pedidos por cessar-fogo em Gaza.

Pelo menos sete pessoas foram presas enquanto milhares se reuniram nesta quarta-feira nos Estados Unidos próximo ao Capitólio para protestar contra a guerra na Faixa de Gaza, que não dá sinais de trégua, e em repúdio ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que discursou ao Congresso em uma sessão conjunta. Carregando bandeiras palestinas, usando kufiyas (lenços palestinos), e segurando cartazes chamando o premier de "criminoso de guerra" e "primeiro-ministro do genocídio", cerca de 5 mil pessoas gritaram para que os EUA parassem de armar o Estado judeu, pediram um cessar-fogo no conflito e a prisão de Netanyahu, alvo de uma solicitação de mandado de prisão pelo procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan.

A Polícia do Capitólio afirmou em uma publicação no X que removeu e prendeu cinco pessoas na galeria da Câmara durante o discurso de Netanyahu. "Perturbar o Congresso e manifestar-se nos edifícios do Congresso é contra a lei", escreveu a organização. Mais cedo, o New York Times informou que alguns manifestantes foram presos após se manifestarem silenciosamente na galeria. Eles vestiam camisas com “Seal The Deal Now” (Sele o Acordo Agora) impresso nelas, uma referência ao acordo para cessar-fogo no enclave palestino, cujas negociações seguem paralisadas.

Ao menos duas pessoas também foram presas pela Polícia de Parques no Columbus Circle, em frente à Union Station, informou o New York Times. As prisões teriam ocorrida na sequência em que os manifestantes derrubaram três bandeiras dos EUA do lado de fora da estação e a incendiaram, o que atraiu aplausos. A multidão teria recuado com as prisões, embora mais de cem pessoas tivesse permanecido e gritado "Palestina livre". A Polícia Metropolitana, membros do Departamento da Polícia de Nova York e membros armados da Polícia do Parque, do estado bloquearam um cruzamento próximo à Union Station, em uma preparação para dispersar a multidão restante.

Minutos antes os manifestantes também atearam fogo em uma efígie de Netanyahu. A estação foi bloqueada ainda enquanto o premier discursa. O sino do lado de fora do local foi pichado com frases contra o conflito, e uma bandeira da Palestina foi hasteada no topo de um mastro. Algumas pessoas teriam ainda subido no memorial de Cristóvão Colombo e agitado bandeiras palestinas. Vários estrondos de origem desconhecida foram ouvidos.

Os manifestantes também caminharam pelas ruas do Capitólio gritando do "rio ao mar", frase usada pela causa pró-Palestina que faz referência às fronteiras do território palestino antes da criação do Estado de Israel em 1948. Houve confronto entre os pró-palestinos e policiais. A polícia do Capitólio afirmou em nota que “a multidão não obedeceu à ordem” de se afastar da linha policial, de modo que os policiais passaram a usar “spray de pimenta em qualquer um que tente infringir a lei e cruzar essa linha”. Vários manifestantes foram vistos lavando os olhos e o rosto em seguida.

Organizadores palestinos e judeus subiram em um palco e denunciaram os EUA e o governo israelense por “genocídio”, além de pedirem a “prisão do cidadão” de Netanyahu.

— Estamos horrorizados com a destruição do sistema de saúde em Gaza — disse Karameh Kuemmerle, da organização Médicos Contra o Genocídio, à AFP. — E estamos aqui para mostrar nossa oposição ao fato de o criminoso Netanyahu vir à nossa capital e ser recebido pelos políticos que lhe enviaram armas para matar crianças em Gaza.

Horas após a fala de Netanyahu no discurso, mais de cem pessoas ainda se concentravam em frente ao Tribunal Distrital dos EUA.

'Idiotas úteis do Irã'

Recentemente, Israel intensificou seus ataques a Gaza. Em sua fala, Netanyahu insistiu que somente a pressão militar pode libertar os reféns e derrotar o Hamas, objetivo que já foi rebatido inclusive pelo porta-voz do Exército, o contra-almirante Daniel Hagari. Netanyahu também declarou que muitos manifestantes pró-palestinos “escolhem ficar do lado do mal” e “deveriam ter vergonha de si mesmos”, classificando-os como "idiotas úteis do Irã".

— Por tudo o que sabemos, o Irã está financiando os protestos anti-Israel que estão acontecendo agora, do lado de fora deste prédio — acusou Netanyahu, acrescentando: — Se tornaram os idiotas úteis do Irã.

Antes da reunião no Capitólio, o premier agradeceu a Mike Johnson, republicano de Louisiana, por convidá-lo para discursar no país e disse que o apoio dos EUA era “crítico” para a segurança israelense. A comitiva do premier passou por mais de cem manifestantes contrários a ele portando bandeiras israelenses e faixas em apoio aos reféns do grupo terrorista Hamas em Gaza. Diante da crescente condenação internacional da guerra, o premier sinalizou que adotará um tom conciliatório, desejando mostrar a união entre “a América e Israel”.

Policiais entram em confronto com manifestantes pró-Palestina reunidos perto do Capitólio dos EUA em Washington antes do discurso do premier de Israel, Benjamin Netanyahu — Foto: Eric Lee/The New York Times
Policiais entram em confronto com manifestantes pró-Palestina reunidos perto do Capitólio dos EUA em Washington antes do discurso do premier de Israel, Benjamin Netanyahu — Foto: Eric Lee/The New York Times

A movimentação desta quarta já era esperada, e centenas de policiais de Nova York e de outras jurisdições foram mobilizados para ajudar a proteger as instalações governamentais. Mais cedo, a Polícia do Capitólio antecipou que “muitos manifestantes” apareceriam, e que o departamento “respeita os direitos garantidos pela Primeira Emenda”, mas que “todas as manifestações devem ser feitas de forma pacífica e legal”.

Kaz Daughtry, um comissário adjunto da Polícia de Nova York, escreveu no X que mais de 200 policiais do seu departamento foram “empossados como Oficiais Especiais da Polícia do Capitólio dos EUA para ajudar a policiar os eventos desta semana”. Seus agentes de segurança foram comparados pelos manifestantes, segundo o NYT, com o grupo supremacista branco Ku Klux Klan (KKK). Equipes de Maryland, Virgínia e Washington também fornecem reforços, e barreiras foram instaladas ao redor do Capitólio. Várias ruas foram fechadas.

O sargento de armas da Câmara, William McFarland, instou legisladores e suas equipes a usarem passagens subterrâneas até o Capitólio. Ele forneceu um contato para ser acionado caso algum funcionário se sinta “inseguro ou tenha alguma emergência”. As reuniões do líder israelense ocorrem dias após a tentativa de assassinato contra o ex-presidente Donald Trump – e depois que o presidente Joe Biden anunciou o encerramento de sua campanha por um segundo mandato.

Mas não foram apenas as ruas que registraram manifestações. Cerca de 50 funcionários da Câmara e do Senado, alguns usando óculos escuros e máscaras KN95 pretas, saíram de seus escritórios no Capitólio em protesto enquanto o premier israelense se preparava para discursar. Eles carregavam cravos vermelho-sangue enquanto se reuniam em frente ao prédio do Departamento do Trabalho americano. Os funcionários, vestindo roupas sociais, desenrolaram uma faixa com a frase: “A equipe diz para expulsar o criminoso de guerra do nosso Capitólio!”

'União Israel-EUA'

Durante o discurso, Netanyahu foi amplamente aplaudido, em sua esmagadora maioria por republicanos. Esta foi a quarta vez que o premier se dirigiu ao Congresso americano, um recorde para um dirigente estrangeiro e um privilégio normalmente reservado a líderes em visitas de Estado. Ele agradeceu ao presidente Biden, com quem tem divergências, por trabalhar para libertar os reféns israelenses detidos no enclave; por sua resposta rápida e por seu envio de dois porta-aviões.

— Nos encontramos hoje em uma encruzilhada da História. Nosso mundo está em convulsão. No Oriente Médio, o eixo do terror do Irã confronta a América, Israel e nossos amigos árabes. Isso não é um choque de civilizações. É um choque entre a barbárie e a civilização — disse Netanyahu em seu discurso na Câmara. — Para que as forças da civilização triunfem, os EUA e Israel devem permanecer unidos.

Série de protestos

Desde que chegou aos EUA, o premier israelense já provocou uma série de protestos na capital, incluindo uma manifestação num edifício do Congresso que terminou com várias prisões. Segundo publicado pela Associated Press, alguns dos protestantes condenaram Israel, enquanto outros expressaram apoio, mas pressionaram Netanyahu para fechar um acordo de cessar-fogo e trazer de volta os reféns que ainda estão sendo mantidos pelo grupo terrorista Hamas no enclave.

O primeiro-ministro israelense chegou a Washington na segunda-feira para uma visita que inclui reuniões com o presidente dos EUA, Joe Biden, e o discurso desta quarta-feira. Dezenas de manifestantes protestaram do lado de fora do hotel em que ele estava hospedado ainda na noite de segunda, e na tarde de terça-feira, centenas de pessoas realizaram um protesto estilo flashmob no Edifício Cannon, que abriga os escritórios dos membros da Câmara dos Representantes.

Organizado pelo grupo Jewish Voice for Peace, manifestantes vestiam camisas vermelhas com a frase “Not In Our Name” (Não em nosso nome). Eles se sentaram no chão, mostraram cartazes e gritaram “Let Gaza Live” (Deixe Gaza viver). Após meia hora de aplausos, policiais emitiram avisos e prenderam os protestantes que permaneceram no local. Muitos dos que estavam presentes criticaram a administração Biden e disseram que Netanyahu era “apenas um sintoma”.

— Eu sou filha de sobreviventes do Holocausto e sei como é um Holocausto — disse à AP Jane Hirschmann, nativa de Nova York, que foi para o protesto junto com suas duas filhas (ambas foram presas). — Quando dizemos ‘Nunca Mais’, queremos dizer nunca para ninguém. Como ele [Biden] pode estar pedindo um cessar-fogo quando está enviando bombas e aviões para Israel?

Tensões políticas

Antes de partir para Washington, Netanyahu disse desejar buscar “ancorar o apoio bipartidário que é tão importante para Israel”. Na Câmara, porém, as fileiras de assentos do lado democrata ficaram visivelmente mais vazias do que as do lado republicano, destacando as divisões do Congresso. Kamala Harris, a presumível candidata do Partido Democrata para as eleições presidenciais de novembro, se recusou a presidir o discurso do premier, como é tradicional para o vice-presidente, citando um “conflito de agenda”.

A deputada Alexandria Ocasio-Cortez, democrata de Nova York, disse que não assistiria ao discurso porque considera Netanyahu um “criminoso de guerra” pelas suas táticas no conflito, que já matou mais de 38 mil e causou um desastre humanitário. A deputada Rashida Tlaib, democrata do Michigan e a única palestina-americana no Congresso, também disse que não iria comparecer. Em nota, ela afirmou ser “vergonhoso que líderes de ambos os partidos tenham o convidado para discursar”.

“Ele deveria ser preso e enviado para o Tribunal Penal Internacional (TPI). É um dia triste para a nossa democracia quando os meus colegas sorriem para uma foto com um homem que está ativamente cometendo um genocídio”, escreveu a democrata.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu durante uma reunião em Israel com o presidente Joe Biden sobre a guerra com o Hamas na Faixa de Gaza, em 18 de outubro de 2023 — Foto: Kenny Holston/The New York Times
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu durante uma reunião em Israel com o presidente Joe Biden sobre a guerra com o Hamas na Faixa de Gaza, em 18 de outubro de 2023 — Foto: Kenny Holston/The New York Times

A deputada Ilhan Omar, de Minnesota, outra democrata progressista que condenou a forma como Israel conduziu a guerra, disse que não estaria presente e que daria os seus ingressos para convidados a familiares dos reféns. A deputada Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara, se recusou a dizer se participaria da sessão. No Senado, vários membros da bancada democrata também planejaram faltar ao discurso.

A divisão não é uma dinâmica totalmente nova para Netanyahu, que há muito tem uma relação difícil com os democratas. Quando ele se dirigiu ao Congresso em 2015, enquanto o governo do presidente Barack Obama trabalhava para fechar um acordo nuclear com o Irã (ao qual ele se opunha veementemente), pelo menos 58 democratas boicotaram o discurso dele. Naquele ano, Netanyahu foi convidado pelo presidente do Congresso, o republicano John Boehner, sem informar a Casa Branca.

Agora, o premier israelense se planejou para ter um encontro com o presidente Biden e a vice Kamala durante sua estadia em Washington. E, embora Mike Johnson tenha liderado o convite ao Capitólio, os quatro principais líderes do Congresso, incluindo dois democratas, endossaram. Isso não significa, porém, que todos estivessem entusiasmados para recebe-lo. No início deste ano, o senador Chuck Schumer pediu a renúncia de Netanyahu e a realização de novas eleições em Israel.

Na época, Schumer recusou-se a permitir que Netanyahu fizesse um discurso aos democratas do Senado, argumentando que não era útil para Israel que o primeiro-ministro se dirigisse aos legisladores americanos de forma partidária. Desde então, porém, ele tem afirmado que se juntou ao convite para Netanyahu discursar no Congresso porque “a relação dos EUA com Israel é inquebrável e transcende uma pessoa ou um premier”. (Com AFP, Bloomberg e New York Times)

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