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Por O Globo e agências internacionais — Washington

Entre protestos do lado de fora e acusações diretas ao Irã, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, falou no Congresso americano nesta quarta-feira, tentando exercer pressão e buscar mais ajuda militar em um contexto de tensão entre os dois países aliados após mais de nove meses de guerra em Gaza. A visita do dirigente israelense a Washington ocorreu em um momento de agitação política nos Estados Unidos, com a tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump, a desistência de Joe Biden da corrida à Casa Branca e a entrada de Kamala Harris na disputa. Também aconteceu em meio à pressão interna sofrida pelo premier pela ala de extrema direita de sua coalizão em Israel.

A fala de Netanyahu — em sua quarta vez no Congresso americano, um recorde para um dirigente estrangeiro e um privilégio normalmente reservado a líderes em visitas de Estado — foi amplamente focada em atacar o Irã e o grupo terrorista Hamas, pedindo uma Gaza "desmilitarizada e desradicalizada" no pós-guerra, mas também foi uma tentativa de vincular os interesses dos EUA aos de Israel.

— Nos encontramos hoje em uma encruzilhada da História. Nosso mundo está em convulsão. No Oriente Médio, o eixo do terror do Irã confronta a América, Israel e nossos amigos árabes. Isso não é um choque de civilizações. É um choque entre a barbárie e a civilização — disse Netanyahu logo no início de seu discurso de quase uma hora. — Para que as forças da civilização triunfem, os Estados Unidos e Israel devem permanecer unidos.

Também não fez menção às negociações de cessar-fogo, apesar de meses de pressão internacional para chegar a um acordo, dizendo apenas que a guerra poderia terminar "se o Hamas se rendesse, desarmasse e devolvesse os reféns".

Enquanto discursava, mais de 5 mil manifestantes pró-palestinos se reuniram para protestar contra o premier, alguns usando lenços palestinos, gritando para os Estados Unidos pararem de armar Israel. Alguns carregavam cartazes chamando Netanyahu de "criminoso de guerra" e o "primeiro-ministro do genocídio". Segundo relatos da imprensa internacional, a polícia chegou a usar spray de pimenta e dispositivos explosivos de efeito moral pouco antes do discurso começar, entrando em confronto com alguns manifestantes, com alguns sendo presos.

Netanyahu mencionou os protestos do lado de fora em um momento do discurso, chamando os manifestantes de "idiotas úteis do Irã" e dizendo que eles deveriam "ter vergonha de si mesmos":

— Pelo que sabemos, o Irã está financiando os protestos anti-Israel que estão acontecendo agora, do lado de fora deste prédio — acusou Netanyahu.

Acima de tudo, o primeiro-ministro israelense procurou reivindicar uma posição moral superior ao falar com os legisladores, agradecendo-lhes pelo apoio contra o Hamas e pedindo mais ajuda militar.

— Dê-nos as ferramentas mais rápido e terminaremos o trabalho mais rápido — disse Netanyahu.

Manifestante segura cartaz com os dizeres "Prendam esse bastardo!", com uma foto do premier israelense, Benjamin Netanyahu — Foto: ANDREW THOMAS / AFP
Manifestante segura cartaz com os dizeres "Prendam esse bastardo!", com uma foto do premier israelense, Benjamin Netanyahu — Foto: ANDREW THOMAS / AFP

Visita polêmica

A ida de Netanyahu a Washington não foi a convite da Casa Branca, mas dos líderes republicanos do Congresso, aos quais os democratas se juntaram relutantemente. Muitos congressistas democratas estão furiosos com a maneira como Netanyahu está conduzindo a guerra em Gaza — sendo esse um tema divisivo não somente no Congresso, mas entre os eleitores também —, e alguns já haviam anunciado que fariam um boicote ao discurso (como a ex-presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, muito influente no partido).

O boicote ficou evidente quando o premier chegou ao Congresso: muitos democratas ficaram de pé, mas não aplaudiram, incluindo o senador Chuck Schumer, líder da maioria no Senado, e a senadora Tammy Baldwin. Alguns membros, como a representante de Michigan, Rashida Tlaib, a única congressista palestino-americana, permaneceram sentados o tempo todo (a democrata, aliás, segurou uma placa com os dizeres "criminoso de guerra" durante todo o discurso). Quase 100 estagiários da Câmara e do Senado ligaram dizendo que estavam doentes para protestar contra o discurso, segundo o New York Times.

Anna Paulina Luna, republicana da Flórida, fala com Rashida Tlaib, democrata de Michigan, durante discurso de Netanyahu no Congresso — Foto: Saul Loeb / AFP
Anna Paulina Luna, republicana da Flórida, fala com Rashida Tlaib, democrata de Michigan, durante discurso de Netanyahu no Congresso — Foto: Saul Loeb / AFP

O momento da visita também evidenciou a tensão entre os países aliados de longa data. Nos últimos meses, o governo Biden criticou as consequências da resposta de Israel ao ataque do Hamas em 7 de outubro, o qual desencadeou a guerra na Faixa de Gaza. Washington insiste que Israel deve proteger mais os civis e permitir a entrada de ajuda humanitária, e já chegou a suspender a entrega de alguns tipos de bombas, o que provocou a ira do governo israelense.

Apesar disso e da relação complicada com o presidente, as referências de Netanyahu ao democrata foram elogiosas, agradecendo-o inicialmente por trabalhar para libertar os reféns israelenses mantidos pelo Hamas em Gaza, por sua resposta rápida e por seu envio de dois porta-aviões.

— Ele veio a Israel para estar conosco em nossa hora mais sombria — disse, agradecendo-o por ser "um orgulhoso sionista irlandês-americano".

Netanyahu deve se reunir com Biden nesta quinta-feira para discutir "a situação em Gaza", "progressos em direção a um cessar-fogo" e "um acordo sobre a libertação de reféns", de acordo com a Casa Branca. Kamala — que se recusou a presidir a sessão, como é tradicional para a vice-presidente, citando um conflito de agenda — conversará separadamente com o premier israelense no mesmo dia. A vice-presidente e candidata à nomeação do partido para as eleições de novembro tem sido mais crítica à conduta de Israel na guerra do que o próprio Biden.

Sobre Trump — com quem Netanyahu tem uma relação mais estreita —, o premier o agradeceu "por todas as coisas que ele fez por Israel", mencionando o reconhecimento da soberania israelense sobre as Colinas de Golã "até o enfrentamento da agressão do Irã", e "passando pelo reconhecimento de Jerusalém como nossa capital e a mudança da Embaixada Americana para lá". Ele também disse que "assim como os americanos, os israelenses ficaram aliviados" por ele ter sobrevivido à tentativa de assassinato em 13 de julho em um comício na Pensilvânia.

O premier deve se encontrar com o republicano na sexta-feira, em Mar-a-Lago, Flórida, a convite do próprio Trump.

Manifestantes pró-palestinos se reúnem perto do Capitólio dos EUA, em protesto à visita de Netanyahu a Washington — Foto: ANDREW THOMAS / AFP
Manifestantes pró-palestinos se reúnem perto do Capitólio dos EUA, em protesto à visita de Netanyahu a Washington — Foto: ANDREW THOMAS / AFP

Pós-guerra

Atualmente, a prioridade do presidente americano é pressionar Netanyahu a fechar um acordo de cessar-fogo com o Hamas, e alguns observadores suspeitam que o premier israelense está procrastinando por conta da pressão dos membros de extrema direita de seu governo.

As negociações estagnaram em maio e, desde então, o governo enfrenta uma crise interna, que resultou na dissolução do Gabinete de Guerra. No geral, há falta de consenso sobre a interrupção da guerra, com a ala radical do governo Netanyahu defendendo a continuidade até a eliminação total do Hamas, enquanto a oposição e a sociedade civil pressionam pelo retorno dos reféns.

Para Washington, se trata também de se preparar para o pós-guerra. Há uma grande divergência entre a administração Biden e o governo Netanyahu sobre a perspectiva de criar um Estado palestino.

Em 7 de outubro, o Hamas matou 1.197 pessoas, na maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento com base em dados oficiais israelenses. O Exército israelense estima que 116 pessoas permaneçam em cativeiro em Gaza, incluindo 44 que estariam mortas. Em resposta, Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma ofensiva que já matou mais de 39 mil pessoas em Gaza, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino. (Com AFP e NYT.)

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