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Por O Globo e agências internacionais — Washington

Depois de um encontro com o premier israelense, Benjamin Netanyahu, em Washington, a vice-presidente e virtual candidata democrata à Presidência, Kamala Harris, reiterou seu apoio a Israel, mas disse que "não ficará em silêncio" sobre a crise humanitária na Faixa de Gaza. Netanyahu, que também se reuniu com o presidente, Joe Biden, está sob pressão para aceitar um acordo de cessar-fogo no enclave palestino, que prevê o retorno dos mais de 100 reféns do grupo terrorista HMas.

Netanyahu chegou ao gabinete da vice-presidente no final da tarde desta quinta-feira, sem falar com a imprensa, e foi recebido de forma sucinta. Ele foi o primeiro líder estrangeiro a se encontrar com Kamala desde a saída de Biden da disputa pela reeleição, no domingo.

— Bem-vindo, sr. primeiro-ministro. Estou ansiosa pela nossa conversa. Temos muito o que conversar — disse Kamala, apertando a mão de Netanyahu. Em seguida, a imprensa foi retirada do local.

Em declarações à imprensa, após a reunião, Kamala disse ter um compromisso antigo com a defesa de Israel, chamou o Hamas de “uma brutal organização terrorista”, que cometeu atos “horrendos” de violência sexual e que sequestrou mais de 250 reféns — ela leu os nomes de alguns dos cidadãos americanos que ainda estão em Gaza.

Vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, em declarações de imprensa após reunião com o premier de Israel, Benjamin Netanyahu — Foto: ROBERTO SCHMIDT / AFP
Vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, em declarações de imprensa após reunião com o premier de Israel, Benjamin Netanyahu — Foto: ROBERTO SCHMIDT / AFP

A vice-presidente afirmou ter expressado a Netanyahu sua preocupação com a “terrível situação humanitária” no enclave palestino, citando a grave insegurança alimentar enfrentada por praticamente toda a população de cerca de dois milhões de pessoas.

— O que aconteceu em Gaza nos últimos nove meses é devastador. As imagens de crianças mortas, e das multidões desesperadas e famintas fugindo em busca de segurança, às vezes pela terceira, quarta vez: nós não podemos ignorar essas tragédias, e não podemos ignorar o sofrimento e não ficarei em silêncio — disse Kamala, defendendo um cessar-fogo. — Houve movimentos positivos nas conversas, e como disse ao primeiro-ministro Netanyahu, é hora de fechar esse acordo.

Kamala afirmou que a guerra em Gaza “não é um conflito binário”, e pediu aos americanos que tentem entender as complexidades da região.

— Vamos todos condenar o terrorismo. Vamos todos fazer o possível para evitar o sofrimento das pessoas. Vamos combater o antissemitismo, a islamofobia e todos os tipos de ódio — disse. — E nos deixem trabalhar para unir nosso país.

Kamala tem uma posição considerada equilibrada, mas com algumas lacunas, sobre Israel e a Palestina. Ela defende a solução de dois Estados e o apoio anual fornecido pelos americanos ao país, além de pacotes adicionais, como os aprovados desde o início do conflito em Gaza. Também condenou os ataques do Hamas em 7 de outubro, e participou de um fórum que discutiu as acusações de estupro cometidas por militantes do Hamas durante os atentados, uma alegação que enfrenta questionamentos entre os críticos de Israel.

Na quarta-feira, ela criticou manifestantes que queimaram uma bandeira americana durante protestos contra a presença de Netanyahu em Washington, afirmando que a "retórica pró-Hamas é abominável, ​​e não devemos tolerá-la em nossa nação".

Manifestantes pró-Palestina queimam bandeira dos EUA e boneco representando o premier israelense, Benjamin Netanyahu, em protesto em Washington — Foto: Matthew Hatcher / AFP
Manifestantes pró-Palestina queimam bandeira dos EUA e boneco representando o premier israelense, Benjamin Netanyahu, em protesto em Washington — Foto: Matthew Hatcher / AFP

Por outro lado, foi uma das poucas vozes dentro do governo Biden a pressionar seus colegas — incluindo o presidente — para que externaram preocupações com a crise humanitária em Gaza, onde, segundo o Ministério da Saúde local, quase 40 mil pessoas morreram, 90 mil ficaram feridas e centenas de milhares tiveram que sair de casa. Durante os protestos que tomaram os campi de universidades ao redor dos EUA, ao mesmo tempo em que expressou repúdio a discursos antissemitas, não atacou o movimento de forma geral, como fizeram vários de seus colegas dentro do Partido Democrata.

O marido de Kamala, Doug Emhoff, que é judeu, garante que ela será uma grande defensora do Estado de Israel, e também da manutenção da ajuda americana ao país, uma análise compartilhada por vários assessores da Casa Branca. Mas Kamala também dá sinais de que poderá ao menos recalibrar essa relação.

Segundo a CNN, ela tem sinalizado que, caso seja eleita em novembro, poderá indicar Phil Gordon, ex-integrante do governo de Barack Obama, como seu conselheiro de Segurança Nacional. Em 2016, ele escreveu, em artigo no Conselho de Segurança Nacional, que “a relação dos EUA com Israel estava em perigo”, citando as mudanças estratégicas ocorridas no Oriente Médio nas últimas décadas, incluindo sobre a Palestina. Mas poucos acreditam em mudanças radicais em um eventual governo Kamala.

— Ela sempre garantirá que Israel possa se defender de ameaças, inclusive do Irã e de milícias apoiadas pelo Irã, como o Hamas e o Hezbollah — disse o vice-conselheiro de segurança nacional de Kamala, Dean Lieberman, à CNN. — Podemos criticar políticas específicas do governo de Israel e ao mesmo tempo apoiar fortemente o Estado de Israel e o povo de Israel. E esse apoio a Israel não entra em conflito de forma alguma com a visão da vice-presidente de que o povo palestino merece liberdade, dignidade e autodeterminação.

Presidente dos EUA, Joe Biden (D), aperta a mão do premier israelense, Benjamin Netanyahu, antes de reunião na Casa Branca — Foto: Jim WATSON / AFP
Presidente dos EUA, Joe Biden (D), aperta a mão do premier israelense, Benjamin Netanyahu, antes de reunião na Casa Branca — Foto: Jim WATSON / AFP

Antes da reunião com Kamala, Netanyahu se encontrou com o Biden, que na véspera explicou aos EUA os motivos para abandonar a disputa pela reeleição, um ato, segundo ele, em defesa da democracia. Biden pediu ao líder israelense que finalizasse rapidamente um acordo sobre um cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns.

"O presidente Biden expressou a necessidade de fechar as lacunas restantes, finalizar o acordo o mais rápido possível, trazer os reféns para casa e chegar a um fim duradouro para a guerra em Gaza", de acordo com um comunicado da Casa Branca, que acrescentou que eles discutiram a "crise humanitária" no território palestino em conflito e a necessidade de remover obstáculos ao fluxo de ajuda.

Antes de se reunirem a portas fechadas no Salão Oval, ambos deram rápidas declarações à imprensa, nas quais Netanyahu pontuou que ambos se conhecem há 40 anos, e que Biden conheceu “todos primeiros-ministros” de Israel desde Golda Meir (1969-1974).

— De um orgulhoso judeu sionista para um orgulhoso sionista irlandês-americano, quero agradecê-lo pelos 50 anos de serviço público, e pelos 50 anos de apoio ao Estado de Israel — disse o premier — Estou ansioso para conversar com você hoje, e trabalhar em conjunto pelos próximos meses sobre os grandes temas diante de nós.

Pressão por acordo em Gaza

Se em público as aparências são as boas, nos bastidores o cenário é um pouco menos florido. Netanyahu se queixa das críticas vindas do governo americano — inclusive de Kamala Harris — sobre a condução da guerra em Gaza, em especial sobre a grave crise humanitária enfrentada pelos palestinos e pelo elevado número de mortos.

Apesar de garantir o apoio militar aos israelenses, algo reiterado em um bilionário pacote aprovado pelo Congresso, o governo apresenta algumas ressalvas sobre o uso das armas, como as chamadas “bombas burras”, que pesam quase uma tonelada, não têm sistema de navegação e foram usadas em grande quantidade sobre Gaza: em maio, Biden ordenou que um carregamento de 3,5 mil bombas desse tipo fosse suspenso, provocando a ira do premier israelense e aliados.

Durante o discurso de quarta-feira, Netanyahu cobrou que os EUA intensifiquem o envio de armas, mas a Casa Branca disse que nada muda por enquanto, inclusive sobre as bombas retidas.

Biden também pressiona Netanyahu para que aceite um acordo para suspender os combates em troca da libertação dos mais de 100 reféns que ainda estão em poder do Hamas. Na quarta-feira, um grupo de parentes dos capturados foi preso ao realizar um ato contra o premier no Congresso — eles não estavam entre os parentes que se reuniram com Biden e Netanyahu na Casa Branca nesta quinta-feira. Em entrevista coletivam após o encontro, o pai de uma das reféns disse que "algo poderá acontecer nos próximos dias", sugerindo novos termos colocados sobre a mesa pelos israelenses.

— Está tudo dentro da estrutura do acordo proposto em três etapas que o presidente anunciou no final de maio — disse o pai de Sagui Dekel-Chen, Jonathan Dekel-Chen, citado pelo jornal Times of Israel. — Penso que o primeiro-ministro compreende que neste momento os olhos do mundo não estão apenas voltados para o Hamas, mas também para ele. Porque muitos lados diferentes, tanto dentro de Israel, como mas também fora de Israel,estão dizendo que as condições existem.

Parentes de reféns mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza falam com a imprensa após reunião com o presidente dos EUA, Joe Biden, e o premier de Israel, Benjamin Netanyahu — Foto: Jim WATSON / AFP
Parentes de reféns mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza falam com a imprensa após reunião com o presidente dos EUA, Joe Biden, e o premier de Israel, Benjamin Netanyahu — Foto: Jim WATSON / AFP

Para John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, a decisão de Biden de abandonar a corrida eleitoral não deve afetar os esforços para egarantir um acordo sobre os reféns e sobre um cessar-fogo

— Não acreditamos que isso aconteça, e nas conversas que temos tido nas últimas horas, não há razão para suspeitar que a sua decisão de não concorrer à reeleição terá um impacto na nossa capacidade de conseguir o acordo — disse, em entrevista coletiva — Hoje [quinta-feira] é o 293º dia em que estes reféns estão mantidos em cativeiro pelo Hamas, e nas circunstâncias mais horríveis.

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