Após a divulgação de novos relatos sobre mortos, feridos e desaparecidos em protestos realizados nesta segunda-feira contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, o candidato da oposição Edmundo González Urrutia reconheceu que a indignação popular é “justificada”, mas lamentou as vítimas e pediu que as forças de segurança do país “respeitem a vontade do povo”. González Urrutia também pediu às Forças Armadas venezuelanas que suspendam a repressão às manifestações, que tiveram início após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) confirmar a reeleição de Maduro em meio à polêmica sobre a contagem de votos, e que respeitem a vontade dos eleitores expressa nas urnas: "Vocês sabem o que aconteceu", afirmou o opositor.
“Minha solidariedade está com o povo diante de sua justificada indignação. Infelizmente, nas últimas horas tivemos relatos de mortos, dezenas de feridos e detidos. Instamos as forças de segurança a respeitar a vontade expressa em 28 de julho (dia da eleição) e a cessar a repressão das manifestações pacíficas. Nós, venezuelanos, queremos paz e respeito à vontade popular”, escreveu González no X.
Balanços apresentados por ONGs atuantes na Venezuela indicaram que ao menos quatro pessoas morreram nos protestos. Outras 44 ficaram feridas, 749 foram detidas e 25 estão desaparecidas. Segundo a imprensa local, as forças de segurança venezuelanas dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes, que questionavam a reeleição reivindicada por Maduro. Em algumas localidades, como em bairros de Caracas, foram ouvidos disparos com arma de fogo.
Equipes antimotim foram implantadas para conter os manifestantes que, em alguns lugares, destruíram cercas com propaganda de Maduro – e derrubaram pelo menos cinco estátuas de Hugo Chávez, ex-presidente socialista que liderou o país por mais de uma década (1999-2013) e escolheu Maduro como seu sucessor. No que parece ser uma nova onda de protestos contra o governo (a 4ª durante a administração de Maduro) novamente atuaram grupos de civis armados pertencentes às forças de choque aliadas ao chavismo com a anuência das forças de segurança.
O ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, disse em um discurso televisionado que recebeu ordens de Maduro para reprimir as manifestações. Padrino López argumentou que as manifestações "são um golpe de Estado" que promovem "a extrema direita", afirmando que os protestos "absurdos" e "implausíveis" estariam sendo promovidos pelos EUA e países aliados. O ministro também afirmou que as forças expressam "absoluta lealdade" a Maduro.
"Às forças de segurança e às nossas Forças Armadas, pedimos que respeitem a vontade dos venezuelanos expressa em 28 de julho e parem com a repressão às manifestações pacíficas", disse González Urrutia em um vídeo, enfatizando: "Vocês sabem o que aconteceu no domingo. Cumpram seu juramento. A constituição está acima de tudo. Os venezuelanos querem paz e respeito à vontade do povo. A verdade é o caminho para a paz."
Diante dos relatos de mortos, feridos, detidos e desaparecidos, nesta terça-feira o Itamaraty pediu que os brasileiros que estejam em Caracas se mantenham informados sobre a situação de segurança na região e evitem aglomerações.
Após horas de incerteza no domingo, o CNE, órgão alinhado com o governo chavista, anunciou a reeleição de Maduro para um terceiro mandato de seis anos. Sem apresentar as atas das votações, o conselho eleitoral do país afirmou que, com 80% das urnas apuradas, o atual presidente venezuelano recebeu mais de 5,1 milhões de votos (cerca de 51,2%) contra 4,4 milhões (44,2%) obtidos pelo candidato opositor, o diplomata Edmundo González Urrutia.
O anúncio foi seguido pela contestação da oposição, que disse não ter tido acesso a 100% das atas de votação. A líder opositora, María Corina Machado – que chegou a vencer as primárias do país, mas foi inabilitada politicamente – disse ter cópias de 73% das atas de voto. Ela projetou a vitória de González com 6,27 milhões de votos (contra apenas 2,75 milhões de Maduro). María Corina declarou que nos próximos dias sua coalizão agirá para “defender a verdade”.
María Corina convocou assembleias de cidadãos em todo o país a partir das 11h (12h em Brasília) desta terça para “defender civicamente a vitória de Edmundo González Urrutia”. A manifestação central ocorrerá em frente à sede das Nações Unidas.
O chavismo, por sua vez, também convocou a população para ir às ruas. O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, instou os membros do Partido Socialista da Venezuela (PSUV) a se mobilizarem em Caracas em apoio a Maduro e em “defesa da paz”. Rodríguez incentivou as marchas a serem repetidas em todas as cidades do país. (Com AFP)
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