Era um dos primeiros dias de férias de verão no Reino Unido, e um grupo de meninas de 6 a 11 anos dançava ao som de músicas da cantora Taylor Swift num estúdio em Southport, no Reino Unido. Quando a aula, que também incluía ioga e confecção de pulseiras, estava chegando ao fim na manhã de segunda-feira, um agressor entrou no local, atravessou a sala com uma faca e esfaqueou as crianças e dois adultos. Eles estão em estado grave.
Duas meninas, identificadas como Bebe King, de 6 anos, e Elsie Dot Stancombe, de 7, morreram no mesmo dia, enquanto a terceira, Alice da Silva Aguiar, de 9 anos, morreu no hospital na manhã desta terça-feira. Outras oito crianças ficaram feridas, cinco das quais permanecem em estado grave. Dois adultos que tentaram protegê-las também estão feridos, segundo comunicado da polícia britânica.
“Continue sorrindo e dançando como você ama fazer, princesa”, disseram os pais de Alice em nota divulgada pela polícia. “Você sempre será nossa princesa e ninguém nunca mudará isso”, continuaram. José Cesario, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, disse nesta terça-feira à imprensa local que a menina era filha de portugueses.
Um adolescente de 17 anos que morava numa vila próxima foi preso ainda na segunda-feira sob suspeita de assassinato e tentativa de assassinato. Ele ainda está sendo interrogado pela polícia, que disse não saber o que motivou o ataque. Em nota, o órgão afirmou que o caso não está sendo tratado como “relacionado ao terrorismo”, e que os agentes de segurança não procuram por mais ninguém em conexão com ele.
As autoridades do Reino Unido alertaram contra especulações sobre a identidade do suspeito, que circulam online desde segunda-feira. A polícia disse que um nome que foi amplamente divulgado nas redes sociais como o responsável pelo crime estava incorreto. Pelas leis britânicas, jovens que estão sob investigação criminal não podem ser nomeados até completarem 18 anos, exceto em circunstâncias raras.
Taylor Swift, cuja música inspirou o evento de dança e ioga, expressou seu choque num comunicado nas redes sociais nesta terça-feira. “O horror do ataque de ontem em Southport está me assolando continuamente”, escreveu. “A perda de vidas e inocência, e o trauma horrível infligido a todos que estavam lá, às famílias e aos socorristas. Eram apenas crianças em uma aula de dança. Estou completamente sem palavras para expressar minhas condolências a essas famílias”.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, visitou Southport para prestar suas homenagens às vítimas e seus familiares na tarde desta terça-feira. Em comentários à imprensa, ele disse que essas pessoas estavam “passando por uma dor e luto tão intensos que a maioria de nós não pode imaginar”. Starmer apertou as mãos dos bombeiros e membros da equipe de ambulâncias que responderam ao ataque.
Cerca de 100 pessoas se reuniram, principalmente em silêncio, mas um homem gritou para o primeiro-ministro que ele “já tirou as fotos” e que deveria ir embora. O morador, que não quis ser identificado, pediu que o político fizesse “uma mudança real” na vida das pessoas. Líder do Partido Trabalhista britânico, Starmer tornou-se primeiro-ministro após vitória da sigla nas eleições gerais do início deste mês.
‘Como um filme de terror’
Também nesta terça-feira, pessoas deixaram flores e animais de pelúcia perto do local do ataque. Elas também publicaram nas redes sociais mensagens de apoio à professora Leanne Lucas, organizadora do evento, que foi uma das atacadas. Segundo a Associated Press, testemunhas descreveram o ocorrido como cenas “de um filme de terror”, com crianças ensanguentadas correndo para longe do ataque.
Joel Verite, um limpador de janelas que estava numa van em seu intervalo de almoço no momento do ataque, disse à Sky News que seu colega freou bruscamente e deu ré até onde uma mulher estava coberta de sangue. Ele disse que a vítima gritou que um homem “estava matando crianças” no local. Ela, que estava no telefone com a polícia, apontou para onde a violência ocorria e então desmaiou.
— Era como uma cena de um filme de desastre. Não consigo explicar o quão horrível foi o que eu vi — disse ele, que chegou a carregar uma menina inconsciente para fora do local e viu o adolescente com um moletom com capuz segurando a faca no topo de uma escada. — Eu pensei: ‘há mais pessoas lá dentro’. Só queria machucá-lo muito, mas estava com medo por mim mesmo e queria ajudar as pessoas.
Um grupo de fãs da cantora Taylor Swift no Reino Unido, que se autodenominam “Swifties for Southport”, lançou uma campanha de arrecadação de fundos online para ajudar as famílias das vítimas. De acordo com a AP, o grupo arrecadou mais de 100 mil libras (cerca de R$ 720,9 mil, na cotação atual) em apenas 24 horas. Os organizadores do coletivo disseram que o valor seria destinado ao Hospital Infantil Alder Hey, onde muitos dos feridos foram tratados.
Tiroteios em massa e assassinatos com armas de fogo são raros no Reino Unido, onde facas foram usadas em cerca de 40% dos homicídios no ano até março de 2023. À AP, Iain Overton, diretor executivo da organização Action on Armed Violence, que realiza pesquisas sobre o impacto da violência armada global, disse que a maioria dos ataques com facas são “um a um e pessoais”, ocorrendo com mais frequência em casos de violência doméstica ou relacionados a gangues. (Com AFP e NYT)
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