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Por — Caracas

Pelo segundo dia consecutivo, milhares de pessoas protestaram em várias cidades da Venezuela contra a anunciada reeleição do presidente Nicolás Maduro, em um processo eleitoral apontado como fraudulento pela oposição e não reconhecido por parte da comunidade internacional. Em menos de 24 horas, foram registradas quase 750 detenções nas manifestações, com informações da prisão, separadamente, de dois líderes da oposição. Segundo quatro organizações dos direitos humanos, ao menos 11 manifestantes morreram nos atos, além de um oficial das forças de segurança, e há dezenas de denúncias de desaparecimentos.

— Há 11 mortos nos protestos. Cinco [foram] assassinadas em Caracas. Preocupa-nos o uso de armas de fogo nessas manifestações — declarou Alfredo Romero, diretor da ONG Foro Penal Venezolano, ao detalhar que há dois menores de idade entre os mortos.

Na capital, Caracas, a maioria dos negócios fecharam, e nos que permaneceram abertos houve filas de pessoas para comprar provisões — muitos venezuelanos preferiram resguardar-se em casa com medo de uma escalada da violência. Em meio à repressão, EUA, ONU e União Europeia fizeram um apelo para que as forças de segurança garantam a liberdade de protesto, mas as Forças Armadas, alinhadas ao chavismo, expressam "absoluta lealdade" a Maduro e classificam de 'golpe de Estado' os protestos contra governo.

Em uma declaração televisionada durante uma reunião conjunta do Conselho de Estado e do Conselho de Defesa da Nação, Maduro sinalizou que não amenizará sua posição ao alegar que o país é alvo de uma "investida internacional, mundial, do imperialismo americano, de Elon Musk, da direita internacional extremista". Também acusou a Colômbia, afirmando que o país seria o centro da conspiração ao supostamente fornecer armas para os manifestantes e financiar, por meio do narcotráfico, o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia, que concorreu como principal candidato opositor após a inabilitação da líder antichavista María Corina Machado.

Antes do pronunciamento de Maduro, o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, pediu ao Ministério Público que prenda María Corina e González, afirmando que com o "fascismo não se dialoga, não se dá benefícios processuais, não se perdoa".

— Ele [González] sabia de tudo, seu comando não era a campanha, mas a ação violenta — disse Rodríguez perante o Parlamento, controlado pelo chavismo.

Apesar de, durante a campanha, González ter sido alvo constante de ataques por parte de altos funcionários do governo, essa é a primeira vez que alguém pede sua prisão. Já María Corina virou na segunda-feira alvo de uma investigação por um suposto ataque hacker ao sistema eleitoral, que, dizem analistas, seria quase impossível de violar.

Ameaças de novas prisão

Mais cedo, em declaração na sede do Ministério Público, o procurador-geral, Tarek William Saab, anunciou a prisão de 749 pessoas após o primeiro dia de manifestações, na segunda-feira, afirmando que aqueles que destruíram o patrimônio público serão processados por “atos de terrorismo”. A acusação, indicou, pode ser estendida a líderes opositores que "instigaram" a população sair às ruas — em referência a María Corina, que, na concentração que convocou na véspera no leste de Caracas, disse nesta terça-feira ter em mãos 84% das atas eleitorais que confirmariam a vitória de González.

Saab, que também anunciou um oficial das Forças Armadas e outros 46 feridos, culpou a oposição por "incitação ao ódio" e disse que o grupo fez um "chamado para exterminar e matar venezuelanos" ao estimular as manifestações.

Agentes de segurança levaram nesta terça-feira de sua casa o opositor Freddy Superlano, do Vontade Popular (VP). Em um vídeo divulgado nas redes sociais, é possível ver o político sendo levado por agentes da Inteligência Bolivariana e se desfazendo de seu celular. Horas depois, também foi anunciada a prisão do dirigente político Ricardo Estévez, do Vem Venezuela (partido de María Corina), que teria sido tirado à força de seu carro após duas caminhonetes sem placas o terem interceptado.

A detenção de Superlano foi informada na rede X pelo VP, que afirmou: “Devemos denunciar responsavelmente ao país que há poucos minutos nosso coordenador político nacional Freddy Superlano foi sequestrado”. Há informações de que, juntamente com ele, seu sobrinho e outra pessoa também foram levados.

Na sessão parlamentar, o deputado Diosdado Cabello, vice-presidente do governista PSUV, indicou que haverá mais prisões de dirigentes opositores, afirmando que outros dez já estão na mira da Justiça chavista.

— Temos as conversas e as comunicações, [independentemente] de como se chamem, do sobrenome que tenham, irão presos.

Estátuas atacadas

Ao menos cinco estátuas em homenagens ao ex-presidente venezuelano Hugo Chávez foram derrubadas em meio aos protestos. Além da localizada no estado de Falcón, a primeira a ser alvo, manifestantes atacaram outras nos estados de Guárico, Aragua e Miranda. Segundo o jornal venezuelano La Patilla, desde a morte de Chávez, em março de 2013, mais de dez estátuas foram erguidas em homenagem ao líder chavista em todo o país.

Em seu pronunciamento, o procurador-geral Saab mencionou a destruição dos monumentos, além de um incêndio na sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) no estado de Falcón e no gabinete do prefeito em Puerto La Cruz, no estado de Anzoátegui. Mostrando vídeos, Saab classificou os atos de criminosos e rejeitou os protestos seriam espontâneos, como María Corina havia afirmado inicialmente na segunda-feira.

— [São] grupos criminosos armados, que agem encapuzados para atacar, criar o caos e fazer com que isso se amplie em nível nacional e se transforme em eventos de massa, porque a mensagem deles é buscar intervenção estrangeira — afirmou o procurador-geral.

Vídeo mostra líder de oposição na Freddy Superlano sendo detido na Venezuela, diz partido

Vídeo mostra líder de oposição na Freddy Superlano sendo detido na Venezuela, diz partido

Resultado contestado

Com 80% das urnas apuradas, o CNE anunciou na madrugada de segunda-feira a reeleição do chavista para um terceiro mandato de seis anos com mais de 5,1 milhões de votos (cerca de 51,2%) contra 4,4 milhões (44,2%) obtidos por González. Segundo a oposição, no entanto, González teria recebido 6 milhões contra apenas 2,7 milhões de votos de Maduro, menos de 30%.

Diversas organizações internacionais e representações diplomáticas cobraram uma auditoria do resultado e a divulgação dos dados totais das urnas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou o governo de Maduro a contar os votos “com total transparência” e a liderança política a agir “com moderação”.

O Brasil solicitou, por meio de seu Ministério das Relações Exteriores, a publicação das apurações das atas para dar “transparência e legitimidade” à contagem dos votos. Em Caracas, o assessor especial para assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, encontrou-se com Maduro e com González na segunda-feira para discutir a votação. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, os encontros tiveram um "clima cordial" e o chavista prometeu ao ex-chanceler brasileiro que seu governo apresentaria as atas eleitorais "nos próximos dias".

O Centro Carter, que atuou como um dos poucos observadores internacionais no país, pediu ao CNE na segunda-feira que publicasse “imediatamente” os registros eleitorais. Nesta terça, em meio ao aumento dos protestos, anunciou que vai retirar seus funcionários do país e suspendeu a divulgação de um informe preliminar sobre a votação.

Mais recente Próxima Eleições na Venezuela: Rússia, China, Irã, Nicarágua e Coreia do Norte estão entre países que parabenizaram Maduro por reeleição

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