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Por O Globo, com agências internacionais

RESUMO

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GERADO EM: 31/07/2024 - 09:31

Impacto do assassinato de Ismail Haniyeh no Hamas e políticas do Oriente Médio.

O assassinato de Ismail Haniyeh é um golpe para o Hamas, mas a estrutura do grupo o protege de desestabilizações. O histórico de líderes mortos é superado pela organização. A escolha do próximo líder será crucial, com possíveis desdobramentos na política do Oriente Médio.

Morto em um ataque aéreo em Teerã, Ismail Haniyeh era a principal figura a gerenciar as relações internacionais do Hamas e um dos rostos mais reconhecidos do grupo ao redor do mundo. De sua base em Doha, no Catar, ele é apontado por Israel como um dos incentivadores do ataque terrorista de 7 de outubro, fez discursos inflamados transmitidos por todo o mundo árabe e era peça central nos diálogos sobre cessar-fogo em Gaza. Apesar da notoriedade, seu assassinato no Irã dificilmente desestabilizará o Hamas a longo prazo — observando que o grupo se recuperou da eliminação de líderes anteriores.

— Seu assassinato é um grande golpe — disse Ibrahim Madhoun, um analista de Istambul próximo ao Hamas, em uma entrevista ao New York Times. — [Mas] O Hamas enfrentou essa situação no passado [e] saiu desses cenários mais forte.

A longa lista de líderes do Hamas mortos por Israel inclui Ahmed Yassin, fundador e líder espiritual, em 2004; Salah Shehadeh, o fundador do braço armado do grupo, em 2002; Abdel Aziz Rantisi, um líder sênior em Gaza, em 2004; e Ahmed al-Jabari, um alto comandante, em 2012. Oficialmente, o Estado judeu não reivindicou ou negou a autoria ataque que levou à morte de Haniyeh.

Por décadas, o nome de Haniyeh foi sinônimo do Hamas, pois ele serviu em algumas das posições mais proeminentes do grupo. Ele também desempenhou um papel de alinhamento entre as alas militar e política. Mas a confiança do Hamas em suas instituições, e não em indivíduos específicos, ajudou-o a superar os assassinatos de seus líderes no passado, disse Mkhaimar Abusada, professor de ciência política da Cidade de Gaza.

— Há um foco em certas pessoas no Hamas — disse o cientista político. — Mas a ausência dessas pessoas não leva a um vácuo [de poder], porque o Hamas tem instituições e essas instituições estão prontas para preencher qualquer perda.

Aiatolá do Irã, Ali Khamenei, recebe o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã — Foto: IRANIAN SUPREME LEADER'S WEBSITE / AFP
Aiatolá do Irã, Ali Khamenei, recebe o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã — Foto: IRANIAN SUPREME LEADER'S WEBSITE / AFP

O próximo chefe político do Hamas provavelmente será uma figura que esteja fora da Cisjordânia e de Gaza, porque a posição geralmente exige viagens. A decisão sobre a liderança deve ser tomada pelo Conselho Shura, um órgão colegiado consultivo da organização palestina, formada por integrantes do movimento.

Khaled Meshal, ex-chefe desse gabinete, está entre os candidatos para substituir o Haniyeh. Meshal está há muito tempo exilado em Doha e costumava sentar-se ao lado do líder morto em reuniões com ministros e representantes visitantes.

— Ele pode reunir mais unanimidade no Hamas do que qualquer outra pessoa — disse Azzam Tamimi, autor de um livro sobre o grupo palestino e amigo de pessoal de Meshal.

Mousa Abu Marzouk e Khalil al-Hayya, ambos altos funcionários do Hamas em Doha, também podem ser indicados como sucessores, disse Tamimi. Marzouk foi o representante citado no comunicado em que o grupo comunicou a morte de Haniyeh, classificando o ataque como uma "covardia" e garantindo que o ato "não ficará impune".

Escalada regional e situação em Gaza

Se a morte de Haniyeh tem impacto limitado na continuidade das operações da organização palestina, as circunstâncias de seu assassinato complicam ainda mais a situação geopolítica no Oriente Médio. Pouco após a confirmação da morte, Irã e Hamas culparam Israel, prometendo vingança. O fato do ataque ter acontecido em solo iraniano fez com que o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, chamasse de "dever" a resposta do país a Israel.

Um conflito direto entre o Irã — líder do chamado Eixo da Resistência — e Israel é uma das principais preocupações da comunidade internacional desde o início da guerra em Gaza. Embora vários grupos da organização tenham atacado Israel desde o início do conflito, incluindo o movimento libanês Hezbollah — atacado um dia antes em Beirute, por um bombardeio israelense — há temores de que as últimas ofensivas possa levar a uma escala que amplie o conflito regionalmente e em poder bélico.

Geraldo Alckmin aparece perto de líder do Hamas horas antes de Ismail Haniyeh ser morto

Geraldo Alckmin aparece perto de líder do Hamas horas antes de Ismail Haniyeh ser morto

A eliminação de alvos em território libanês e iraniano— se confirmado que o segundo partiu de Israel — apesar de abrirem caminho para uma represália direta, não tem como implicação prática uma resposta imediata, segundo a ex-diplomata israelense Revital Poleg, colaboradora do Instituto Brasil-Israel (IBI). Apesar das promessas de vingança, a especialista aponta que cada país terá que fazer cálculos específicos antes de assumir o ônus de uma guerra com Israel e seus aliados.

— Estamos em um ponto delicado regionalmente. É verdade que o Irã ameaçou retaliar e que existe um perigo, mas não tenho certeza de que é isso que Teerã quer — afirmou Revital, afirmando que é cedo para dizer como, onde e quando haverá uma retaliação. — Cada parte tem que pensar em seus interesses. O Irã tem que pensar o que é melhor para o país, e não necessariamente este é o momento mais indicado para fazerem algo.

Em paralelo à preocupação de uma crise regional, a morte do líder do Hamas também criou dúvidas sobre a continuidade do cessar-fogo em Gaza, uma vez que Haniyeh era uma das principais vozes no diálogo com os mediadores no Catar e no Egito. Contudo, analistas apontam que o grupo tem poucas cartas para jogar por conta própria, após quase 10 meses de guerra em Israel.

Abusada, o professor de ciência política palestino, afirmou que as negociações provavelmente serão interrompidas por dias ou semanas, mas a situação no campo militar deve forçar o grupo palestino a tentar um acordo.

— Suas escolhas são limitadas — disse o professor, observando que a ala militar do Hamas havia sido enfraquecida em Gaza. O grupo, disse ele, poderia decidir responder lançando um ataque na Cisjordânia ocupada por Israel.

Embora considere que há perigo de uma deterioração em Gaza, com possíveis impactos nos reféns, Revital disse que a janela de negociação não se fechou completamente, e que um cessar-fogo, mesmo com o chefe do gabinete político, passava pelo cálculo da liderança do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar.

Líder militar do Hamas desde 2017, Yahya Sinwar é apontado como o maior responsável pelos ataques de 7 de outubro a Israel — Foto: Mohammed Abed/AFP
Líder militar do Hamas desde 2017, Yahya Sinwar é apontado como o maior responsável pelos ataques de 7 de outubro a Israel — Foto: Mohammed Abed/AFP

— Eu temo que [a morte de Haniyeh] possa afetar a situação dos reféns, [mas] o Hamas sabe que eles tem um valor, um preço que podem cobrar. Depende muito do que Sinwar quer fazer — disse a ex-diplomata. — Sinwar é quem manda no Hamas, não era Haniyeh. A última palavra em todas as negociações são de Sinwar, não de Haniyeh. Ele tinha seu peso, mas a última palavra é de Sinwar.

Avaliação da operação

Embora Israel não tenha confirmado ou negado o envolvimento na morte de Haniyeh, a capacidade israelense de operação em território iraniano já foi relatada por analistas ao longo dos anos. Muitos apontaram este caso específico como uma demonstração das capacidades dos serviços secretos do Estado judeu.

— Este assassinato mostra que todo o sistema de inteligência israelense é muito bem desenvolvido para ter todas as informações e, portanto, permitir o lançamento deste tipo de operação — disse Agnes Levallois, vice-presidente do Instituto de Pesquisa e Estudos para o Mediterrâneo e Oriente Médio (IREMMO), sediado em Paris.

Apesar disso, há uma outra linha de análise que aponta que a eliminação de Haniyeh demonstra uma mudança na doutrina israelense sobre ataques diretos em território estrangeiro. Em um artigo para o jornal israelense Haaretz, Yossi Melman, correspondente de assuntos estratégicos e inteligência, afirmou que a guerra em Gaza parece ter ampliado as ocasiões em que esse tipo de tática se tornou admissível na visão da cúpula militar.

"Os ataques a Haniyeh e [Fuad] Shukr [líder do Hezbollah morto um dia antes no Líbano] não mudam o jogo. No passado, Israel utilizou assassinatos seletivos de terroristas palestinos ou de cientistas nucleares iranianos como último recurso e como parte de uma estratégia mais ampla. Os assassinatos destinavam-se a servir objetivos diplomáticos significativos. Mas desde o início da guerra, que se arrasta há 10 meses, parece que a doutrina do assassinato seletivo tornou-se um fim em si mesma", escreveu. (Renato Vasconcelos, com NYT)

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