O subsecretário de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, afirmou nesta quarta-feira que o candidato oposicionista na Venezuela, Edmundo González, recebeu mais votos do que o presidente, Nicolás Maduro, na eleição ocorrida no domingo, com base em atas divulgadas pela oposição. A declaração foi a mais contundente vinda de uma autoridade de Washington, e deve colocar ainda mais pressão sobre as autoridades venezuelanas, que declararam Maduro o vencedor.
— Está claro que Edmundo González Urrutia derrotou Nicolás Maduro por milhões de votos — disse Nichols, durante reunião na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington.
No discurso, o diplomata, o principal do governo de Joe Biden para a América Latina e Caribe, considerou válidas as atas divulgadas pela oposição desde domingo, que apontam para uma diferença considerável a favor de González. O números têm sido divulgados pela internet, apesar das tentativas de bloqueio organizadas pelo regime. O Brasil afirmou que não aceitará contagens paralelas.
— A tabulação destes resultados detalhados mostra claramente uma verdade irrefutável: Edmundo Gónzalez Urrutia venceu com 67% desses votos, em comparação com 30% de Maduro — disse o Nichols, citando números divulgados pelos oposicionistas. — E simplesmente não há votos suficientes nos restantes registos de recontagem para superar tal diferença.
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O diplomata não sinalizou se a aceitação das atas divulgadas pela oposição é um prelúdio para um eventual reconhecimento de González como presidente eleito, ou se o Departamento de Estado e a Casa Branca poderão adotar outras formas de pressão contra Caracas, incluindo sanções.
Na véspera da fala de Nichols, Biden conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e, segundo a Casa Branca, ambos "concordaram sobre a necessidade de divulgação imediata de dados de votação completos, transparentes e detalhados no nível de seção eleitoral pelas autoridades eleitorais venezuelanas"
"Os dois líderes compartilharam a perspectiva de que o resultado da eleição venezuelana representa um momento crítico para a democracia no hemisfério e prometeram permanecer em estreita coordenação sobre o assunto", dizia o comunicado.
Anunciada no domingo e referendada na segunda-feira, a vitória de Nicolás Maduro foi reconhecida por poucos países, incluindo Irã, Rússia e China, mas questionada por boa parte da comunidade internacional. O Peru chegou, na terça-feira, a reconhecer o oposicionista como o "presidente eleito", mas outros governos, incluindo Brasil, Colômbia e México, tentam convencer Caracas a divulgar as atas individuais das seções, o que, alega a oposição, comprovaria que o chavista foi derrotado.
Maduro prometeu entregar as atas, mas sem especificar quando, ao mesmo tempo em afirmou que os líderes opositores que denunciam fraude "devem estar atrás das grades".
— Ou sabem que os resultados reais mostram que Edmundo González venceu claramente as eleições e não querem compartilhar os resultados. Ou sabem que os resultados reais mostram que Edmundo González venceu claramente as eleições e a CNE de Maduro precisa de tempo para preparar resultados falsificados para apoiar sua declaração falsa — disse Nichols na OEA.
Desde o anúncio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), de que Maduro havia vencido a disputa com 51,2% dos votos, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra os resultados, com o apoio de lideranças de oposição, incluindo María Corina Machado, inabilitada por 15 anos. O Ministério Público afirma que 1.062 pessoas foram presas desde segunda-feira, e a ONG Foro Legal afirma que 13 pessoas morreram, um número não confirmado pelo governo.
Além do discurso de Brian Nichols, a reunião da OEA foi marcada pela rejeição de uma resolução para exigir transparência ao governo da Venezuela sobre as eleições do último domingo. A proposta exigia, entre outras coisas, que o CNE "publicasse imediatamente os resultados das eleições presidenciais de cada centro de votação", bem como "uma verificação integral dos resultados na presença de observadores internacionais para garantir a transparência, credibilidade e legitimidade" do pleito.
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Apesar de receber 17 votos a favor, o texto não obteve os 18 necessários no plenário para ser aprovado — não houve votos contrários, mas 11 nações se abstiveram, incluindo Brasil e Colômbia. Cinco países não compareceram à reunião, incluindo a própria Venezuela.
— Depois nos perguntamos por que nossos cidadãos, principalmente nossos jovens, não acreditam nos políticos — declarou o representante do Peru na OEA, Javier González-Olaechea. — Todos aqui, incluindo os ausentes e os que se abstiveram, votaram a favor da Carta Democrática [da OEA], instrumento pensado para abortar os regimes que querem se perpetuar no poder.
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