Mundo
PUBLICIDADE

Por O Globo — Rio e Nova York

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 01/08/2024 - 17:51

Estudo indica vitória da oposição na Venezuela baseado em análise de atas eleitorais: González vence Maduro segundo o projeto AltaVista

Estudo indica vitória da oposição na Venezuela, baseado em metodologia do projeto AltaVista que analisou atas eleitorais. Dados apontam González como vencedor, desafiando resultado oficial de Maduro. Pesquisa independente reforça tendência. Críticas apontam possíveis viés e incertezas, mas destacam consistência estatística. Debates sobre integridade eleitoral e desafios de coleta de dados também são abordados.

Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros, venezuelanos e americanos a partir de uma amostra das atas eleitorais da Venezuela indica que o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, venceu a eleição presidencial no domingo com 66,1% dos votos contra 31,3% do presidente Nicolás Maduro, avançando inclusivo sobre sólidos redutos do chavismo. Os dados do levantamento, obtidos pela coluna Malu Gaspar, também foram analisados pelo New York Times, que conseguiu chegar aos resultados com uma margem de erro de 2 pontos percentuais.

O trabalho, feito a partir de 997 atas, faz parte do projeto AltaVista, que desenvolveu uma metodologia para projetar o resultado eleitoral na Venezuela usando dados geográficos e tendências históricas de votação. O grupo, formado por pesquisadores das Universidades de Michigan (EUA), da Federal de Pernambuco (UFPE) e de uma instituição da Venezuela, se organizou por meses para desenvolver um modelo estatístico e recolher os boletins de urna fornecidos por voluntários.

Os resultados são bem próximos dos reivindicados pela oposição. Em uma apuração paralela disponibilizada na internet, González aparece com 67% dos votos válidos contra 30% de Maduro, num universo de 81,8% de atas digitalizadas. Os boletins obtidos pelos opositores foram disponibilizados em um portal, mas O GLOBO não conseguiu verificar a sua autenticidade.

Contudo, os resultados da AltaVista são consistentes com uma pesquisa de boca-de-urna independente realizada pela Edison Research no dia da eleição. Baseado em entrevistas com 7 mil eleitores em 100 seções eleitorais, o levantamento apontou a vitória de González por 65% contra 31% do chavista.

Na segunda-feira, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou a reeleição de Maduro com 51% dos votos – um resultado que observadores eleitorais que acompanharam o pleito, como o Centro Carter, não reconhecem por não terem tido acesso às atas. Mais de 40 países exigiram que o governo apresente as atas, incluindo 17 Estados-membro da Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia. Em encontro com o assessor especial Celso Amorim em Caracas, Maduro afirmou, um dia após a votação, que apresentaria as atas "nos próximos dias", o que não foi feito até o momento.

As atas nada mais são do que boletins das urnas eletrônicas que, como no Brasil, são emitidos pelas máquinas após o encerramento da votação tanto para a conferência dos resultados pela população e por fiscais quanto para auditar os votos computados, totalizados e disponibilizados pela autoridade eleitoral. A mesma informação impressa é registrada digitalmente em uma ata eletrônica criptografada e enviada ao CNE.

Entenda a metodologia

Para projetar o resultado, o AltaVista analisou a tendência eleitoral das seções eleitorais ao longo das eleições presidenciais de 2013, quando Maduro se elegeu pela primeira vez, das parlamentares de 2015 e 2020 e os pleitos regionais de 2021, e as separou em uma escala de sete classificações que partem dos locais com mais votos pró-oposição e vão até os que se demonstraram mais pró-governo.

Os pesquisadores distribuíram, então, os estratos por regiões e aplicaram uma fórmula para selecionar 1500 seções eleitorais aleatoriamente para que representassem o eleitorado nacional. Prevendo eventuais dificuldades, os autores já haviam elaborado antes do pleito uma fórmula para corrigir discrepâncias caso a meta de 1500 não fosse atingida.

Para garantir que não houvesse viés na escolha dos locais de votação, a seleção das seções foi divulgada antes do dia da eleição em uma plataforma digital pública. Após o fechamento das urnas, o AltaVista começou a coletar cópias digitalizadas das atas obtidas por voluntários da oposição. Ao final, o grupo conseguiu reunir 997 atas, cerca de 3% das 30 mil urnas do país. Os dados, incluindo imagens dos boletins digitalizados, foram tornados públicos na terça-feira.

Avanço em redutos chavistas

O trabalho apontou a liderança de González sobre Maduro em seis dos sete estratos de apoio. Mesmo no recorte com as seções de maior tendência histórica de apoio ao governo, a diferença de votos foi de apenas 0,34 ponto percentual a favor do venezuelano. O resultado apertado e a prevalência de González nos estratos intermediários apontam para um avanço da oposição em territórios chavistas nos últimos dez anos.

— Sempre há uma pequena possibilidade [estatística] de, mesmo dentro desses estratos, acontecer algum problema, como as atas eleitorais que foram analisadas serem um pouco mais pró-oposição do que outras — disse à coluna Raphael Nishimura, pesquisador da Universidade de Michigan (EUA) que atuou no levantamento como consultor externo de estatística. — Ainda assim, as diferenças que constatamos são tão grandes que seria muito difícil que todas as atas que não foram contadas fossem pró-Maduro.

Ainda segundo Nishimura, a projeção dos resultados, que pode vir a ser publicada em um periódico científico futuramente, contou com uma margem de erro baixa (0,5%) justamente por se debruçar sobre estatísticas oficiais das urnas omitidas pelo CNE, mas disponibilizadas nas seções eleitorais.

— É uma margem bem baixa. Isso ocorre porque estamos literalmente observando os votos de todas essas seções de votação. Como tem uma média de cerca de 400 a 450 votos por seção, o tamanho da amostra é bem grande — disse o pesquisador à coluna. — Não é como uma pesquisa de opinião pública, quando abordamos eleitores perguntando em quem eles irão votar. Nós literalmente trabalhamos com o dado agregado de votos oficial da eleição.

No artigo publicado antes da eleição de domingo, os pesquisadores do AltaVista argumentam que a metodologia desenvolvida pelo grupo, disponibilizada publicamente, pode ser aplicada em outros países com a “integridade eleitoral comprometida”. Eles ainda classificam a Venezuela como um “excelente estudo de caso”.

Ressalvas ao estudo

Analistas independentes avaliaram a metodologia a pedido do New York Times. Dorothy Kronick, especialista em dados eleitorais venezuelanos da Universidade da Califórnia, em Berkeley, descobriu que a amostra favorecia ligeiramente as áreas de tendência da oposição, mas não o suficiente para explicar a enorme diferença entre os números declarados pelo governo e pela oposição.

— Os números são irreconciliáveis — disse Kronick ao New York Times. — Um deles está errado.

Adam Berinsky, especialista em metodologia de pesquisa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), afirmou ao Times que a abordagem dos pesquisadores parecia razoável. Ele sugere, ainda, que os desafios que os pesquisadores enfrentaram para coletar os dados podem indicar uma subestimação ainda maior do apoio da oposição.

O Times, no entanto, aponta possíveis incertezas sobre os dados. A primeira delas é o alinhamento dos pesquisadores venezuelanos à oposição, embora não tenham ocupado cargos políticos e a metodologia tenha sido feita em colaboração com acadêmicos independentes no Brasil e nos EUA.

Além disso, o jornal americano afirma — mesmo indicando ser improvável — que a amostra pode não ser representativa de alguma forma não identificada pelos acadêmicos, e as seções às quais eles não tiveram acesso às atas fossem significativamente diferentes das que obtiveram.

Outro aspecto levantado foi o desafio de traçar comparações históricas em um país com histórico de problemas eleitorais e sem dados retroativos confiáveis. Por outro lado, a migração de 7,7 milhões de venezuelanos nos últimos anos dificulta estimativas demográficas precisas.

Mais recente Próxima Quem é o assassino russo que foi libertado na troca de prisioneiros e é considerado a prioridade de Putin?

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY

Mais do Globo

Tricolor paulista reclama de decisão de Paulo Cesar Zanovelli em origem do gol de Kauã Elias, o primeiro da vitória carioca por 2 a 0

São Paulo pode conseguir anulação de jogo contra Fluminense? O que a lei diz? Veja perguntas e respostas

Com envelhecimento mais veloz da população, efeitos das mudanças de 2019 se esgotarão já em 2027

Nova reforma da Previdência se tornou mais urgente

Internações de bebês bateram recorde no ano passado e continuam em alta neste ano

Doenças respiratórias são efeito nefasto das mudanças climáticas

A falta de compreensão sobre a razão por que o oceano é importante para nossa vida atrasa a busca por soluções

A conservação ambiental também é azul

É importante procurar saber o que o candidato em quem você pretende votar fará a respeito dos idosos

É preciso dar atenção à política do idoso

As políticas públicas precisam funcionar, e a prosperidade obedecer a alguns princípios éticos

Riqueza fascina nas redes e na política

Pedia-se tolerância religiosa, passaram a perseguir as religiões afro-brasileiras

A militância mudou de mãos

Uma cidade fica bonita com o Cristo Redentor olhando gigantesco lá de cima, mas ela é feita desses detalhes tão pequenos de nós todos, como o tombamento da bossa nova

Veja o horóscopo do dia 9/9 para os signos de Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes

Horóscopo de hoje: veja previsão para seu signo no dia 9/9

Atualmente, 58% do território nacional é afetado pela seca

Governo deve responder a Dino, do STF, sobre medidas para combater queimadas