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Por , Em The New York Times

O assassinato ocorreu em plena luz do dia em um parque no centro de Berlim, capital da Alemanha. O atirador russo pedalava em uma bicicleta antes de atirar na cabeça de um ex-combatente separatista da Chechênia, região da Rússia que buscava independência, enquanto crianças e seus pais observavam.

O responsável pelo crime, ocorrido em 2019, Vadim Krasikov, foi condenado à prisão perpétua na Alemanha. Posteriormente foi descrito como um “patriota” pelo presidente russo, Vladimir Putin. Nesta quinta-feira, foi um dos libertos como parte da maior troca de prisioneiros entre Rússia e países do Ocidente desde a Guerra Fria.

No total, 16 pessoas presas pelo regime russo foram libertadas, entre americanos, alemães e dissidentes políticos russos. Outras 10, entre elas Krasikov, puderam retornar à Rússia. O assassino, de pouco mais de 50 anos, foi uma peça fundamental do acordo multifacetado, já que o próprio Putin indicou que era ele quem o Kremlin queria.

Em entrevista à televisão em fevereiro deste ano, Putin sugeriu que os serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Rússia estavam em contato em relação a Evan Gershkovich – jornalista americano do Wall Street Journal (WSJ) preso pelo governo russo – e que um acordo era possível se os “parceiros tomassem medidas recíprocas".

Putin não mencionou o nome de Krasikov na ocasião, mas ficou claro de quem ele estava falando quando disse que "uma pessoa, devido a sentimentos patrióticos, eliminou um bandido em uma das capitais europeias", acrescentando que os eventos estavam ligados a questões no Cáucaso.

O homem morto a tiros por Krasikov era Zelimkhan Khangoshvili, de 40 anos, um checheno da Geórgia que comandou uma milícia durante as guerras separatistas na região. Khangoshvili havia se mudado para a Alemanha com sua família após várias tentativas fracassadas de assassinato contra ele na Geórgia.

O juiz alemão do caso sugeriu que a ordem de assassinato em Berlim poderia ter vindo do próprio Putin, uma afirmação que a Rússia rejeitou à época, ainda que o país tenha aprovado uma lei em 2006 que permite a execução extrajudicial no exterior de pessoas consideradas “extremistas ou terroristas”.

Depois de perseguir e atirar em Khangoshvili no Parque Tiergarten em plena luz do dia, Krasikov jogou sua bicicleta, sua pistola Glock e uma bolsa contendo seu disfarce no rio Spree, segundo o tribunal. As testemunhas chamaram a polícia, que o prendeu nas proximidades. Os investigadores encontraram suas impressões digitais em alguns dos itens recuperados pelos mergulhadores da polícia.

Krasikov negou o assassinato, sem nunca se afastar de sua história de que era um mero turista chamado Vadim Sokolov, nome que consta em seu passaporte russo. Esse tipo de lealdade é muito valorizada por Putin, ele próprio sendo um ex-agente da KGB e que já esteve em Berlim. Portanto, na troca de prisioneiros desta quinta-feira, houve também um elemento de resgate de um colega de profissão.

A identidade real de Krasikov foi finalmente estabelecida por meio de fotografias que mostravam suas tatuagens características. Ao detalhar o caso, os promotores alemães indicaram que Krasikov trabalhou para o Serviço Federal de Segurança - a agência de inteligência interna da Rússia que sucedeu a KGB - em um departamento secreto que realiza assassinatos e outras operações clandestinas fora do país.

Depois que Krasikov foi condenado à prisão perpétua, a Alemanha, irritada com a falta de cooperação russa no caso e com as repetidas negações de envolvimento oficial, expulsou dois diplomatas russos.

Zurab Khangoshvilli, irmão do homem assassinado, disse em uma entrevista que há muito tempo acompanha as tentativas da Rússia de libertar Krasikov. Ele – que vive na Alemanha, mas diz que sua família teve o asilo negado no país – chamou o caso de "negócios como sempre" para os serviços de segurança russos.

— Eles enviam pessoas para qualquer lugar para matar, depois pegam pessoas inocentes para trocar e isso funciona para eles — disse. Manter o Krasikov na prisão quebraria o padrão, continuou. Ainda assim, na época da entrevista, afirmou não se opor à troca caso ela “fizesse com que pessoas inocentes fossem libertadas". — Ficarei feliz — declarou.

A possibilidade de uma troca por Krasikov surgiu recentemente no caso de Aleksei Navalny, o então principal opositor russo, que morreu repentinamente em uma prisão do país em fevereiro deste ano. Após o falecimento, seus associados disseram que haviam conversas em andamento para trocar Navalny e alguns prisioneiros americanos que estavam sob o regime russo por Krasikov.

Nesta quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que a cooperação de Olaf Sholz, o chanceler alemão, ao concordar em libertar Krasikov, foi um elemento crucial nas negociações diplomáticas para a nova troca.

A Rússia já havia dito repetidamente que nenhum tipo de acordo para a libertação do jornalista americano Gershkovich seria possível até que ele fosse condenado. Os julgamentos de espionagem na Rússia geralmente levam meses, mas o dele foi extremamente rápido, terminando em um mês. O julgamento de Alsu Kurmasheva, uma editora russo-americana da Radio Free Europe/Radio Liberty, que estava em situação semelhante, terminou de forma igualmente rápida.

Ivan Pavlov, um advogado russo especializado em espionagem e outros casos do tipo antes de fugir do país, disse que a rapidez com que o caso do jornalista do WSJ foi concluído – com apenas duas audiências no tribunal e nenhuma defesa aparente – sugere que algum tipo de solução já estava em andamento.

— O fato de todos eles quererem um procedimento rápido significa que todos eles sabiam de alguma coisa, mesmo que não pudessem dizer isso publicamente — afirma Pavlov. Os casos de espionagem são julgados em segredo, o que significa que nenhum detalhe foi divulgado, e os advogados foram impedidos de fazer comentários.

Gershkovich foi condenado no último dia 19 a 16 anos de prisão pelo que foi amplamente considerado como acusações de espionagem fabricadas. No mesmo dia, Kurmasheva foi condenada a seis anos e meio de prisão após ser considerada culpada de divulgar "informações falsas" e de não se registrar como agente estrangeira.

A troca desta quinta-feira também trouxe a libertação de Paul Whelan, um ex-fuzileiro naval americano que recebeu uma sentença de 16 anos por acusações de espionagem, decisão que os EUA chamaram igualmente de motivação política. Ele foi preso em um hotel de Moscou em dezembro de 2018.

O histórico de trocas de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente data de mais de 60 anos atrás, no auge da Guerra Fria, embora aquelas envolvendo um grande número de pessoas encarceradas sejam raras. Uma delas, em 1985, envolveu 29 pessoas, incluindo 23 do Ocidente. A mais recente libertação em grupo havia sido em julho de 2010, quando os EUA soltaram 10 russos que haviam sido presos recentemente, enquanto Moscou libertou quatro pessoas.

Essa última troca, que ocorreu na pista do Aeroporto Internacional de Viena, capital da Áustria, incluiu Anna Chapman, uma socialite de Manhattan condenada por ser uma espiã russa. Já os russos libertaram Igor Sutyagin, cientista nuclear da própria Rússia, e Sergei Skripal, ex-coronel da inteligência militar também da Rússia. Agentes secretos russos chegaram a tentar envenenar Skripal em 2018, mas não conseguiram – embora uma mulher britânica tenha morrido nesse esforço.

Agora, o novo acordo geral para a troca desta quinta-feira foi parte do que os especialistas acreditam ser o movimento mais pronunciado do Kremlin para se envolver no que chamam de "diplomacia de reféns".

— É de fato uma tomada de reféns sob a cor e o disfarce da lei. É uma prática que parece estar em ascensão nos últimos anos e, em particular, uma tática recentemente favorecida pela Rússia de Putin — diz Danielle Gilbert, professora de Ciências Políticas da Universidade Northwestern, nos EUA, que estuda o método.

A prática provavelmente só aumentará, alerta a especialista, já que os governos, em vez de grupos terroristas, estão recorrendo à tomada de reféns: — É uma ferramenta assimétrica de adversários em todo o mundo que querem obter coisas dos Estados Unidos, mas querem evitar recorrer a um conflito aberto e em grande escala com o país.

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