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Por O Globo com agências internacionais — Rússia

O repórter do Wall Street Journal Evan Gershkovich e o ex-fuzileiro naval dos EUA Paul Whelan foram liberados pela Rússia em uma troca de 24 prisioneiros mais dois menores, que estavam com os país, envolvendo sete países diferentes — Estados Unidos, Alemanha, Polônia, Eslovênia, Noruega, Rússia e Bielorrússia. O anúncio foi feito pela Presidência turca, que coordenou a ação em Ancara, em um comunicado divulgado nesta quinta-feira. O acordo foi descrito pela Turquia como "a maior operação de troca de prisioneiros dos últimos tempos".

"A Agência de Inteligência Turca (MIT) realizou a maior operação de troca de prisioneiros dos últimos tempos em Ancara, envolvendo a troca de 26 pessoas de prisões de sete países diferentes", disse a Presidência turca. A troca também foi confirmada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, que a descreveu como uma "façanha diplomática". Em uma ligação, ele agradeceu ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, por "garantir que a troca de prisioneiros ocorresse sem problemas."

Dez pessoas, incluindo dois menores, foram transferidas para a Rússia, 13 para a Alemanha e três para para os EUA, informou a Turquia, destacando que sete aviões estavam envolvidos no transporte dos prisioneiros. O acordo, segundo o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, também incluiria Alexei Navalny, opositor russo morto em fevereiro.

Libertados pela Rússia

  • Três cidadãos americanos: Evan Gershkovich, Alsu Kurmasheva e Paul Whelan
  • Seis outros prisioneiros ocidentais
  • Quatro presos políticos e defensores dos direitos humanos
  • Três russos com ligações com Navalny

Libertados pelo Ocidente

  • Oito prisioneiros, incluindo Vadim Krasikov, que assassinou um separatista checheno em Berlim

As trocas

Gershkovich foi julgado e condenado a 16 anos de prisão por suposta espionagem e estava detido desde março de 2023 em território russo. Whelan, por sua vez, foi condenado a 16 anos de prisão em 2020 depois de ser detido também por suspeita de espionagem em dezembro de 2018. A cidadã russa-americana Alsu Kurmasheva, editora que trabalha para a Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade, também foi libertada.

Em troca, Washington libertou um hacker condenado, Vladislav Klyushin, considerado culpado por uso de informações privilegiadas e hacking, e dois outros. Eslovênia, Noruega e Polônia libertaram quatro acusados de espionagem russa. Os dois menores devolvidos seriam filhos de dois espiões presos na Eslovênia, informou o jornal britânico The Guardian.

O ex-oficial do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) Vadimir Krasikova também está entre os prisioneiros incluídos na troca, informou a revista alemã Der Spiegel e a agência Reuters. De acordo com o governo alemão, Krasikova trabalhava para o Estado russo quando matou em 2019 um comandante rebelde checheno em Berlim. Ele cumpria pena perpétua.

Rico Krieger, um alemão condenado à morte na Bielorrússia por acusações de terrorismo e perdoado na última terça pelo presidente Alexander Lukashenko, também estava incluso na troca. Figura notável da oposição russa, Ilya Yashin, também foi libertado. O ativista russo foi condenado em dezembro de 2022 a oito anos de prisão por espalhar "informações falsas" sobre o Exército russo.

Vladimir Kara-Murza, acusado de espalhar informações falsas sobre as Forças Armadas russas, de participar de uma "organização indesejada", e de traição, sumiu de repente nos últimos dias, segundo seus advogados, assim como ex-fuzileiro naval. Pelo menos sete dissidentes russos foram recentemente transferidos de forma inesperada para locais desconhecidos, pontuou a Reuters.

Mais cedo, a Bloomberg havia informado sobre o acordo citando fontes não divulgadas. O Wall Street Journal informou que o jornalista e outros americanos já deixaram uma aeronave russa em um aeroporto em Ancara. Momentos antes, a Reuters informou sobre um avião do governo russo pousando na capital turcan, embora ainda não estivesse claro quem estava a bordo.

A troca de prisioneiros é uma das "maiores" e "mais extraordinárias" da História Moderna, não apenas pelo grande número de prisioneiros e pelo número de países envolvidos, mas levando em consideração principalmente as relações entre as nações do Ocidente e a Rússia — as piores desde o fim da Guerra Fria, em 1991 —, pontuou a rede BBC. O acordo teria mostrado que, apesar das tensões, as agências de inteligência dos países seguem mantendo contato. A última grande troca ocorreu em 2010, quando 14 prisioneiros foram libertados.

O envolvimento da Turquia tampouco seria novidade: apesar de ser membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Ancara mantém boas relações com Moscou, em parte devido à relação próxima entre Erdogan, e seu homólogo russo, Vladimir Putin. A rede britânica informou ainda que o chefe da MIT, Ibrahim Kalin, teria supostamente encontrado seu colega russo na capital turca semana passada.

Repercussão

Biden saudou a troca de prisioneiros que pôs fim à "agonia" dos detidos. O presidente americano confirmou que três cidadãos americanos e um residente permanente estavam entre as 16 pessoas libertadas pela Rússia, incluindo também cinco alemães e sete russos, e agradeceu o apoio de países aliados durante as "negociações difíceis e complexas". Biden também condenou o que chamou de "julgamentos de fachada" russos.

"Algumas destas mulheres e homens foram detidos injustamente durante anos. Todos suportaram sofrimento e incerteza inimagináveis. Hoje, a sua agonia acabou", disse em comunicado, acrescentando que "não vai parar de trabalhar até que todos os americanos injustamente detidos ou mantidos reféns ao redor do mundo sejam reunidos com suas famílias".

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, também falou às famílias dos libertados, afirmando que a promessa feita aos familiares dos que seguem detidos é a mesma feita aos familiares dos libertados na troca desta quinta: "Não os esqueceremos e não descansaremos até que vejam seus entes queridos novamente”. A Casa Branca chamou a troca de "histórica".

Putin agradeceu e felicitou os oito cidadãos russos libertados. Ao recebê-los no aeroporto Vnukovo, em Moscou, o presidente russo disse aos libertados que "gostaria de parabenizá-los por seu retorno à pátria", agradecendo especialmente àqueles que serviram no Exército russo por sua "lealdade ao juramento, ao dever e à pátria".

Os principais líderes do WSJ disseram que estavam "muito aliviados" com o fato do repórter Gershkovich ter sido libertado na troca. "Estamos muito aliviados e felizes por Evan e sua família", disseram o editor Almar Latour e a editora-chefe Emma Tucker em um comunicado, acrescentando: "Infelizmente, muitos jornalistas continuam presos injustamente na Rússia e em todo o mundo."

O chefe da política externa da União Europeia (UE) disse que o bloco está "aliviado pela pela libertação" dos detidos "perseguidos injustamente". A ONU, a viúva de Navalny, Yulia, e o governo do Reino Unido também expressaram alívio pela troca bem-sucedida. "Todos os jornalistas e defensores de direitos detidos apenas por fazerem seu trabalho devem ser libertados", instou o Escritório de Direitos Humanos da ONU em uma publicação no X.

O chanceler e primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, disse que a "difícil" decisão de libertar um assassino russo condenado "salvou vidas". A declaração, feita do aeroporto de Colônia, no oeste da Alemanha, onde alguns dos libertados deveriam desembarcar, destacou que a decisão não foi tomada "levianamente". A libertação de Krasikov, explicou o o porta-voz do governo, Steffen Hebestreit, foi baseada no dever de Berlim para com os cidadãos alemães e na solidariedade com os EUA.

Um tom resoluto também foi adotado pelo ex-presidente russo Dmitri Medvedev. Em uma mensagem divulgada no Telegram, o russo escreveu que "gostaria, é claro, que os traidores da Rússia apodrecessem em uma masmorra ou morressem na prisão, como aconteceu com frequência. Mas é mais útil trazer à tona nosso próprio povo que trabalhou pelo país, pela Pátria, por todos nós. E deixar que os traidores agora selecionem febrilmente novos nomes e se disfarcem ativamente sob o programa de proteção a testemunhas."

Os familiares também celebraram a libertação de seus entes queridos. A família do ex-fuzileiro comemorou sua libertação e agradeceu a dezenas de autoridades dos EUA e a imprensa por sua ajuda, enquanto denunciava a Rússia por sua "iniciativa frustrada de usar humanos como peões para extrair concessões". Os familiares do jornalista expressaram por sua vez "alívio e alegria", afirmando que "mal podemos esperar para dar a ele o maior abraço e ver seu sorriso doce e corajoso de perto."

Relembre o caso

Gershkovich foi condenado em julho em uma colônia penal de alta segurança após ser acusado de espionagem. Na época, o tribunal disse em uma declaração que o jornalista não admitiu culpa, mas disse que "a totalidade das evidências apresentadas ao tribunal foi suficiente para dar um veredito de culpado". O juiz Andrei N. Mineev, que presidiu o caso, sentenciou então o jornalista a dois anos a menos do que os promotores estavam pedindo.

Em nenhum momento durante o caso, no entanto, os promotores forneceram publicamente qualquer evidência para respaldar a acusação, e o julgamento foi realizado a portas fechadas. Os promotores russos disseram em sua acusação que Gershkovich usou “métodos conspiratórios meticulosos” para obter “informações secretas” sobre uma grande fábrica de armas russa a cerca de 120 quilômetros ao norte de Yekaterinburg.

Mas o jornalista, seu empregador e o governo americano negaram repetidamente as acusações de espionagem, dizendo que ele estava credenciado para trabalhar como correspondente estrangeiro na Rússia e estava envolvido em jornalismo, não espionagem. Eles chamaram as acusações de politicamente motivadas. Por anos, o sistema judicial russo serviu como uma ferramenta da repressão doméstica de Putin, proferindo condenações e longas sentenças em casos com claras motivações políticas.

Gershkovich é um dos vários cidadãos americanos que foram detidos na Rússia nos últimos anos, e seu caso levantou temores de que o Kremlin esteja tentando usar cidadãos americanos como moeda de troca para serem trocados por russos presos no Ocidente. (Com Bloomberg, AFP e NYT)

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