Diante do temor de uma escalada regional no Oriente Médio, vários países, incluindo o Brasil, pediram neste fim de semana que seus cidadãos saiam imediatamente do Líbano, num contexto em que o Irã e os seus aliados no país preparam uma resposta aos assassinatos de líderes do Hamas e do Hezbollah atribuídos ou reivindicados por Israel. Companhias aéreas internacionais, incluindo Delta, United, Lufthansa e Aegean Airlines, já suspenderam voos de e para Israel devido à esperada retaliação. A tensa situação na região aumentou ainda mais na madrugada deste domingo, com o grupo xiita libanês, apoiado por Teerã, lançando dezenas de foguetes Katyusha — em grande parte interceptados pelo Domo de Ferro — contra a vila de Beit Hillel, no extremo norte israelense, mas sem deixar feridos.
A Embaixada do Brasil em Beirute, em comunicado divulgado neste domingo, recomendou que os brasileiros que estiverem em território libanês deixem o Líbano “por seus próprios meios, até o retorno à normalidade”, acrescentando que viagens ao país também devem ser temporariamente evitadas.
O movimento brasileiro segue os passos dos Estados Unidos e do Reino Unido, que recomendaram a saída dos cidadãos do solo libanês no sábado. Também o fez o Ministério das Relações Exteriores francês, que instou aos franceses que deixassem o território “o mais rápido possível” e que também “abandonem temporariamente o Irã”. O Canadá, que em junho já tinha recomendado que civis canadenses saíssem do Líbano, também apelou que a população “evite viagens a Israel”. A Suécia, por sua vez, também anunciou o fechamento de sua embaixada em Beirute e pediu aos seus cidadãos que saíssem. A Turquia, Arábia Saudita e a Jordânia adotaram disposições semelhantes.
No sábado, o chanceler britânico, David Lammy, advertiu que “a tensão está elevada” na região. Ele afirmou que “a situação pode se deteriorar rapidamente” e pediu que “os cidadãos britânicos que estão lá devem sair já”. Além dele, os chefes das diplomacias americana e francesa, Antony Blinken e Stéphane Séjourné, respectivamente, pediram às partes “moderação máxima” para “evitar uma conflagração que teria consequências devastadoras para os países da região”.
Várias companhias aéreas também suspenderam temporariamente os voos para Beirute, como a Lufthansa, Air France e Transavia. A Kuwait Airways interromperá os voos a partir desta segunda-feira, e a Qatar Airways cancelou os voos noturnos para o Líbano até segunda-feira. A Lufthansa também suspendeu os voos para Tel Aviv até 8 de agosto. A companhia aérea turca Turkish Airlines cancelou neste sábado, pela segunda noite consecutiva, seus voos noturnos com destino a Teerã.
Países da região também se manifestaram sobre a temida escalada no conflito, condenando as ações de Israel. Em visita ao Irã neste domingo, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, fez um apelo para o fim da violência por parte de Israel, destacando a necessidade de paz, segurança e estabilidade na região:
— Exigimos uma ação eficaz para parar a agressão israelense em Gaza, interromper essas medidas ilegais de Israel e prevenir crimes contra o povo palestino, a fim de proteger toda a região das consequências de uma guerra regional que teria um impacto devastador para todos — disse ele.
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Por sua vez, o primeiro-ministro do Iraque, Mohammed Shia al-Sudani, disse a Blinken, em uma ligação telefônica também neste domingo, que evitar uma escalada regional está ligado à interrupção da "agressão" israelense na Faixa de Gaza, informou a mídia estatal iraquiana, citada pela agência Reuters.
Região sob tensão
As hostilidades na fronteira norte de Israel, na divisa com o Líbano, são intensas desde o início da guerra na Faixa de Gaza, há quase dez meses — o grupo xiita libanês diz agir em solidariedade ao grupo terrorista Hamas, que atacou o sul israelense em 7 de outubro, levando à ostensiva campanha de Israel na Faixa de Gaza.
Até então, as agressões quase diárias não escalaram para uma guerra maior, mas os temores de que isso possa estar perto de ocorrer aumentaram recentemente, sobretudo após os assassinatos do comandante do Hezbollah, Faud Shukr, em um ataque israelense no Líbano, e do principal líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque na capital do Irã na semana passada.
Autoridades do Estado judeu disseram que a morte de Shukr ocorreu em resposta a um ataque com foguetes dias antes que matou 12 crianças e adolescentes nas Colinas de Golã. Israel culpou o Hezbollah, que, por sua vez, negou ter realizado a ofensiva. Já no caso de Haniyeh, Israel não assumiu publicamente a responsabilidade, embora tenha informado governos ocidentais sobre os detalhes da operação, segundo autoridades do Oriente Médio.
Em resposta, o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, disse que o país tem “o dever de buscar vingança”, e o chefe do Hezbollah, Hasan Nasrallah, citou uma “resposta inevitável”. Israel, por sua vez, declarou que está “em preparação para qualquer cenário, tanto defensivo quanto ofensivo”.
Os assassinatos parecem ter interrompido qualquer perspectiva de cessar-fogo em Gaza — e puseram Israel em estado de alerta para ataques que podem vir de vários países.
Neste contexto, na última sexta-feira, o governo dos EUA, principal aliado de Israel, anunciou o reforço de seu dispositivo militar no Oriente Médio para “aumentar o apoio à defesa” israelense. Além de caças, foram enviados navios de guerra para a região com objetivo de “mitigar a possibilidade de escalada regional pelo Irã”, disse o Pentágono.
Guerra em Gaza
Apesar de ainda não se tratar da retaliação pelos assassinatos recentes, o Hezbollah lançou dezenas de foguetes em direção à cidade de Beit Hillel, no norte de Israel, na noite de sábado. O Exército israelense informou que 30 projéteis foram disparados do Líbano e que a maioria foi interceptada pelo Domo de Ferro, sem deixar feridos.
Em Holon, um subúrbio de Tel Aviv, duas pessoas foram mortas e outras duas ficaram feridas em um ataque a facadas. A polícia disse que o autor do ataque, considerado um "ataque terrorista", era um palestino da Cisjordânia ocupada e foi "neutralizado".
Já na Faixa de Gaza, a Defesa Civil informou que um bombardeio israelense matou pelo menos 30 pessoas, incluindo principalmente crianças e mulheres, em um complexo educacional que abrigava deslocados pela guerra. Os militares israelenses confirmaram o bombardeio e afirmaram que as duas escolas no complexo abrigavam um centro de comando e controle do Hamas.
O conflito atual começou após terroristas do Hamas matarem 1,2 mil pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já matou 39,5 mil pessoas em Gaza, também em sua maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde do território palestino, governado pelo Hamas desde 2007. Atualmente, autoridades israelenses estimam que 111 pessoas ainda estejam em cativeiro em Gaza, incluindo 39 que estariam mortas. (Com AFP e New York Times)
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