O braço militar do grupo terrorista palestino Hamas, as Brigadas Ezzedin al-Qassam, anunciou nesta segunda-feira que seus combatentes mataram um refém israelense e feriram duas reféns mulheres "em dois incidentes separados" na Faixa de Gaza. A declaração ocorre em meio à pressão para um cessar-fogo e ao temor crescente de que o conflito se espalhe pela região, sobretudo diante da ameaça de uma retaliação iraniana pela morte do chefe do gabinete político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã no fim de julho.
"Em dois incidentes separados, dois soldados [do Hamas] encarregados de custodiar os prisioneiros inimigos atiraram em um prisioneiro sionista, matando-o imediatamente, e feriram gravemente duas prisioneiras", explicou Abu Obeida, porta-voz do grupo, em declaração publicada no serviço de mensagens Telegram, sem identificar os reféns. O porta-voz informou ainda que o Hamas havia formado uma comissão para investigar o ocorrido em ambos os casos.
O Hamas, que governa o território palestino, capturou no sul de Israel 251 reféns em sua incursão de 7 de outubro, que desencadeou a guerra em Gaza. Desses, o Exército israelense estima que 111 reféns continuem cativos e que 39 deles tenham morrido. Na ocasião, 1.198 pessoas foram mortas, civis na maioria, segundo um balanço elaborado pela AFP com base em dados oficiais israelenses. A ofensiva de represália, lançada no mesmo dia por Israel, levou até o momento a 39.897 mortes em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do enclave, que não detalha o número de civis e combatentes mortos.
Região sob alerta
Mais de 10 meses após o início da guerra, a região vive agora um temor de uma escalada mais ampla, com a expectativa de uma retaliação iraniana após o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, jurar "vingança" ao Estado judeu pela morte de Haniyeh, em Teerã, atribuída a Israel. Haniyeh estava na nação persa para participar da posse de Pezeshkian, segundo informaram autoridades iranianas e do movimento palestino. Até o momento, Israel não assumiu nem negou o ataque.
Para além de Teerã, é esperada também a represália do grupo xiita libanês Hezbollah devido à morte do comandante Fuad Shukr, em Beirute. A ação no fim do mês passado foi confirmada pelo Exército israelense, que justificou o ataque afirmando que Shukr foi o responsável pelo bombardeio na cidade drusa de Majdal Shams, nas Colinas de Golã, que matou 12 crianças.
Diante das ameaças, os EUA, principais aliados de Israel, enviaram um submarino lançador de mísseis e um porta-aviões para o Oriente Médio na tentativa de criar um fator de dissuasão contra uma escalada do conflito. Além disso, mediadores internacionais, incluindo EUA, Catar e Egito, tentam pressionar para um avanço das conversas sobre um cessar-fogo.
No domingo, o Hamas exigiu a aplicação de um plano de trégua apresentado pelo presidente americano, Joe Biden, "em vez de realizar novas negociações" — enquanto moradores de Khan Younis, no sul do território palestino, fugiam diante da iminência de novos bombardeios israelenses. Na sexta-feira, Israel havia aceitado retomar as conversas a partir de 15 de agosto, em resposta a um pedido dos mediadores.
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No dia 31 de maio, Biden apresentou o plano, que ele atribuiu a Israel, contendo três fases. A primeira prevê uma trégua de seis semanas e a retirada israelense das zonas densamente povoadas de Gaza, bem como uma troca de reféns mantidos em território palestino por presos palestinos. Em seu comunicado deste domingo, o Hamas "pede aos mediadores que apresentem um roteiro para implementar" esse plano, "baseado na visão de Biden e nas resoluções do Conselho de Segurança da ONU".
Chegaram a circular nos bastidores que estaria sendo costurada uma resposta diplomática, na qual o Irã e o Hezbollah usariam sua represália prometida como moeda de troca para pressionar um cessar-fogo em Gaza. Apesar disso, a missão iraniana na ONU afirmou no sábado que a retaliação de Teerã "é totalmente alheia ao cessar-fogo" no enclave palestino, argumentando que o país teria direito a autodefesa, informou a CNN. Ainda assim, a missão disse esperar que seu ataque seja "cronometrado e conduzido de uma maneira que não prejudique o potencial cessar-fogo".
Tanto o Hezbollah quanto o Hamas fazem parte do "Eixo de Resistência" do Irã, que arma e financia grupos no Oriente Médio em sua guerra por procuração. Os ataques nas capitais, visto por muitos como uma provocação, elevaram o temor de uma expansão do conflito, até então restrito a Gaza e à fronteira no norte de Israel, onde soldados israelenses trocam ataques diariamente contra combatentes do movimento libanês.
(Com AFP.)
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