Representantes de Israel e de mediadores internacionais abriram uma nova rodada de negociações sobre um cessar-fogo na Faixa de Gaza nesta quinta-feira, mesmo dia em que o Ministério da Saúde do enclave palestino, administrado pelo Hamas, comunicou que o número de mortos no território ultrapassou os 40 mil — provocando reação do Exército israelense, que disse ter eliminado por volta de 17 mil homens do Hamas e de outros grupos palestinos. Embora o novo encontro seja resultado de pressões de EUA, Catar e Egito pela assinatura de um acordo nas últimas semanas, a expectativa de um consenso em Doha são baixas, uma vez que o Hamas se negou a participar das novas conversas.
O cenário para a reunião é adverso. A comunidade internacional ainda guarda temores sobre uma possível ampliação do conflito em Gaza, diante de possíveis retaliações do Irã e do movimento libanês Hezbollah, pelas mortes de, Ismail Haniyeh, chefe político do Hamas, em Teerã, e Fuad Shukr, líder do Hezbollah, em Beirute. Em paralelo, dentro de Gaza, autoridades descrevem um recrudescimento dos combates, com novas operações e ordens de deslocamento afetando a população civil.
Pouco antes do início das conversas em Doha, o Ministério da Saúde do Hamas anunciou que o número de mortos no enclave palestino desde o começo da guerra havia chegado a 40.005, após o registro de 40 mortes nas últimas 24 horas. De acordo com o jornal israelense Haaretz, o número divulgado pela autoridade de saúde inclui informações repassadas por famílias de vítimas do conflito, e pode aumentar, considerando que também há registros de desaparecidos. Ainda segundo dados do Hamas, repercutidos pela publicação israelense, cerca de 70% das vítimas seriam mulheres e menores de idade.
O Exército de Israel questiona, de forma recorrente, os dados apresentados pelo Ministério da Saúde de Gaza. Em uma declaração pública, o principal porta-voz do Exército, Daniel Hagari, afirmou que uma grande parte dos mortos no território palestino seria de integrantes de grupos como o Hamas e a Jihad Islâmica.
— As nossas forças continuam lutando em Gaza (...). Eliminamos mais de 17 mil terroristas até agora — disse o porta-voz.
Em resposta a questionamentos do Haaretz, as Forças Armadas afirmaram que o número final apresentado pelo Hamas não era confiável, que os dados não fariam distinção "entre terroristas e civis" e nem detalha quantas pessoas morreram por ataques lançados por grupos palestinos, que falharam e detonaram antes de atingir o território israelense.
Rodada de negociações
Diante do cenário de incerteza, os negociadores de EUA, Catar, Egito e Israel se reúnem em Doha para discutir um possível plano de desescalada. O primeiro-ministro catari, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, estará na mesa de negociação, que deve ter também o chefe da CIA, William J. Burns, e os chefes dos serviços de inteligência israelense, David Barnea, e egípcio, Abbas Kamel.
A principal ausência será a de representantes do Hamas. O grupo anunciou, no início da semana, que não participaria das negociações, embora tenha comunicado aos mediadores que estava aberto a consultas posteriores caso Israel apresentasse uma resposta séria à sua última oferta do início de julho, de acordo com dois funcionários familiarizados com as negociações. A avaliação palestina é de que Israel não tem interesse em alcançar um acordo, e que usa as negociações para continuar a guerra.
— O Hamas acredita que a ocupação israelense está tentando ganhar tempo com mais negociações — disse Ibrahim al-Madhoun, um analista sediado em Istambul próximo ao Hamas, ouvido pelo New York Times.
Nas últimas semanas, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, endureceu a posição de seu país em vários pontos, enquanto aliados da coalizão de extrema direita continuam a insistir que Israel reocupe Gaza indefinidamente. Durante a semana, o ministro da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, ao adentrar irregularmente a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, gravou um vídeo defendendo a derrota total do Hamas. Um acordo que resulte em uma saída para o Hamas pode fragmentar a coalizão de governo de Netanyahu, tirando-o do poder. (Com NYT e AFP)
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY