O grupo terrorista Hamas rejeitou nesta terça-feira as declarações do presidente dos EUA, Joe Biden, sobre o movimento estar "se distanciando" das negociações para uma trégua em Gaza — e as classificou como uma "luz verde" para que a guerra continue. Em comunicado, o Hamas disse que as falas do americano são "enganosas" e "não refletem a verdadeira posição do movimento, que deseja alcançar um acordo de cessar-fogo".
Mais cedo nesta terça-feira, quando se preparava para deixar Chicago após discursar na abertura da Convenção Nacional Democrata, Biden afirmou que o Hamas "recuava" de um acordo e que as negociações "ainda estão em jogo", mas que "não dá para prever" o que ocorrerá. As falas foram feitas no mesmo dia em que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, desembarcou no Egito para acompanhar os esforços para a construção da trégua na guerra.
Após reunião com Blinken nesta terça, o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, pediu por um "cessar-fogo em Gaza" e advertiu sobre "uma expansão regional do conflito com consequências difíceis de imaginar". Em comunicado, ele afirmou que "chegou a hora de acabar com a guerra, recorrer à sabedoria e defender a linguagem da paz e da diplomacia". Nesta segunda, o secretário de Estado americano afirmou que esta é "talvez a última oportunidade de levar os reféns para casa".
Depois de mais de 10 meses de guerra na Faixa de Gaza, desencadeada após um ataque sem precedentes do Hamas em território israelense em 7 de outubro, quando quase 1,2 mil pessoas foram mortas e cerca de 250, sequestradas, Israel e Hamas agora trocam acusações sobre a responsabilidade pelo fracasso na última rodada de negociações indiretas para um cessar-fogo, organizadas na semana passada em Doha.
Em sua nona viagem pelo Oriente Médio desde o início do conflito, Blinken chegou a Tel Aviv no domingo para pressionar por um acordo entre as partes. No mesmo dia, ele disse que o premier israelense, Benjamin Netanyahu, garantiu seu apoio à proposta americana de um cessar-fogo em Gaza e pressionou o Hamas, que não participou das últimas negociações, a concordar. Netanyahu também prometeu, segundo o secretário de Estado, que Israel enviaria uma equipe para as negociações desta semana, mediadas por Egito e Catar.
— O que eu diria ao Hamas e à sua liderança é que, se eles realmente se importam com o povo palestino que pretendem representar de alguma forma, então dirão 'sim' a esse acordo e trabalharão em entendimentos claros sobre como implementá-lo — destacou Blinken.
Na última sexta-feira, após dois dias de conversas indiretas entre os negociadores israelenses e os países mediadores (Estados Unidos, Catar e Egito), Washington anunciou uma nova proposta de acordo, que foi rejeitada pelo Hamas. O grupo palestino acusou o governo americano de incluir "novas condições", principalmente a manutenção de tropas israelenses na fronteira de Gaza com o Egito e o "direito de veto" sobre os presos palestinos em Israel que poderiam ser trocados pelos reféns.
O Hamas se recusa a seguir negociando esses termos e exige a aplicação do plano anunciado pelo presidente americano em 31 de maio, que o grupo aceitou no início de julho. A proposta prevê uma primeira fase de seis semanas de trégua, com a retirada israelense das áreas densamente habitadas de Gaza e a libertação dos reféns. Em uma segunda fase, o acordo inclui a retirada total das tropas israelenses do enclave.
Netanyahu insiste que pretende continuar com a guerra até a destruição do Hamas, que governa Gaza desde 2007 e é considerado uma organização terrorista por Estados Unidos, Israel e União Europeia. A visão do premier vai de encontro com o que o principal porta-voz do Exército de Israel, o contra-almirante Daniel Hagari, já afirmou. Em junho, ele declarou que não é possível eliminar o grupo por meio da guerra, já que o Hamas também é uma ideologia.
— Não podemos eliminar uma ideologia. Dizer que vamos fazer o Hamas desaparecer é jogar areia nos olhos das pessoas — disse o contra-almirante à emissora israelense Canal 13. — Se não oferecermos uma alternativa, no final, teremos o Hamas no poder em Gaza.
'Senso de urgência'
As negociações continuam após o Exército de Israel anunciar, nesta terça-feira, que recuperou os cadáveres de seis reféns na Faixa de Gaza em uma operação conjunta com os serviços de inteligência. Os corpos recuperados são de Alex Dancyg, Chaim Peri, Yagev Buchshtab, Yoram Metzger e Nadav Popplewell, que já haviam sido declarados mortos nos últimos meses, e de Avraham Munder, que teve o óbito anunciado nesta terça pelo kibutz Nir Oz, onde ele morava.
Do total de sequestrados, 105 ainda estão no enclave palestino, embora 34 tenham sido declarados mortos pelo Exército de Israel. Na Faixa de Gaza, onde quase todos os 2,4 milhões de habitantes foram deslocados, os bombardeios israelenses prosseguem sem trégua. A ofensiva do Estado judeu deixou mais de 40,1 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde do território palestino. (Com AFP)
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