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Por e , Em The New York Times — Moscou

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GERADO EM: 29/08/2024 - 11:58

Ataques russos na Ucrânia: foco em Donbass e riscos em Kursk

Os ataques russos na Ucrânia revelam poder militar, mas não impedem incursão em Kursk. Putin foca no Donbass, não em Kursk. Lenta resposta russa visa desgastar Ucrânia. Riscos de conflito na usina nuclear próxima. Kremlin promete resposta à incursão.

Os ataques aéreos que a Rússia lançou contra a Ucrânia nos últimos dois dias, com centenas de mísseis e drones, forneceram evidências do poderio militar de Moscou. Apesar disso, as forças russas ainda apresentam aparente dificuldade para conseguir recuperar um pedaço relativamente pequeno do território na região de Kursk, tomada por Kiev neste mês. E, nesta terça-feira, seu Exército enfrentou tentativas das forças ucranianas de invadir a região russa de Belgorod.

A razão pela qual a Rússia não conseguiu, até agora, repelir a maior incursão estrangeira em seu país desde a Segunda Guerra Mundial parece não ser apenas uma questão de pessoal e de falta de inteligência no campo de batalha, mas também de prioridades do presidente russo, Vladimir Putin, de acordo com funcionários ocidentais e especialistas militares. Embora a ofensiva em Kursk tenha pego os russos de surpresa, o país continua determinado a capturar Pokrovsk, cidade que serve como um importante centro logístico na região de Donbass, no leste da Ucrânia, e seus líderes têm relutado em retirar as tropas dessa frente.

— Putin está centrado no Donbass — disse o general Onno Eichelsheim, chefe do Estado-Maior holandês, acrescentando que Kursk é menos importante para o mandatário russo por enquanto. — Ele não se preocupa muito com essa região neste momento.

Nas três semanas desde a invasão de Kursk, autoridades dizem que os ganhos da Rússia perto de Pokrovsk aumentaram de maneira lenta, mas consistente. À medida que as tropas russas continuam avançando na região, “qualquer enfraquecimento do ímpeto russo causado por qualquer redistribuição das tropas não é perceptível”, segundo o coronel Markus Reisner, que supervisiona o desenvolvimento de forças na principal academia de treinamento militar da Áustria e acompanha de perto a guerra na Ucrânia. Mesmo assim, Moscou começou a reagir em Kursk, deslocando milhares de suas forças e ameaçando retaliar.

— A incursão ucraniana em Kursk teve um efeito chocante sobre os russos — disse Christopher Cavoli, general do Exército dos Estados Unidos e comandante militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em declarações ao Conselho de Relações Exteriores em 15 de agosto. — Mas isso não vai persistir para sempre. Eles vão se reorganizar e reagir de acordo.

O lento início da Rússia em Kursk

Autoridades e especialistas disseram que as forças russas em Kursk não tinham nem os números nem a experiência para montar uma defesa rápida quando as tropas ucranianas atravessaram a fronteira em 6 de agosto. Serviços de inteligência fornecidos por aliados ocidentais deram à Ucrânia uma imagem mais clara da localização das tropas russas na região, ajudando-a a decidir o que poderia ser capturado sem grande resistência, afirmou Nikolai Sokov, antigo diplomata russo que agora é membro do Centro de Viena para o Desarmamento e Não-Proliferação.

Nesta terça-feira, o general Oleksandr Syrskyi, principal comandante militar de Kiev, declarou que as tropas ucranianas controlam 1.294 km² de território russo e 100 vilas. Cerca de 594 militares russos foram feitos prisioneiros. Na semana passada, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que seu país controlava mais de 1.250 km² de território russo. Esses números não puderam ser verificados de forma independente pela imprensa. Syrskyi afirmou que um dos objetivos da incursão era deslocar um número significativo de tropas da Rússia para outras áreas e que isso foi alcançado com sucesso.

Ataque ucraniano começou pouco após o amanhecer; a princípio, até mil soldados ucranianos invadiram a região de Kursk com cerca de trinta blindados, segundo Moscou — Foto: Editoria de Arte/O Globo
Ataque ucraniano começou pouco após o amanhecer; a princípio, até mil soldados ucranianos invadiram a região de Kursk com cerca de trinta blindados, segundo Moscou — Foto: Editoria de Arte/O Globo

Agora, no entanto, a Rússia parece se preparar para um confronto fronteiriço de longo prazo com a Ucrânia, de acordo com uma análise da empresa de inteligência de defesa Janes. A resposta de Moscou, concluiu a organização, tem sido “um tanto lenta, mas é metódica e minuciosa”.

A Rússia enviou helicópteros de ataque para Kursk e recentemente aumentou seus ataques de artilharia contra as tropas ucranianas na região, disse Sokov, o ex-diplomata. Na terça-feira, o Ministério da Defesa russo afirmou que 400 soldados ucranianos tinham sido mortos e que 30 peças de equipamento militar da Ucrânia foram destruídas em Kursk em 24 horas. Essa informação também não pôde ser verificada de forma independente, mas o general Syrskyi reconheceu separadamente que a Rússia direcionou até agora 30 mil soldados para a região.

Segundo o coronel Reisner, os esforços russos já “diminuíram consideravelmente” o ímpeto da Ucrânia no território. E parece que Moscou calculou que desviar recursos suficientes para repelir totalmente a incursão em uma área taticamente insignificante não seria o melhor uso de seu poder militar — especialmente porque obriga a Ucrânia a gastar seus próprios recursos para manter o território que tomou.

— Se você jogar tudo o que tem em Kursk, então estará jogando o jogo ucraniano — disse Sokov.

Os riscos de danos colaterais

Com o intenso bombardeio na Ucrânia nesta semana, a Rússia demonstrou que tem drones e mísseis de ataque mais do que suficientes para devastar as tropas ucranianas no seu território — supondo que Moscou agora tenha as informações necessárias para determinar onde elas estão. Mas Sokov disse que a Rússia pode estar atenta para não prejudicar seus próprios cidadãos numa resposta em Kursk.

Somado a isso, há também o fato de que uma usina nuclear está posicionada a cerca de 40 km dos combates. As operações no local ainda estão ativas, apesar de a construção não ter uma cúpula de proteção e, portanto, ser “extremamente frágil”, segundo o chefe da agência atômica das Nações Unidas, Rafael Grossi.

É possível que a Ucrânia esteja retendo parte de seu poder de fogo para o caso de decidir lançar um segundo ataque surpresa. Alguns especialistas militares russos alertaram Moscou contra o envio de grandes reforços para Kursk, o que poderia deixar a Rússia vulnerável em outros lugares, disse Dara Massicot, pesquisadora do Fundo Carnegie para a Paz Internacional. Segundo o coronel Reisner, os ataques aéreos russos desta semana provavelmente buscaram, em parte, desviar a atenção global do constrangimento da incursão em Kursk, embora a Rússia já tenha deixado claro que a incursão não ficará sem consequências.

— Ações hostis como essas não podem ficar sem uma resposta apropriada — disse Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, a repórteres na segunda-feira. — Haverá, definitivamente, uma resposta.

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