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Por O Globo e agências internacionais — Caracas

RESUMO

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GERADO EM: 31/08/2024 - 04:31

Crise energética na Venezuela: impactos e desafios.

A Venezuela enfrenta apagões devido a problemas estruturais no sistema elétrico desde 2009, com destaque para a dependência de uma única fonte de energia. A falta de investimento, corrupção e demanda crescente contribuem para a crise. Os apagões impactam a população, levando à perda de alimentos, danos a equipamentos e dolarização informal da economia. O governo ativa protocolos de emergência, mas a população sofre com interrupções frequentes no fornecimento de energia.

O dia não havia sequer amanhecido quando o clima de déjà vu tomou conta da Venezuela na última sexta-feira: semáforos apagados, bairros inteiros no escuro e queda nos sistemas de telecomunicação. Se em 2019 — quando cinco apagões foram registrados em menos de cinco meses, um deles com duração de uma semana — o governo do presidente Nicolás Maduro já havia atribuído a culpa a um suposto "ataque eletromagnético" dos Estados Unidos, com ajuda da oposição, para desestabilizar o país, a tônica se repetiu agora. Mas os apagões na Venezuela não são um fenômeno novo.

O colapso na rede elétrica, que segundo o jornal El País atingiu 80% do território venezuelano e todos os 24 estados, acontece na semana em que a contestada reeleição do chavista completou um mês, somando-se à crise político-social que levou o ditador a denunciar, sem provas, que o apagão teria sido fruto de uma "sabotagem do sistema e tentativa de golpe de Estado".

— É uma nova sabotagem elétrica — reiterou o ministro das Comunicações, Freddy Ñáñez, na sexta. —Vivemos isso em 2019, sabemos o que nos custou em 2019, sabemos o que nos custou recuperar o sistema elétrico nacional desde então e hoje estamos enfrentando isso com os protocolos anti-golpe.

Por que há tantos apagões?

Desde 2009, o país enfrenta uma grave crise enérgica e, em estados como Zulia e Táchira, as interrupções no fornecimento de energia já se tornaram parte do cotidiano. Embora no passado a rede venezuelana tenha sido uma das mais robustas da América Latina, diversos fatores contribuíram para uma sequência de falhas no seu sistema elétrico.

Entre 60% a 70% da eletricidade consumida na Venezuela hoje vem do estado de Bolívar, por onde passa o rio Caroní, considerado um dos melhores lugares do planeta para a geração de energia hidrelétrica. Quando foi inaugurada, em 1986, a Central Hidroelétrica Simón Bolívar, localizada na região, era a maior do mundo — hoje, ela é a quinta.

No entanto, muitos especialistas consideram que a enorme dependência do país em uma única fonte pode ser também o seu calcanhar de Aquiles, sobretudo em um contexto de crise climática. Em 2009, um longo período de seca provocado pelo El Niño levou os reservatórios da central a atingirem níveis baixíssimos, impondo um sistema de racionamento que durou quase um ano, quando as chuvas retomaram. Em abril deste ano, o país teve apenas 10% do seu nível de precipitação esperado para o período. Além do impacto energético, o clima quente e seco resultou em um recorde de incêndios florestais no mês.

Outro motivo para os apagões, segundo analistas ouvidos pelo jornal argentino La Nación, é a falta de manutenção e investimento em uma infraestrutura que antes foi pioneira na região. Para as fontes do diário, que corroboram uma versão repetida pela oposição, anos de corrupção e gestão ineficiente levaram ao colapso do sistema energético. Em 2007, ainda sob o governo do falecido Hugo Chávez, o governo promoveu uma reforma no modelo de gestão das empresas, que passou a ser centralizado no Estado.

Há, ainda, um déficit na energia que é produzida no país, dono das maiores reservas de petróleo do mundo. No ápice econômico que a Venezuela viveu entre 2004 e 2008, graças aos planos sociais implementados governo Chávez durante o boom das commodities, milhões de venezuelanos conseguiram comprar, muitos pela primeira vez, eletrodomésticos importados a preços baixos. Com isso, a demanda por energia dobrou em uma década, o que tornou a Venezuela um dos maiores consumidores de eletricidade per capita da América Latina, aponta a BBC a partir de dados oficias do período.

O déficit na produção começou em 2009 e perdura até hoje na rede elétrica do país. Soma-se a isso o fato de que, considerando as devidas variações na demanda, uma parte do sistema enérgico venezuelano está ocioso, um número que pode chegar a até 50%, de acordo com especialistas que já prestaram consultoria para o governo em conversa com a BBC.

Impacto na população

— Isso me afeta como a todos os comerciantes, estou preocupado com a mercadoria — confessa Ronald Herrera, 39 anos, que abriu sua loja em Caracas na sexta-feira com a esperança de vender mercadorias que precisam ser refrigeradas, como frango, carne e queijo.

Há dois meses, uma falha na área deixou a empresa de Herrera sem eletricidade por três dias. Ele perdeu tudo o que tinha em suas geladeiras, cerca de US$ 400 em mercadorias. Há apenas um dia, uma de suas geladeiras foi danificada por um pico de energia: ele gastou mais US$ 230 para consertá-la, um valor que atinge suas escassas margens de lucro.

Embora os apagões em Caracas sejam menos frequentes do que no interior da Venezuela, a capital vem sofrendo interrupções intermitentes. Em cidades como Maracaibo, capital do estado de Zulia, e Ciudad Guayana, em Bolívar, o dia transcorreu com a normalidade de um apagão que já se tornou crônico: lojas abertas funcionado a base de geradores elétricos.

— Pensei que fosse apenas mais um apagão como os que temos aqui todos os dias — riu Elena Jiménez, uma dona de casa de 66 anos de Maracaibo, em entrevista à AFP na sexta.

— Isso me lembra o apagão de anos atrás, que foi muito forte — disse Nairelis Ramirez, moradora de Los Puertos de Altagracia, vizinha de Maracaibo. — Estamos esperando para ver o que acontece.

A crise de 2019 coincidiu com um dos piores momentos da crise econômica no país. As pessoas perderam alimentos e ficaram sem comunicação devido à falta de baterias em seus telefones e ao colapso da rede telefônica. Em Zulia — um dos estados mais quentes do país, com temperaturas médias de 38 a 40 graus Celsius —, muitas pessoas enfrentaram longas filas para conseguir um copo de água fria ou dormiram em praças públicas para aproveitar a brisa noturna.

O apagão de 2019 também deu início à dolarização de fato no país. Sem a moeda local disponível em dinheiro e sem eletricidade para pagar com cartões, a população começou a pagar com dólares que tinha armazenado em casa, sem voltar atrás, apesar de serem transações proibidas.

Efeito no transporte público

Em uma praça no centro de Caracas, Leticia Quiroga, 30 anos, esperava por instruções: ela é funcionária pública e não sabia se devia ir ao escritório ou não.

— Como uma pessoa que está mentalmente acostumada a certas coisas... eu me preparei para ir trabalhar — disse ela à AFP durante o apagão.

Em resposta à situação, o governo venezuelano ativou uma operação especial em Caracas para manter os serviços de transporte de superfície funcionando, já que o metrô da capital foi paralisado pela falta de eletricidade, segundo o jornal El Observador. Protocolos de emergência também foram ativados em diferentes regiões do país, embora esses esforços pareçam ser insuficientes para mitigar os efeitos do apagão.

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