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Por , Em The New York Times — Pokrovsk, Ucrânia

RESUMO

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GERADO EM: 02/09/2024 - 04:31

Evacuação em Pokrovsk: Riscos e Descontentamento

Moradores de Pokrovsk, Ucrânia, evacuam cidade temendo devastação por ataques russos. Incursão ucraniana na Rússia não surtiu efeito esperado, resultando em evacuação massiva e riscos iminentes. População reduz drasticamente com medo do avanço russo, enquanto autoridades e voluntários auxiliam deslocados. Descontentamento surge por estratégias militares questionáveis.

As placas no trem anunciavam, sem rodeios, sua missão: “Retirada”. Com abraços e despedidas emocionadas, famílias carregavam crianças e idosos a bordo de vagões na estação central de trem da cidade de Pokrovsk, no Leste da Ucrânia.

Com o Exército russo à sua porta e se aproximando rapidamente, Pokrovsk é uma cidade que se curva à realidade. A polícia circula com alto-falantes anunciando instruções para abandonar a cidade. Funcionários municipais despacharam livros de biblioteca, carteiras escolares e estátuas de parques e praças.

Até o final da tarde, com um toque de recolher em vigor, as ruas estavam assustadoramente desertas na semana passada, exceto por veículos militares circulando.

O ataque surpresa do Exército ucraniano à Rússia no mês passado foi uma das apostas mais ousadas de Kiev na guerra, trazendo rápidos ganhos em território e prisioneiros capturados. Mas a centenas de quilômetros de distância, dentro da Ucrânia, a retirada total de Pokrovsk é uma evidência dos riscos da operação.

Moradores embarcam num trem em Pokrovsk, na Ucrânia: tropas russas estão a cerca de 10 quilômetros da cidade — Foto: Nicole Tung/NYT
Moradores embarcam num trem em Pokrovsk, na Ucrânia: tropas russas estão a cerca de 10 quilômetros da cidade — Foto: Nicole Tung/NYT

A Ucrânia calculava que sua incursão além da fronteira forçaria a Rússia a desviar tropas para se defender lá. Em vez disso, Moscou continuou com seu avanço implacável no Leste da Ucrânia, e Pokrovsk, um importante centro logístico e de trânsito, está no caminho da destruição.

— Não aconteceu como o planejado — disse Mykyta Pohorelyi, de 19 anos, que ia embora com sua mãe e irmã, sobre a movimentação do Exército ucraniano na Rússia.

O presidente Volodymyr Zelensky e seu principal comandante militar admitiram que a ofensiva na Rússia, iniciada em 6 de agosto, ficou aquém do objetivo de forçar Moscou a retirar forças da região do Donbass, na Ucrânia.

Uma mãe desolada abraça o filho pouco antes de deixar sua cidade, Pokrovsk, que está sob ameaça de ser destruída pelos russos — Foto: Nicole Tung/NYT
Uma mãe desolada abraça o filho pouco antes de deixar sua cidade, Pokrovsk, que está sob ameaça de ser destruída pelos russos — Foto: Nicole Tung/NYT

Já é tarde demais para garantir que Pokrovsk será protegida do bombardeio de artilharia, admitiu o administrador militar da cidade.

Nos rápidos combates em campos e aldeias próximas, o Exército ucraniano recuou em alguns lugares mais de um quilômetro por dia, disseram soldados que lutavam na área. Os russos estão agora a dez quilômetros da cidade.

O presidente da Rússia, Vladimir V. Putin, “ainda pensa em como manter os territórios ocupados, e não em como proteger seu povo”, declarou Zelensky sobre a resposta de Moscou à incursão da Ucrânia.

O comandante militar da Ucrânia, general Oleksandr Syrsky, disse que a Rússia deslocou 30 mil soldados para se defender da Operação Kursk, mas não da ofensiva no Donbass, a região de minas de carvão e campos de girassol que tem sido um dos principais alvos russos em sua invasão de dois anos e meio.

Militares ucranianos ajudam uma senhora a embarcar para ser evacuada de trem de Pokrovsk: fuga em massa — Foto: Nicole Tung/NYT
Militares ucranianos ajudam uma senhora a embarcar para ser evacuada de trem de Pokrovsk: fuga em massa — Foto: Nicole Tung/NYT

As forças russas desde abril passaram por cinco linhas defensivas a leste de Pokrovsk, disse Serhiy Dobryak, o administrador militar da cidade. Com apenas mais duas linhas restantes, a incursão na Rússia e o possível desvio que poderia causar eram essencialmente uma última esperança.

A cidade por enquanto não corre risco de captura iminente, disse ele, mas as autoridades esperam um bombardeio de artilharia sustentado que provavelmente deixará Pokrovsk em ruínas. Esse tem sido o destino de outras cidades ucranianas como Bakhmut e Avdiivka, que a Rússia bombardeou até os destroços antes de forçar a Ucrânia a recuar.

— Eles vão trazer a artilharia para perto e destruir a cidade. Isso é certo — afirmou Dobryak.

Com essa perspectiva iminente, a população da cidade caiu de cerca de 62 mil habitantes no início de agosto para 36 mil hoje. Sinais de pessoas fugindo estão em toda parte.

Na estação de trem, os vagões rangiam e tilintavam. Os freios foram acionados com um chiado, sinalizando uma partida.

Uma mãe observou a filha se despedindo com lágrimas do marido, que ficaria para continuar trabalhando em uma mina de carvão.

— Não chore. Deixe-me chorar por você — disse ela.

Uma senhora aguarda a partida do trem que a levará embora de Pokrovsk: habitantes sabem que não haverá retorno — Foto: Nicole Tung/NYT
Uma senhora aguarda a partida do trem que a levará embora de Pokrovsk: habitantes sabem que não haverá retorno — Foto: Nicole Tung/NYT

As mercearias fecharam. As calçadas estão cheias de armações de cama, televisões de tela plana e sacolas plásticas cheias de roupas. Um toque de recolher está em vigor, exceto por quatro horas no final da manhã e da tarde.

— O inimigo está cada vez mais perto — lamentou Ihor Kopytsya, dono de uma papelaria que tentava embarcar o último lote de seus cadernos, canetas e mochilas antes do bombardeio começar.

Questionado sobre a aposta militar de que um ataque à Rússia retardaria o avanço em direção a sua cidade, ele a classificou como uma tentativa digna:

— Eles esperavam que funcionasse, mas não funcionou — lastimou ele.

Volodymyr Porosyuk, 20, fugia com sua avó, Zoya Porosyuk, 88.

— Quando os expulsarmos, voltaremos. Se houver algo para o qual voltar — frisou Porosyuk.

Em uma escola reaproveitada para registrar pessoas deslocadas internamente, voluntários do grupo de ajuda Light of Donbas entregavam animais de pelúcia às crianças enquanto embarcavam nos ônibus para aliviar a viagem.

— As pessoas percebem que terão de sair para sempre — disse Alyona Fyodorova, voluntária.

Nina Mashtikhina, 71, que se mudava para viver com sua filha no Oeste da Ucrânia, disse que o Exército fez o melhor que pôde, mesmo que a cidade não seja salva.

— Agradeço a eles. São bons rapazes — disse ela.

Mas outros moradores questionaram por que tropas foram enviadas para a Rússia, quando poderiam ter servido melhor protegendo sua cidade nas trincheiras a leste de Pokrovsk.

— Eles deveriam ter defendido aqui — criticou Iryna Sekreteva, de 39 anos, que ia embora com o filho de 15 anos, Bohdan.

Em uma curta viagem fora da cidade, um comandante de artilharia ucraniano assistia a um vídeo transmitido por drones de reconhecimento. Mostrava soldados russos invadindo quintais da vila de Mykhailivka, envoltos pela fumaça de incêndios.

Os combates ocorreram em uma série de pequenos movimentos. O Exército russo depende em grande parte de unidades de infantaria. Os soldados correm e se escondem em árvores ou casas abandonadas perto das posições ucranianas, depois atacam. O Exército ucraniano relatou 58 desses confrontos perto de Pokrovsk somente na quinta-feira.

Nas proximidades, em um campo, soldados suados e cobertos de poeira da 15ª Brigada da Guarda Nacional Ucraniana disseram que miravam uma posição russa perto de uma mina de carvão que apenas cinco dias antes havia sido uma fortaleza ucraniana.

— Nós simplesmente não temos mais gente — reconheceu o comandante, que pediu para ser identificado por seu apelido, Doker, de acordo com o protocolo militar ucraniano.

Familiares se despedem dos que deixam para sempre a cidade ucraniana de Pokrovsk — Foto: Nicole Tung/NYT
Familiares se despedem dos que deixam para sempre a cidade ucraniana de Pokrovsk — Foto: Nicole Tung/NYT

A resposta lenta da Rússia à incursão de Kursk pode refletir desorganização em seu Exército, disse Johan Norberg, analista militar da Agência de Pesquisa de Defesa Sueca, ou alternativamente pode ser uma troca estratégica — capturando mais território na Ucrânia enquanto deixa seu próprio território pouco guardado.

— Eles tinham impulso no Donbass, então por que não continuar com isso? A Rússia pode facilmente trocar território por tempo. A incursão teve um custo para Putin interna e externamente, sinalizando uma incapacidade de defender a fronteira — explicou Norberg, sobre o possível cálculo russo, com a intenção de voltar para Kursk mais tarde.

No entanto, nada reduziu o ímpeto do avanço russo, forçando um triste ajuste de contas para aqueles que agora deixam Pokrovsk.

Vitalia Trusov, de 37 anos, economista da empresa nacional de ferrovias, sentou-se em uma cadeira na calçada abraçando sua filha, observando tudo o que estava em sua casa sendo carregado num caminhão de mudança.

— Estamos indo embora para sempre. Construiremos uma nova vida em algum lugar tranquilo — ressaltou Trusov.

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