A ordem de prisão contra Edmundo González, candidato da oposição venezuelana, causou preocupação no governo brasileiro, que vê agora um cenário muito mais difícil para uma solução negociada com o ditador Nicolás Maduro, que foi declarado vencedor do pleito presidencial de julho pelo Conselho Nacional Eleitoral, de maioria chavista, mesmo sem apresentar as atas eleitorais.
O pedido para a ordem de prisão foi feito pelo Ministério Público com base em cinco acusações, depois que ele ignorou três intimações para depor. Para o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, a decisão dificulta a tentativa de acordo que vem sendo negociada por Brasil e Colômbia.
— Torna tudo ainda mais difícil — disse Amorim ao GLOBO.
O diplomata, no entanto, afasta a possibilidade de o Brasil adotar uma postura mais contundente contra Maduro:
— Eu sou do tempo da bossa nova. A gente nunca sobe o tom.
Está previsto um pronunciamento do Brasil ainda nesta terça-feira. Ficar em silêncio, comentou sob condição de anonimato uma das fontes consultadas, “não é uma opção, já que somos observadores do Acordo de Barbados (selado em novembro do ano passado entre Maduro e um setor da oposição)”. A ideia é redigir um texto que “fique na dimensão política” da situação, “sem entrar no mérito da decisão judicial”.
Em momentos em que o governo brasileiro defende a atuação do Supremo Tribunal federal (STF) em sua disputa com o magnata Elon Musk, opinar sobre uma decisão do Judiciário de outro país é vista como “perigosa”. O comunicado deverá, portanto, centrar-se na sinalização política negativa que representa ordenar a prisão de um candidato presidencial no atual contexto político venezuelano, no qual grande parte da comunidade internacional não reconheceu o resultado da eleição de 28 de julho divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e ratificado pelo Tribunal Supremo de Justiça do país.
Há ainda a possibilidade de sair uma nota conjunta, de Brasil e Colômbia. O teor do comunicado está em discussãoe todos os passos serão decididos "no mais alto nível", ou seja, Lula baterá o martelo sobre o tom a ser usado, se o pronunciamento for apenas do lado brasileiro.
Diante da escalada da crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve se reunir, nesta terca-feira, com o chanceler Mauro Vieira. São esperados contatos entre autoridades do Brasil e colombianas com representantes de Maduro e da oposição. Brasil e Colômbia tentam mediar um acordo entre Maduro e oposição.
Na semana passada, Lula reiterou que não reconhece a vitória de Maduro nem da oposição.
— A oposição fala que ganhou, ele fala que ganhou, mas não tem prova. Estamos exigindo a prova. Ele tem direito de não gostar. Eu falei que era importante convocar novas eleições — disse Lula em entrevista à Rádio MaisPB.
(Colaborou Janaína Figueiredo, de Buenos Aires)
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