Os governos dos Estados Unidos, da Espanha e da República Tcheca solicitaram à Venezuela, nesta segunda-feira, informações sobre seus cidadãos detidos na Venezuela sob a acusação de estarem vinculados a uma suposta conspiração contra o presidente Nicolás Maduro para "desestabilizar" o país. A prisão foi anunciada no sábado pelo ministro do Interior e número dois do chavismo, Diosdado Cabello, em meio à crise instaurada após a contestada reeleição de Maduro em 28 de julho. Dois espanhóis, três cidadãos americanos e um tcheco, que estavam no país com visto de turismo, foram alvos da operação.
Em seu programa semanal nesta segunda, Maduro disse que os suspeitos confessaram o crime e ironizou a suposta tentativa de atentado contra ele:
— O governo dos EUA não esperava que tivéssemos a capacidade de capturar o chefe de operações do plano terrorista contra a Venezuela — afirmou Maduro, garantindo que os detidos “estão condenados e confessaram”. — Esses turistas terroristas, em seu tempo livre, iam plantar bombas, eles vêm para um novo tipo de turismo, turismo de aventura, como poderia ser chamado, turismo explosivo — acrescentou.
Em comunicado mais cedo, o Ministério das Relações Exteriores espanhol informou que "segue solicitando às autoridades venezuelanas informações oficiais e verificadas sobre a detenção de dois espanhóis, assim como uma clarificação das acusações que lhes são imputadas", acrescendo que está em contato com a Chancelaria venezuelana e "exercerá a proteção diplomática e consular de seus nacionais".
A República Tcheca também solicitou "informações detalhadas sobre o caso e contato consular" através da sua sede diplomática em Bogotá, responsável pelas relações com diversos país latino-americanos.
"A embaixada tcheca em Bogotá enviou uma nota ao Ministério das Relações Exteriores da Venezuela em relação à detenção do cidadão tcheco", disse em um comunicado a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Mariana Wernerova. "Nossos diplomatas estão em contato com colegas dos Estados Unidos e do Ministério das Relações Exteriores espanhol", precisou a nota do governo tcheco.
Washington, que rompeu relações com Caracas em 2019, também negou categoricamente qualquer relação com a conspiração denunciada por Cabello.
— Estamos buscando informações adicionais e monitorando a situação. Não tenho mais comentários a fazer neste momento — disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, na segunda-feira.
Os presos foram identificados como José María Basoa e Andrés Martínez Adasme, da Espanha, o tcheco Jan Darmovrzal e os americanos Estrella David, Aaron Barren Logan e Wilbert Josep Castañeda, este último um militar acusado de liderar a conspiração. Segundo o ministro venezuelano, mais de 400 fuzis destinados a "atos terroristas" foram apreendidos.
No domingo, a Espanha negou "veementemente qualquer insinuação de estar implicada em uma operação de desestabilização política na Venezuela" e desmentiu que os dois espanhóis detidos façam parte da agência de espionagem espanhola CNI ou de "outro organismo estatal".
As prisões ocorreram em meio ao aumento das tensões entre a Venezuela e os governos dos Estados Unidos e da Espanha devido às controversas eleições de 28 de julho. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou a vitória do chavista por 51%, mas não mostrou os boletins das urnas que comprovariam o resultado alegando ter sido vítima de um ataque hacker. A oposição, liderada pela ex-deputada María Corina Machado, publicou em um site mais de 80% das supostas atas as quais tiveram acesso que atestariam, por meio de estimativas feitas por acadêmicos de diferentes países, a eleição do candidato opositor Edmundo González Urrutia por 67%.
Na semana passada, o governo americano impôs sanções a 16 funcionários ligados ao chavismo, entre ministros do Supremo a comandantes de forças de segurança, por sua suposta colaboração em prol da "fraude" no processo eleitoral. Logo após o pleito, Washington reconheceu González como vencedor legítimo.
A tensão entre Madri e Caracas, por outro lado, escalou nos últimos dias após a chegada de González Urrutia à Espanha no dia 8 de setembro para pedir asilo, após passar um mês na clandestinidade na Venezuela, onde é alvo de um mandado de prisão pela Justiça, aparelhada pelo chavismo.
Em resposta, a Venezuela chamou sua embaixadora em Madri para consultas e convocou o embaixador espanhol em Caracas para protestar contra os questionamentos levantados sobre a reeleição de Maduro.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, recebeu González Urrutia no palácio de La Moncloa, a residência oficial, na quinta-feira passada. O governo do país europeu tem sido cauteloso em considerar a vitória do opositor, acompanhando a postura da União Europeia, embora membros do Gabinete de Sánchez já tenham manifestado opiniões duras contra o regime chavista.
No entanto, na esteira da ida de González ao país, o Parlamento espanhol aprovou uma medida, sem caráter vinculativo, pedindo ao governo que o reconheça como vencedor do pleito. Em resposta, o presidente do Parlamento venezolano, Jorge Rodríguez, propôs a ruptura de relações diplomáticas, consulares e comerciais.
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