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Número de brasileiros na fronteira entre México e Estados Unidos aumentou mais de 28 vezes em três meses

Agentes da fronteira pararam 8.745 brasileiros só em abril, segundo o Jornal Nacional, contra 300 em janeiro; imigrantes fogem, segundo especialistas, da crise econômica e da pandemia
Uma família brasileira atravessa barragem em direção ao muro da fronteira em Yuma, Arizona Foto: ARIANA DREHSLER/NYT / NYT
Uma família brasileira atravessa barragem em direção ao muro da fronteira em Yuma, Arizona Foto: ARIANA DREHSLER/NYT / NYT

Na corrida sem precedentes de imigrantes à fronteira entre Estados Unidos e México desde o início do governo de Joe Biden, chama a atenção o aumento do número de brasileiros que tentaram entrar irregularmente no país: entre janeiro e abril, a quantidade de casos registrados cresceu mais de 28 vezes. Números revelados pelo jornal The New York Times e pelo Jornal Nacional indicam que agentes da fronteira pararam 8.745 brasileiros apenas em abril, muito mais que os 300 registrados em janeiro — e que fogem, segundo especialistas, da crise econômica e da pandemia.

Atraídas pela reversão das medidas anti-imigração do governo anterior, só em abril, 178.622 pessoas foram encontradas pela Patrulha de Fronteira, o maior número em 20 anos. E o perfil dos imigrantes também mudou: hoje eles vêm de mais de 160 países, da América do Sul — o maior número é de equatorianos, seguidos de brasileiros e venezuelanos  — à Ásia.

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A maioria ainda continua vindo da América Central, fugindo da violência de gangues e desastres naturais, e do México. Mas, de acordo com dados oficiais divulgados na semana passada, 30% de todas as famílias encontradas ao longo da fronteira em abril vieram de outros países. Para efeito de comparação, em abril de 2019, esse número era de 7,5%.

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Ainda que as causas da mudança de perfil dos imigrantes não estejam claras, entrevistas com famílias que chegam à fronteira indicam que o aumento do desemprego provocado pela pandemia, somado às políticas mais acolhedoras do governo Biden, vêm causando essa mudança.

Felipe Alexandre, advogado especialista em imigração e fundador da AG Immigration, afirma que, nas últimas semanas, tem recebido um maior número de brasileiros que chegaram ilegalmente ao país. Até então, ele atendia, em sua maioria, hispânicos e chineses.

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— A devastação econômica no mundo inteiro, em termos de saúde e economia, com certeza tem servido para explicar esse aumento de imigrantes na fronteira. — explica ao GLOBO. — No caso dos brasileiros, a pandemia é a razão principal. A frustração faz com que muitos se arrisquem.

Heidi Cerneka, advogada do Las Americas, um centro de defesa de imigrantes em El Paso, no Texas, também confirma o aumento de brasileiros que tentam entrar de maneira ilegal no país.

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— São muitos nas últimas semanas. Acredito que muitos estejam fugindo do país pela questão econômica, mas também pela demora na vacinação e a pouca segurança em relação ao futuro. O caos gerado pela falta de vacina, além do fechamento e abertura contínua dos negócios, tem feito com que os brasileiros busquem lugares mais seguros, como os EUA.

Rota via Tijuana

Um deles é Rodrigo Neto, comerciante de 55 anos que viu sua oficina fechar as portas em São Paulo. Para chegar a Tucson, ele voou de São Paulo para a Cidade do México e depois para Tijuana, onde conheceu um motorista que trabalhava para uma rede de contrabando de pessoas. Com um grupo de imigrantes, foi levado para uma estrada em Algodones, no México, do outro lado da fronteira com o Arizona. De lá, levaram apenas 10 minutos para chegar à County Road 8, onde encontraram um agente da Patrulha da Fronteira.

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— O que ouvimos é que o novo presidente está facilitando a entrada e há demanda por mão de obra — disse ao New York Times. —  Eu não poderia deixar passar esta oportunidade.

O número de brasileiros que buscam essa rota teve um aumento exponencial nas últimas semanas. De acordo com Jody Hice, congressista republicano da Geórgia, a cada semana, entre 1.200 e 1.500 estão voando para Tijuana.

— São famílias inteiras, em média de quatro pessoas, vindas principalmente do interior do Brasil. Dentre aqueles que chegam, a primeira preocupação é conseguir seguro de saúde para a família. A segunda, a vacina, e depois escola para os filhos e moradia — diz Liliane Costa, diretora-executiva do Brazilian American Center.