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O que é a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador, que lidera os protestos no país

Maior organização do Equador, e uma das mais antigas e importantes do continente, Conaie ajudou a derrubar diversos presidentes na década de 1990
Liderados pela Conaie, manifestantes invadem a Assembleia Nacional, em Quito Foto: CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS
Liderados pela Conaie, manifestantes invadem a Assembleia Nacional, em Quito Foto: CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS

Fundada ainda na década de 1980, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) é a maior organização indígena do país, e uma das mais antigas e importantes do continente. À época, os indígenas equatorianos — que representavam então cerca de 25% da população (2,6 milhões de pessoas) — conseguiram avançar e articular um discurso próprio, respaldado por boa parte do descontentamento dos setores populares do país, e lançaram, ainda em 1994 um manifesto político. Para efeito de comparação, organizações indígenas de outros países como México, Peru ou Bolívia, se mobilizaram anos mais tarde.

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Um dos marcos da luta da organização foi  a insurreição indígena de 1990, contra o então presidente Rodrigo Borja Cevallos,  quando se estima que  mais de um milhão de pessoas  participaram das manifestações lideradas pela Conaie. Sua força ficou ainda mais evidente ao longo da década  e  no início dos anos 2000, quando o país sofreu o retrocesso econômico mais severo da América Latina e a Conaie teve um protagonismo social importante, ajudando a derrubar diversos presidentes, como Abdalá Bucaram, em 1997; Jamil Mahuad em 2000; e Lucio Gutierrez, em 2005.

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Como grande parte deles, 91,6%, está concentrada na área rural, a luta por uma divisão mais igualitária da terra era, e continua sendo, a principal pauta da Conaie. Ao longo dos anos, no entanto, o movimento se aliou tanto a governos de esquerda, como de direita, de acordo com seus interesses, afirma Elaine Tavares, coordenadora do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da Universidade Federal de Santa Catarina, que estuda a causa indígena no continente há mais de uma década.

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—  Eles podem viver em paz nos seus povoados e até negociar com governos de todas as cores, direita, centro ou esquerda, mas, se qualquer um deles resolve atacar a terra, a água, o equilíbrio do viver, a reação é imediata  — explica. — São chamados de “capachos da direita” quando se aliam aos da direita, e são chamados de “comunistas” quando se aliam aos da esquerda. Mas, eles mesmos, não se vinculam a esses conceitos.

No censo de 2001, o número de pessoas que se identificam como indígenas caiu drasticamente no país, passando a 840 mil pessoas. Agora, os indígenas tomaram novamente a frente dos protestos, desta vez mobilizados contra as medidas neoliberais do governo de Lenín Moreno. Na segunda-feira, Jaime Vargas, presidente da Conaie, prometeu levar mais de 20 mil indígenas a Quito,  em uma entrevista coletiva de imprensa acompanhado por líderes da Frente dos Trabalhadores Unidos (FUT) e de outras organizações sindicais.

— A Conaie perdeu parte de sua força justamente durante o governo de Correa, mas agora vemos uma reposição das bases da organização, com novos dirigentes, que conseguiram adesão de movimentos políticos urbanos tradicionais — explica Milton Reyes,  professor do Instituto de Altos Estudos Nacionais do Equador. — Eles simbolicamente retomaram a liderança, mas não há ainda uma agenda comum e organizada.