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ONU envia emissário especial para mediar solução para a crise na Bolívia

Francês Jean Arnault é ex-chefe da missão da ONU na Colômbia; Putin diz que país está 'à beira do caos'
Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, durante encontro na Turquia Foto: BULENT KILIC / AFP/31-10-2019
Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, durante encontro na Turquia Foto: BULENT KILIC / AFP/31-10-2019

BRASÍLIA - O secretário-geral das Nações Unidas , António Guterres , anunciou nesta quinta-feira o envio de emissário especial para a Bolívia , com objetivo de “encontrar uma resolução pacífica à crise, incluindo através de eleições transparentes, inclusivas e confiáveis”. O enviado especial é o francês Jean Arnault , ex-chefe da missão da ONU na Colômbia , que partiu para o país já nesta quinta-feira. Arnault também atuou como representante especial do secretário para Geórgia, Afeganistão, Burundi e Guatemala.

Em entrevista coletiva, o porta-voz Stéphane Dujarric disse que Guterres está “profundamente preocupado com os acontecimentos na Bolívia”.

— Ele reitera seu apelo para todos os bolivianos se absterem de violência — disse. — O secretário-geral pediu para Jean Arnault atuar como seu enviado pessoal, com todos os atores bolivianos, e fornecer o apoio das Nações Unidas em esforços para encontrar uma resolução pacífica.

Leia mais: Presidente autoproclamada da Bolívia nomeia Gabinete com políticos radicais de Santa Cruz

A crise política boliviana começou em outubro, quando Evo Morales , primeiro presidente indígena do país, foi declarado vitorioso nas eleições para um controverso quarto mandato, em meio a acusações de fraude eleitoral. Observadores da Organização dos Estados Americanos ( OEA ) fizeram uma auditoria e sugeriram a anulação dos resultados no domingo, citando irregularidades.

Após anunciar novas eleições seguindo a recomendação da OEA, Morales renunciou, sob pressão da polícia e das Forças Armadas, e aceitou uma oferta de asilo no México . O ex-presidente se diz “vítima de um golpe”.

Sua saída não acabou com manifestações e confrontos, desta vez entre apoiadores do ex-presidente e a polícia. Quase quatro semanas de violência já deixaram 10 mortos e mais de 400 feridos, segundo números oficiais.

Posição desencontrada russa

Nesta quinta-feira, o presidente da Rússia , Vladimir Putin , afirmou que a Bolívia está à beira do caos e que há um vácuo de poder, durante uma entrevista em Brasília, após a cúpula do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Embora Putin tenha afirmado na segunda-feira que Morales foi “vítima de um golpe de Estado”, a Rússia reconheceu hoje Jeanine Áñez como presidente interina até novas eleições.

Áñez assumiu na terça-feira sem votação no Congresso e anunciou na noite de quarta seus primeiros 11 ministros, com apoio da polícia e das Forças Armadas. Entre os nomeados para o seu Gabinete , estão senadores do próprio partido, Unidade Democrata, e da ala radical de Santa Cruz.

— Está claro que ela (Jeanine Áñez) será considerada dirigente da Bolívia até a eleição de um novo presidente — declarou nesta quinta-feira o vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov, segundo a agência de notícias pública RIA Novosti.

— Não se trata de reconhecer o que aconteceu na Bolívia como processo legítimo — afirmou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, que relembrou que Moscou havia classificado a situação como “golpe de Estado”.

Segundo a porta-voz, “nada mudou na posição da Rússia”, e é preciso um “diálogo pacífico” para restabelecer o funcionamento das instituições públicas.