Mundo Coronavírus

Países batem recordes de casos e Europa volta a exigir uso de máscaras contra a Covid

Reino Unido e França registram maiores números de casos com avanço da Ômicron, enquanto Espanha, Itália e Grécia retomam imposição das proteções faciais; Equador torna obrigatória a vacinação a partir de 5 anos
Enfereira atende paciente de Covid-19 em hospital de Clamart, região próxima de Paris, em meio a avanço da Ômicron na França Foto: GEOFFROY VAN DER HASSELT / AFP
Enfereira atende paciente de Covid-19 em hospital de Clamart, região próxima de Paris, em meio a avanço da Ômicron na França Foto: GEOFFROY VAN DER HASSELT / AFP

LONDRES e PARIS — O avanço da variante Ômicron do coronavírus tem causado recordes de contágios em países da Europa. Os casos com mais destaque são França, com 91.608 infecções registradas nas últimas 24h, e o Reino Unido, que registrou cerca de 120 mil testes positivos para a doença , um aumento de 50% em relação à semana passada que fez com que o número de internações aumentasse. Diante da deterioração da situação sanitária, países como Itália, Espanha e Grécia voltaram a impor o uso obrigatório de máscaras.

Entenda: Variante Ômicron está se espalhando 'na velocidade de um raio', alerta primeiro-ministro da França

Os números na França superaram o recorde anterior de 7 de novembro de 2020, quando o país registrou 86.852 casos.

No Reino Unido, que pode registrar um milhão de casos da Ômicron até o fim do mês segundo seu secretário de Saúde, o primeiro-ministro Boris Johnson vai fazer um apelo à população que se vacine contra a Covid-19 “seja com a primeira, a segunda ou a dose de reforço”. O discurso será veiculado nesta sexta-feira e não contará com nenhuma nova medida de contenção à pandemia.

O Gabinete Nacional de Estatísticas (ONS, em inglês), afirmou nesta sexta-feira, que cerca de 1 em cada 10 londrinos provavelmente estaria infectado pelo coronavírus no domingo passado, estimativas que mostram que a propagação da doença acelerou.

Já na Catalunha, na Espanha, país que retomou o uso obrigatório de máscaras ao ar livre nesta sexta-feira, um toque de recolher noturno foi aprovado judicialmente na quinta-feira, medida emergencial que vai proibir os residentes de saírem de casa entre 1h e 6h. A ideia é tentar limitar, durante a época do Natal, as interações sociais onde as máscaras não são usadas, disse o líder regional Fernando López Miras, que também proibiu o funcionamento de boates e limitou o tamanho dos jantares a 10 pessoas para locais fechados e 12 em terraços. Enquanto isso, a capital, Madri se comprometeu a distribuir 12 milhões de testes rápidos de Covid-19 no Natal como forma de combater a variante Ômicron.

Assim como a Espanha, a Itália vai impor o uso de máscaras ao ar livre, conforme anunciou, na quinta-feira, a autoridade sanitária do país, Roberto Speranza, embora não tenha dado uma data para que a medida entre em vigor.

Além disso, o uso de máscara de proteção máxima, a PFF2, será obrigatório aos italianos em cinemas, teatros, eventos esportivos ou em transportes públicos, ônibus, aviões ou barcos. Também estão proibidos, até o fim de janeiro, festas, abertura de boates e eventos que possam reunir muitas pessoas, mesmo ao ar livre.

Fraude: França identifica 110 mil passaportes sanitários falsos em circulação no país

O governo italiano também decidiu reduzir, a partir de 1º de fevereiro, o prazo de validade do passe sanitário de nove para seis meses, e reduzir o prazo de recebimento da dose de reforço, de cinco para quatro meses. Ao todo, 75% da população estão imunizados com as duas doses da vacina e 29% já receberam o reforço, o que não impediu os novos casos de aumentarem.

De acordo com relatório publicado na quinta-feira pelo Instituto Superior de Saúde (ISS), a Ômicron representa 28% dos casos na Itália, nação que já registrou  até o momento 5,52 milhões de casos e 136 mil mortes pela doença.

Assim como os italianos, os gregos também serão obrigados a retomar o uso da máscara em locais fechados e abertos a partir desta sexta-feira, uma medida que, a princípio, vai se manter em vigor até 2 de janeiro.

— Há muito movimento durante as festas de fim de ano, e as multidões se reúnem a céu aberto — disse o ministro da Saúde, Thanos Plevris.

O medo da Ômicron também está afetando os planos de fim de ano de milhares de pessoas que pretendiam passar as festas com a família. Segundo o New York Times, houve mais de dois mil cancelamentos de voos em todo o mundo por causa da nova cepa, mostrou o site Flight Aware.

Fora da Europa

Para além do continente europeu, outros países têm visto a pandemia avançar. Nos Estados Unidos, onde a variante Ômicron é dominante — responde por 73,2% das infecções — 265.770 novos casos foram registrados na quinta-feira. Mais de 109 milhões de pessoas devem viajar de avião, trem ou carro entre 23 de dezembro e 2 de janeiro no país, número 34% maior que no ano passado.

Os deslocamentos, que não foram impedidos pelas autoridades, são acompanhados por um aparente aumento no ritmo de vacinação, especialmente das doses de reforço — o país aplicou 1,3 milhão destas doses nas últimas 24 horas.

Uma das medidas que visam impedir a propagação do vírus será a redução da tradicional celebração do Ano Novo na Times Square, em Nova York , de acordo com o prefeito Bill de Blasio. Normalmente, cerca de 58 mil pessoas se reúnem para testemunhar a queda de bola que anuncia a chegada do novo ano, mas na próxima semana a capacidade será reduzida para 15 mil participantes, que deverão usar máscaras e provar que foram vacinados.

Recentemente, o presidente Joe Biden anunciou a distribuição de 500 milhões de testes rápidos nos EUA , medida que para especialistas, apesar de bem-vinda, é “pouco” quando se pensa no combate à nova cepa.

— Infelizmente, já é tarde e será uma pequena gota num balde em comparação com a tsunami de casos no nosso horizonte — afirmou a professora de Epidemiologia Anne Rimoin, da Universidade da Califórnia (Ucla).

Na América do Sul, o Equador tornou obrigatória a vacinação contra a Covid-19 para a sua população a partir dos 5 anos de idade por causa da variante Ômicron, o primeiro país do mundo a anunciar a medida — Indonésia, Micronésia, Turcomenistão e Tadjiquistão exigem vacinação para adultos, e a Alemanha e Áustria exigirão no próximo ano. Ao todo, 69% dos 17,7 milhões de habitantes têm o esquema vacinal completo.

Covid-19: Rainha Elizabeth cancela almoço de Natal com família após aumento de casos no Reino Unido

Um comunicado do governo explicou, no entanto, que um grupo específico poderá ficar fora da obrigação.

"A imunização não será obrigatória para pessoas que têm uma condição médica ou incompatibilidade. Nesse caso, deve ser apresentada uma certificação", disse o texto.

O Chile, com mais de 86% da população totalmente vacinada, anunciou que vai aplicar uma quarta dose do imunizante a partir de fevereiro, a começar pelos grupos mais vulneráveis.

Cautela

Embora a Ômicron se espalhe em alta velocidade, alguns estudos feitos esta semana em África do Sul, Escócia e Inglaterra dão um sopro de esperança quanto à gravidade dos casos. Segundo uma análise da agência britânica de segurança sanitária, publicada na quinta-feira, os doentes infectados com esta variante têm entre 50% e 70% menos riscos de hospitalizações do que com a Delta.

Os cientistas, no entanto, pedem cautela. Apesar de a infecção ser menos virulenta, sua propagação mais rápida pode afetar mais pessoas, o que faria com que, em termos absolutos, o número de hospitalizados e mortos aumentasse em um ritmo que provocaria o colapso dos sistemas de saúde.