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Partido de Merkel sofre grande derrota em eleições regionais em meio a escândalos políticos e vacinação lenta

Verdes e socia-democratas saem na frente da CDU nos pleitos em Baden-Württemberg e na Renânia-Palatinado, que são vistos como termômetros para as eleições parlamentares de setembro, que escolherão sucessor da chanceler
 Angela Merkel anuncia prorrogação de lockdown na Alemanha pela terceira vez Foto: POOL / REUTERS
Angela Merkel anuncia prorrogação de lockdown na Alemanha pela terceira vez Foto: POOL / REUTERS

BERLIM — O partido da chanceler Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU) sofreu duas importantes derrotas em eleições regionais neste domingo , o primeiro teste antes do pleito nacional que escolherá o novo líder do país em setembro. O resultado mostra que os escândalos recentes e a lentidão na campanha de vacinação podem prejudicar os planos da centro-direita de continuar no poder ao fim da era Merkel.

Segundo projeções do canal ZDF, a CDU teve o pior desempenho de sua história nos estados de Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado, conquistando respectivamente 23,4% e 26,9% dos votos. Em comparação com 2016, o partido teve uma queda de 3,6 e 4,9 pontos percentuais.

Em Baden-Württemberg, o popular premier estadual Winfried Kretschmann, único ambientalista a comandar uma região alemã, terá um terceiro mandato após o Partido Verde conquistar 31,4% dos votos, em seu melhor resultado regional já registrado. Na vizinha Renânia-Palatinado, onde a CDU liderava as pesquisas de opinião até o mês passado, o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, venceu com 35,5%, reelegendo Malu Dreyer.

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Com desempenho inferior ao de anos anteriores, refletindo sua queda de popularidade no âmbito nacional, a sigla de extrema direita Aliança para a Alemanha apareceu como a quinta força em Baden-Württemberg, com 11,5% dos votos, atrás dos verdes, da CDU, do SPD e do Partido Democrático Liberal (FDP). Na Renânia-Palatinado teve 10,5% dos votos, atrás do SPD, da CDU e do Partido Verde.

Os pleitos inauguram o "superano eleitoral" alemão, marcado por seis eleições regionais antes da população ir às urnas em 26 de setembro para escolher o novo Parlamento nacional e, consequentemente, o sucessor de Merkel. À frente da principal economia europeia desde 2005, a chanceler anunciou há três anos que não buscaria novamente a reeleição, lançando uma corrida interna para sua sucessão.

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Escândalos e vacinação

O resultado deste domingo é particularmente ruim para os planos de Armin Laschet, eleito em janeiro para a Presidência da CDU, tornando-se o favorito para representar a centro-direita em seis meses. O partido viu sua popularidade cair recentemente, passando de 40% em junho do ano passado, quando a Alemanha era globalmente elogiada por sua resposta à pandemia, para cerca de 33% neste mês.

A frustração com o governo de coalizão que a CDU mantém com o SPD foi acentuada por um escândalo na compra de materiais de proteção contra o coronavírus. O deputado Nikolas Loebel, da CDU, renunciou ao seu assento na Bundestag após vir à tona que sua empresa havia recebido uma comissão de 250 mil euros para negociar a compra de máscaras. Acusações similares levaram Georg Nuesslein, deputado da União Social-Cristã (CSU), partido-irmão da CDU na Baviera, a ser investigado por corrupção.

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Outra fonte de frustração com o governo é a lenta campanha de vacinação contra a Covid-19, resultado de um estoque baixo de doses e da burocracia excessiva para agendar a vacinação. Até o momento, 7,4% da população alemã recebeu ao menos uma dose da vacina. Em comparação, 36% dos britânicos e 21% dos americanos já foram inoculados.

Para críticos, Berlim também não conseguiu cumprir sua promessa de aumentar exponencialmente a testagem rápida para o vírus, cujas novas cepas são responsáveis por uma agravamento da pandemia em grande parte do continente europeu. Na sexta, o diretor do Instituto de Doenças Infecciosas Robert Koch, Lothar Wieler, disse que há "sinais claros" que a terceira onda da pandemia já está em curso na Alemanha.

— O resultado da eleição é uma derrota amarga para a CDU, não há como amenizar — disse Christoph Ploß, líder da CDU em Hamburgo. — O escândalo das máscaras destruiu a fé [no partido] e o povo alemão esperava uma gestão melhor da pandemia [...]. Os governos regionais devem finalmente fornecer testes suficientes e acelerar a vacinação.

Futuro incerto

Com o resultado deste domingo, o Partido Verde tem a opção de continuar a governar Baden-Württemberg em coalizão com a CDU ou de buscar uma nova aliança com o SPD e com o FDP — mesmo grupo que, sob o comando dos social-democratas, continuará a governar a Renânia-Palatinado. É esta constelação partidária que a CDU teme obter votos suficientes em setembro para pô-la na oposição.

— Foi um super início para o ano eleitoral — disse Robert Habeck, co-líder do Partido Verde, que chegou ao poder em Baden-Württemberg há dez anos, pondo fim a seis décadas de domínio da CDU impulsionado pelas críticas à energia nuclear nos meses seguintes ao desastre em Fukushima, no Japão.

Já Olaf Scholz, candidato social-democrata para chanceler, disse à emissora ARD que os resultados mostram que um governo nacional sem a CDU pode ser possível em setembro. A derrota em Baden-Württemberg, em particular, pode dificultar a candidatura de Laschet para sucessor de Merkel, impulsionando Markus Söder, líder da CSU, como o nome da centro-direita. Nunca na história alemã um candidato do partido foi eleito chanceler.

O resultado final do pleito deste domingo pode demorar a ser conhecido, diante do aumento do voto pelo correio em meio à pandemia de Covid-19: cerca de 60% dos eleitores da Renânia-Palatinado optaram pelo voto postal. Segundo a Deutsche Welle, os números de Baden-Württemberg ainda não são conhecidos, mas ouve um aumento significativo da modalidade nos últimos anos.